De pouco em pouco, o Ibovespa sustenta cautelosa recuperação, conseguindo deixar as mínimas do ano, da semana passada, então aos 96 mil pontos (no intradia, 95 mil), para recuperar e manter a linha dos 98 mil nas últimas duas sessões, chegando hoje a novo degrau, aos 99 mil. A referência da B3 emendou o quinto ganho seguido, uma sequência sem quebras não vista desde meados de maio, embora o ritmo se mantenha contido tanto no giro financeiro como no grau de recuperação, de pouco menos de 3 mil pontos em relação ao mais recente fechamento negativo, de 14 de julho.
Leia também
Hoje, o índice teve alta de 0,76%, aos 99.033,17 pontos, entre mínima de 97.087,62 e máxima de 99.056,79, do fim da tarde, saindo de abertura aos 98.286,46. O giro ficou em R$ 23,1 bilhões. Na semana, o Ibovespa acumula alta de 2,57%, zerando as perdas do mês (agora, +0,50%) – no ano, a referência ainda cede 5,52%. O fechamento de hoje foi o de maior nível desde 8 de julho, então aos 100.288,94 pontos.
Na ponta do Ibovespa, destaque nesta quinta-feira para Rede D’Or (+7,80%), à frente de Sul América (+6,79%) e Banco Pan (+6,53%), com Petz (-3,84%), 3R Petroleum (-3,76%) e Klabin (-3,20%) na ponta oposta. Entre as blue chips, o dia foi positivo para os grandes bancos (Bradesco PN +1,35%, Itaú PN +0,81%), e também para Vale ON (+1,75%), em recuperação parcial após a correção do dia anterior, quando prevaleceu a decepção com os dados de produção e venda trimestrais. Com petróleo em queda na sessão, Petrobras ON e PN cederam hoje, respectivamente, 1,10% e 0,51%, antes da divulgação do relatório sobre produção e vendas da empresa, nesta noite.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Apesar da falta de maior dinamismo das commodities na sessão, “no começo da tarde o Ibovespa passou a acompanhar a recuperação vista no S&P 500, que estava mais fraco pela manhã, negativo, com o Nasdaq já então no positivo”, diz Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos.
“O mais relevante do dia foi a elevação de 0,5 ponto, e não de 0,25 ponto porcentual conforme era esperado, na taxa de juros de referência do Banco Central Europeu. Nos Estados Unidos, os dados sobre pedidos iniciais de auxílio-desemprego, acima do esperado para a semana, foram recebidos bem, já que, com o ritmo muito forte de inflação, números mais fracos sobre o mercado de trabalho americano contribuem para segurar um pouco a preocupação quanto ao ritmo de elevação dos juros por lá”, acrescenta.
No velho continente, “a decisão do BCE foi correta, embora o mercado esperasse uma alta menor, de 0,25 ponto porcentual. Diante do ambiente geopolítico caótico, do risco de uma desaceleração mais forte no fim do ano e a tensão envolvendo o fornecimento de gás russo, a alta hoje de 0,50 ponto, que era prevista pelo mercado para setembro, acelera a normalização de juros na zona do euro”, aponta Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. Ele acrescenta que o aumento de 0,50, antecipado para a reunião desta quinta-feira, pode virar “base” para o encontro seguinte, em setembro, com parte dos agentes podendo já se posicionar para uma alta maior, de 0,75 ponto porcentual.
“O BCE está bem atrasado em relação a outros BCs, com inflação bem alta também (na zona do euro)”, diz. “É bom apertar agora quando a atividade ainda não dá sinais tão claros de desaceleração e o mercado de trabalho está aquecido, do que no final do ano, quando a situação pode ficar bem mais complicada no inverno europeu”, observa o estrategista.
Publicidade
Para Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, o movimento de recuperação do euro frente ao dólar após a decisão do BCE reflete a ponderação de que, como a economia do bloco da moeda única é muito sensível – e já vem sendo prejudicada – nos efeitos da guerra no leste europeu, “talvez a potência de política monetária por lá seria limitada”, na medida em que uma “política monetária mais agressiva viria a ter resposta relevante em uma atividade econômica que já se encontra em ritmo muito moderado”.
Ela acrescenta que as dúvidas em relação ao fornecimento de gás podem prejudicar em especial o motor industrial do bloco, a Alemanha. “O BCE deu essa resposta à inflação, que está em 8,6% ao ano (na zona do euro), e agora a gente precisa entender os próximos passos”, a serem sinalizados pela instituição.
“As taxas negativas são agora apenas história na Europa. O BCE surpreendeu o mercado com um aumento de 50 pontos-base. O BCE qualificou seu movimento maior do que o esperado ao moderar a orientação futura, para a reunião de setembro, enfatizando que esse movimento foi antecipado – e não um passo incremental, (no sentido) ‘hawkishness'”, observa em nota Andrew Mulliner, head de Global Aggregate Strategies na Janus Henderson.