- Dólar acumula em 2023, até esta terça-feira (27), desvalorização de 9,12%, a maior em um semestre desde 2016
- Já nesta terça-feira (27), o dólar avançou levemente e fechou em R$ 4,80
- Especialistas dizem ser bem improvável que dólar fique abaixo dos R$ 4 em 2023, devido a fatores como política monetária dos Estados Unidos e Europa
O primeiro semestre de 2023 trouxe um recorde no mercado financeiro: há sete anos, o dólar não desvalorizava tanto em um período de seis meses, segundo dados levantados pelo Trademap. Do dia 1º de janeiro a 27 de junho, a moeda americana registrou queda de 9,12%, chegando a R$ 4,80 na sessão de terça-feira (27). Veja as projeções de corretoras para o dólar em 2023
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Um dia antes, na segunda (26), o dólar chegou a R$ 4,76, um patamar que não era visto desde 31 de maio de 2022. Já a porcentagem de desvalorização é a maior para um primeiro semestre desde 2016, quando a cotação caiu 17,8%.
Para Bruno Perottoni, diretor de tesouraria do Braza Bank, as casas de análises trabalham com um cenário para o final do ano de um dólar em torno de R$ 4,40 até R$ 4,60, abaixo do último Boletim Focus desta segunda-feira (26), que projetou R$ 5 para 2023.
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O prognóstico de Petroni fica entre a visão de alguns especialistas e do Boletim Focus. “Acredito em um patamar perto de R$ 4,60 e R$ 4,80, a depender de algumas questões do cenário macro, como: Rússia e Ucrânia, questão de política monetária nos Estados Unidos e Europa”, disse.
Ele ainda cita que os eventuais cortes da taxa básica de juros, a Selic, que o mercado vem precificando para agosto e setembro, tornariam o Brasil um pouco menos atrativo para operações de carry trade, quando o investidor estrangeiro traz o dinheiro para cá, para aplicar em juros. “Com os juros mais baixos, o câmbio fica mais alto, então eu não vejo o dólar abaixo de R$ 4 diante desse cenário”, explica.
Marco Tulio Souza, head de renda variável da B.Side Investimentos, concorda com a visão de ser improvável que o dólar fique abaixo dos R$ 4. Contudo, ele discorda sobre o nível acima de R$ 4,60. “O próximo ponto que conseguimos identificar uma possível parada seria em torno de R$ 4,50, valores que não observamos há mais de dois anos”, diz.
É hora de comprar dólar?
A cotação do dólar é uma das variáveis mais difíceis de se prever no mercado, por isso especialistas não conseguem cravar o futuro da trajetória da moeda. Ainda assim, para aqueles investidores interessados em dolarizar o portfólio ou turistas com viagens agendadas que precisam comprar a moeda, a desvalorização atual pode indicar uma boa janela de oportunidade.
“Considerando o contexto atual, o risco de uma correção é maior do que a oportunidade de uma queda mais acentuada”, pontua Diego Costa, da B&T Câmbio.
A recomendação é sempre fazer múltiplos aportes – ou seja, comprar aos poucos para fazer um preço médio, sem tentar adivinhar o futuro da cotação. “Sempre indicamos que os clientes façam suas compras em partes”, diz Haryne Campos, especialista em câmbio na WIT Exchange. “Analisando graficamente, o dólar ainda tem margem para continuar em queda; mas também temos fatores que podem influenciar a alta da moeda, então indicamos que os clientes garantam parte de suas compras para aproveitar a cotação.”
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Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, já vê o dólar em um patamar interessante para compras. “Eu acredito que ainda há espaço para a moeda cair, mas um espaço pequeno. Se tudo der certo com o arcabouço e a reforma tributária, o dólar deve rodar no patamar de R$ 4,83 a R$ 4,85, não muito diferente da cotação atual”, diz.
Começo do ano foi marcado por incertezas
O dólar comercial (para venda) iniciou o ano em R$ 5,34 e atingiu a cotação máxima de R$ 5,44 poucos dias depois. “Começamos o ano de maneira bem turbulenta, vindo de uma disputa eleitoral acirrada no Brasil e com muitos reflexos da pandemia do Covid e da guerra entre Rússia e Ucrânia”, afirma Haryne Campos, especialista em câmbio na WIT Exchange.
Souza, da B.Side Investimentos, também comenta sobre o início do ano ser marcado por algumas incertezas, que geraram receio no mercado financeiro, mas que passaram a ter menos força no segundo trimestre.
“Incertezas oriundas da revogação do teto dos gastos e de qual seria a regra fiscal que o substituiria, além de questões políticas como as constantes críticas do governo à independência do BC, à política de juros e ao próprio presidente Roberto Campos Neto”, afirma.
Ele também cita fatores externos, como a política monetária contracionista nos Estados Unidos, somada a dúvidas em torno do tamanho da recessão que as principais economias vão enfrentar e a crise dos bancos pequenos, a exemplo do Silicon Valley Bank e Silvergate Bank e First Republic Bank, que influenciaram na cotação inicial do dólar.
O que mudou para o dólar começar a cair?
O dólar começou a cair no fim de maio. Para Campos, da WIT Exchange, os avanços no cenário local brasileiro, com a perspectiva de uma política fiscal mais equilibrada, com o governo apresentando limites para os gastos públicos e com o PIB (Produto Interno Bruto) mais positivo, começaram a passar mais confiança aos investidores e ajudar a fortalecer o real frente ao dólar.
Souza também cita como motivo para a queda do dólar a aprovação do arcabouço fiscal na Câmara e no Senado, que fez com que o risco fiscal passasse a ser um risco de cauda. Além da desaceleração da inflação para 0,23% em maio, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), que colabora para uma visão mais otimista do Brasil.
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“Pesaram, ainda, especialmente no último mês, as percepções mais positivas da economia brasileira, cuja atividade tem mostrado uma resiliência maior no seu processo de desaceleração. Prova disso foi a revisão da perspectiva do rating da economia pela S&P, de estável para positiva”, destaca.