- A presença do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, na COP27 sinalizou ao mundo que o Brasil deve seguir comprometidos com pautas ambientais
- A nova postura pode atrair os investidores para os produtos e empresas alinhadas a agenda de ESG
- No entanto, os efeitos desse compromisso com as pautas ambientais devem ser reduzidos caso o Brasil vivencie uma piora no campo fiscal
Os investidores com objetivos alinhados às pautas socioambientais não tiveram muitos motivos para “comemorar“ ao olhar para os resultados dos fundos de ESG (sigla para governança ambiental, social e corporativa, em inglês). Segundo dados do TradeMap, apenas 22% do total desses produtos apresentaram ganhos de até 27,4% acima do Ibovespa, principal índice da B3, no acumulado deste ano. O restante amargou desvalorizações que chegam a 40%.
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No entanto, a mudança de governo com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, traz expectativas para o mercado de que a nova gestão pública terá mais responsabilidade com as pautas ambientais, com repercussão no desempenho desses investimentos. A percepção foi reforçada pela presença do presidente eleito na Cúpula do Clima (COP-27) da Organização das Nações (ONU), no mês passado.
O evento foi sediado em Sharm el-Sheik, no Egito, ao longo do mês de novembro. Durante o seu discurso, Lula reafirmou o seu compromisso com as pautas ambientais e prometeu zerar o desmatamento na Amazônia até 2030. Veja os detalhes nesta reportagem. Com a nova postura, os ativos brasileiros alinhados ao tema ESG podem ficar atrativos para os investidores diante dos desdobramentos das políticas ambientais adotadas no próximo governo.
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Enquanto esse cenário não se concretiza, a situação não parece passar otimismo para quem segue de olho nesta classe de ativos. De acordo com os dados do TradeMap, 77,8% dos fundos de ESG apresentaram performance negativa em comparação ao Ibovespa. O restante conseguiu oferecer ao investidor um prêmio de até 27,4% no acumulado de 2022.
Os dados fazem parte de um levantamento do TradeMap, a pedido do E-Investidor, que acompanhou a performance de 95 fundos negociados no mercado brasileiro com performance desde o início do ano. Isso quer dizer que os produtos lançados após o dia 1º de janeiro de 2022 não foram considerados na amostra.
Neste intervalo de tempo, os fundos que conseguiram apresentar performances positivas foram aqueles que estavam posicionados em empresas alinhadas às pautas ESG tanto no Brasil quanto no exterior. “Empresas do setor elétrico que trabalham com fontes de matriz energética renovável ou que estão trabalhando com novas tecnologias, empresas como a Nex Energy”, afirma Felipe Paletta, sócio-fundador e analista da Monett.
O que esperar daqui para frente?
O discurso de Lula na COP27 mostrou ao mundo que o Brasil deve seguir comprometido com as pautas ambientais. Na ocasião, o presidente eleito fez a promessa de zerar o desmatamento da Amazônia até 2030. Embora o novo governo não tenha tomado posse, a participação de Lula no evento sinalizou ao mundo que a agenda ambiental deve permanecer entre as prioridades a partir de 2023.
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A postura traz de volta ao Brasil o protagonismo nas discussões ambientais durante os eventos internacionais. Com a mudança, Marcella Ungaretti, head de ESG do Research da XP, acredita que as empresas devem ficar mais atentas a essa agenda com objetivo de reduzir os riscos e também de capturar as oportunidades no mercado. “As companhias vencedoras serão aquelas cujo comportamento em relação às questões ambientais, sociais e de governança são colocadas em primeiro plano, o que deve se refletir também no melhor desempenho dos produtos focados no tema”, afirma.
No entanto, o efeito das políticas públicas ambientais pode enfrentar alguns problemas até chegar na Bolsa de Valores. A piora do cenário fiscal, o que poderia causar na continuidade de altas dos juros, pode impedir que a agenda ESG avance com “força” no mercado acionário. “Quando vemos juros mais altos, temos mais discussões no ponto teórico do que na prática, porque mudar o processo produtivo custa. Pode trazer um retorno no longo prazo, mas pesa no curto prazo”, diz Paletta.
Onde investir?
Os analistas avaliam que alguns segmentos da bolsa devem se destacar nos próximos anos em virtude do protagonismo do Brasil nas discussões sobre políticas ambientais, mas principalmente pela sua relevância para o mercado. No entanto, isso não significa que o investidor deve destinar os recursos para qualquer empresa ou produto financeiro classificado como ESG.
A sigla, embora remeta a ideia de sustentabilidade, abrange outras temáticas, como as boas práticas de governança corporativa e políticas de impacto social. Por esse motivo, Gabriel Tussato, especialista em investimentos da Ágora, recomenda ao investidor analisar a temática que o fundo, índice ou a companhia está posicionado antes de investir. Trata-se de uma medida para entender se aquela estratégia segue adequada aos objetivos financeiros e critérios para compor portfólio do investidor.
“Há fundos com um filtro negativo e vai excluir, por exemplo, as empresas de tabaco. Outras buscas empresas com uma estratégia mais ativa nas agendas de ESG, enquanto há produtos mais focados em pautas ambientais”, afirma. A visão “generalista” costuma ser presente em gestoras internacionais na hora de comprar títulos emitidos pelo governo. Segundo Tussato, a escolha se baseia no comprometimento do estado com os critérios ESG, responsáveis por selecionar os ativos para compor seus portfólios.
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Já Ungaretti enxerga oportunidades em ativos alinhados ao compromisso de redução da emissão de CO2, em mudanças de matriz energética para fontes mais sustentáveis e também para o mercado de crédito de carbono (ativo financeiro ambiental e representativo para redução de uma tonelada de dióxido de carbono). “O mercado de crédito de carbono como uma importante solução alternativa para combate às mudanças climáticas, com destaque para o potencial do Brasil de liderar o tema, o que exigirá atenção tanto dos investidores quanto das empresas”, diz.