- Em 21 de fevereiro de 2020, as companhias da Bolsa valiam, juntas, R$ 4,36 trilhões
- Já no caso das varejistas – Eletrodomésticos, Produtos diversos, Tecidos Vestuários e Calçados, entre outros – também foram gravemente impactadas
- Entre os setores que melhor se recuperaram entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2023, estão os de Minerais Metálicos, Exploração, Refino e Distribuição e Energia Elétrica
21 de fevereiro de 2020, sexta-feira de Carnaval – ainda que tivéssemos ciência de que a pandemia avançava pela Ásia, Europa e Estados Unidos, o mercado brasileiro ainda não refletia tais apreensões. Na quarta-feira de Cinzas, no entanto, a situação já era outra.
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Os mercados internacionais começaram a cair significativamente e logo as empresas passaram a sofrer com quedas exponenciais. Trago aqui uma série de análises que vão nos ajudar a compreender como a pandemia da covid-19 impactou as empresas brasileiras, tomando como parâmetro seus valores de mercado.
Podemos dizer que o valor de mercado de uma companhia é uma fotografia, tirada em uma data específica, composta pela multiplicação do preço de suas ações pela quantidade de papéis em circulação. Nesse sentido, uma empresa que paga muitos dividendos pode ver o seu valor de mercado cair nos períodos em que desembolsar mais aos acionistas.
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Vamos usar a Petrobras como exemplo. Em 21 de fevereiro de 2020, a estatal valia R$ 393 bilhões. Quase três anos depois, em 17 de fevereiro de 2023, seu valor era de R$ 369 bilhões, uma queda de R$ 24 bilhões.
Mas como dizer que ela perdeu seu valor de mercado se sua ação preferencial valorizou 90,8% no mesmo período? Bem, a rentabilidade da ação é calculada considerando o reinvestimento dos dividendos na compra de novas ações – o que não acontece com seu valor de mercado.
Se na análise adicionarmos o que foi recebido de dividendos pela empresa, podemos ver que entre janeiro de 2020 e setembro de 2022, a Petrobras distribuiu R$ 253 bilhões em dividendos. Logo, se somarmos seu valor de mercado aos dividendos distribuídos, sua variação é positiva em R$ 229 bilhões.
Feita essa primeira análise, vamos olhar para o desempenho geral das empresas listadas na B3.
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Em 21 de fevereiro de 2020, as companhias da Bolsa valiam, juntas, R$ 4,36 trilhões. Em 17 de fevereiro deste ano, R$ 3,63 trilhões. No período, tivemos uma variação negativa de R$ 722 bilhões. A título de comparação, incluímos na análise o valor de mercado das companhias em 23 de março de 2020, dia em que o Ibovespa apresentou queda recorde.
Na ocasião, as empresas da B3 registraram R$ 2,57 trilhões em valor de mercado, uma queda de R$ 1,79 trilhão no intervalo de um mês. Nos quase três anos analisados, as empresas distribuíram R$ 715 bilhões em dividendos. Se somarmos esse montante à queda do período, chegamos a um recuo de apenas R$ 7 bilhões.
Devemos lembrar, no entanto, que na amostra ainda não temos os valores dos dividendos distribuídos pelas empresas no 4º trimestre de 2022, visto que as empresas estão apresentando seus resultados até o final do próximo mês.
Setores e empresas que não se recuperaram
Vamos jogar uma lupa para entendermos como a pandemia afetou os diferentes setores. Abaixo, temos os 3 mais afetados nos últimos quase três anos, seguido por um ranking que detalha a performance das empresas.
Setor | Valor Mercado (em R$ milhões) | |||
fev/20 | fev/23 | Dividendos acumulados | Relação entre valor de mercado e dividendos (em R$ mi) | |
Bancos | 968,8 | 755,0 | 97,1 | -116,5 |
Eletrodomésticos | 126,4 | 34,9 | 2,0 | -89,4 |
Produtos diversos | 48,7 | 3,2 | 362 | -45,1 |
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A primeira lista é liderada pelos bancos, que juntos registraram um recuo de R$ 213 bilhões, sem considerar os dividendos. Se acrescidos, o resultado ainda é negativo em R$ 116 bilhões.
Chamei Sergio Castro, analista CNPI do Trademap, para ajudar na avaliação das movimentações. Para ele, o impacto negativo da pandemia no setor de bancos – que também engloba fintechs – se dá pela elevação da taxa de juros nesse período.
No caso das instituições mais tradicionais, isso acaba refletindo em um aumento da inadimplência e, consequentemente, em provisões mais elevadas, com impactos direto no lucro dessas empresas. Ainda assim, o analista chama atenção de que este é um setor um tanto quanto resiliente, cujo recuo se deve, em grande parte, a uma performance do Bradesco – que sozinho é responsável por 49% das perdas do setor.
Já no caso das varejistas – Eletrodomésticos, Produtos diversos, Tecidos Vestuários e Calçados, entre outros – também foram gravemente impactadas, muito em função das condições macroeconômicas enfrentadas pelo país neste período, de juros e inflação elevados.
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A situação é ainda mais crítica quando falamos de empresas que vendem produtos de alto valor agregado, a exemplo de eletrodomésticos e móveis que, parcelados, acabam pesando no bolso do consumidor.
Em cenário adverso como o que vivenciamos, essas companhias se veem então à frente do seguinte dilema: aumentar o valor de seus produtos para garantir a cobertura dos custos, sabendo que esse movimento pode gerar queda da demanda, ou diminuir as margens e garantir mais vendas? É um impasse que acaba impactando fortemente na rentabilidade desses negócios, cuja natureza exige alto capital de giro.
Empresas com maior queda de valor de mercado em 3 anos | |
Empresa | Variação em 3 anos (em R$ milhões) |
Bradesco | -106,1 |
Magazine Luiza | -67,0 |
Natura | -58,4 |
Americanas | -47,8 |
Itaú Unibanco | -43,9 |
Setores e empresas que se recuperaram
Entre os setores que melhor se recuperaram entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2023, estão os de Minerais Metálicos, Exploração, Refino e Distribuição e Energia Elétrica. Falamos aqui de segmentos que surfaram o boom das commodities em 2021, quando a economia global começou a se recuperar da pandemia.
Setor | Valor Mercado (em R$ milhões) | |||
fev/20 | fev/23 | Dividendos acumulados | Relação entre valor de mercado e dividendos | |
Minerais metálicos | 257,0 | 394,6 | 126,1 | 263,7 |
Exploração refino e distribuição | 492,2 | 466,0 | 262,7 | 236,5 |
Motores compressores | 105,9 | 167,8 | 4,5 | 66,4 |
Na ocasião, os países passaram a adotar estímulos financeiros e ainda havia restrição na oferta, o que acabou por aumentar a demanda e elevar os preços das commodities. Isto, por sua vez, acabou se refletindo em maiores rentabilidade e lucratividade para essas companhias.
Para Castro, as mineradoras se beneficiaram durante 2020 e meados de 2021, quando os juros ainda estavam baixos. O cenário acabou aquecendo o mercado de construção civil, um grande consumidor de metais metálicos.
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Já as petrolíferas ganharam com o início da guerra no Leste Europeu, o que levou o preço do barril brent a níveis históricos. A Petrobras, segunda empresa que melhor se recuperou entre as listadas na B3, foi especialmente beneficiada pois ao longo de todo esse período teve seus custos estáveis em reais, enquanto seus ganhos foram indexados à moeda norte-americana, que chegou a ultrapassar a marca de R$ 6 no período. Não à toa, a estatal foi a maior pagadora de dividendos do mundo.
Empresas com maior crescimento de valor de mercado em 3 anos | |
Empresa | Variação em 3 anos (em R$ milhões) |
Vale | 137,5 |
Petrobras | 61,7 |
Weg | 25,9 |
Eletrobras | 23,48 |
Btgp Banco | 23,43 |