- Os dados são de um levantamento realizado pelo TradeMap, a pedido do E-Investidor, e analisou a performance das ações do índice Small Caps do fim de outubro até esta segunda-feira (2)
- O resultado mostrou que a maioria dos papéis foi penalizado com perdas acima de 40% durante o período em virtude das incertezas econômicas no mercado doméstico
- Por outro lado, as ações de algumas empresas, entre elas as exportadoras, conseguiram apresentar um desempenho diferente das demais
As incertezas econômicas em virtude da formação do novo governo trouxeram volatilidade para a Bolsa de Valores brasileira. Desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a nomeação de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda, os investidores seguem atentos às decisões da nova gestão que, até o momento, fez poucos acenos ao mercado. Nesta reportagem, veja os projetos e medidas que o investidor deve monitorar.
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E nesse contexto de instabilidade, a maioria das ações de small caps amarga perdas de até 50% no período de novembro no ano passado até agora. No entanto, há um grupo de companhias que parece ter conseguido permanecer resiliente ao mau humor do mercado e apresentado boa rentabilidade.
De acordo com o levantamento, elaborado por Einar Rivero, head comercial do TradeMap, das 130 ações que compõem o índice Small Caps (SMLL), apenas 15 apresentaram ganhos desde a divulgação do resultado das eleições até o pregão desta quarta-feira (4) – e juntas representam 11,5% do total da composição da carteira do índice.
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Para algumas empresas, a boa performance foi motivada por eventos pontuais que causaram uma especulação positiva para o papel no mercado. Caso das ações da Gafisa (GFSA3) e da Recrusul (RCSL3), que apresentaram ganhos de 180% e de 100%, respectivamente, durante o período.
A forte valorização da Gafisa se deve especialmente ao anúncio da venda da participação no hotel Fasano Itaim, em São Paulo, no fim de 2022. A construtora vendeu uma fatia correspondente a 80% do Fasano Itaim por R$ 330 milhões, sendo R$ 246,6 milhões em assunção de dívidas. Veja os detalhes nesta reportagem.
Em relação às ações da Recrusul, Mário Goulart, analista de investimentos e criador do canal no Youtube “O Analisto”, comenta que a empresa conseguiu ter esse destaque graças à capitalização de crédito anunciada em dezembro do ano passado no valor de R$ 129 milhões, por meio de emissão de novas ações. Com esse aumento de capital, a empresa vai utilizar os recursos para o pagamento de dívidas e reforçar o caixa.
“Mas se você olhar para o histórico da Recrusul, ela opera com anos de prejuízos. Então, não recomendo a compra dessa ação”, diz.
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No entanto, essa não é a realidade para todas as empresas que conseguiram obter ganhos durante o período. O bom desempenho também está relacionado à atividade das companhias que não dependem da dinâmica da economia doméstica. “São empresas exportadoras que dependem mais da commodity em si e da variação do câmbio do que da economia doméstica”, afirma Hugo Baeta, analista de ações da AF Invest. As ações Fer Heringer (FHER3) são exemplos com esse perfil.
Além disso, Baeta cita que as ações da Bradespar (BRAP4) e da Gerdau Metalúrgica (GOAU4), embora estejam no índice SMLL, são controladoras de blue chips, ações de grande liquidez na Bolsa. Desta forma, o desempenho dessas companhias acompanha a performance dos papéis de “peso” no mercado de capitais. “Quem compra Bradespar (BRAP4), por exemplo, compra Vale (VALE3)”, cita.
Por que small caps são sensíveis
As small caps são empresas de capital aberto que possuem o menor valor de mercado. Devido a essa característica, as ações costumam apresentar maior variação nos preços, o que reflete na rentabilidade do papel. Além disso, como são empresas com alto potencial de crescimento projetado para o futuro, costumam estar suscetíveis aos ciclos econômicos.
Na prática, quando o cenário macroeconômico segue desafiador com as taxas de juros em patamares elevados, as companhias tendem a ser penalizadas no mercado diante das dificuldades em apresentar resultados. “O forte aumento da Selic elevou o custo da dívida das small caps em grande proporção e fez as ações despencarem”, afirma Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos e especialista em renda variável.
Apesar do cenário ainda ser desafiador, há possibilidade dessas companhias conseguirem apresentar ganhos ao longo de 2023. Isso porque o Banco Central decidiu manter nas últimas três reuniões a taxa Selic a 13,75% ao ano. A decisão acena para o mercado que a política monetária adotada pelo BC segue efetiva no combate à alta dos preços.
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“Se tudo ocorrer dentro do esperado, a tendência para 2023 é de queda na Selic o que é positivo para empresas de crescimento”, acrescenta Boragini. De acordo com o Boletim Focus, as projeções apontam uma taxa de juros de 12,25% até o fim deste ano.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, acredita que o ambiente econômico ainda deve permanecer desafiador. Por mais que o mercado acompanhe uma queda da taxa de juros, o patamar ainda deve seguir elevado e continuará restringindo o acesso ao crédito para as empresas que necessitam de investimento.
“Como estamos vivendo uma transição, podemos ver algumas small caps que estejam se privilegiando dessa mudança. Isso vai depender do seu setor de atuação e de como o governo atual incentivará o seu segmento”, diz Cruz.