- O rali de valorização que embalou a Bolsa de Valores brasileira entre abril e julho deste ano parece ter tido um setor vencedor: a construção civil
- Três das quatro maiores altas do Ibovespa no ano pertencem a ações deste setor
- Para além da queda de juros, analistas veem outros motivos impulsionando a valorização do setor; que tem potencial para continuar
O rali de valorização que embalou a Bolsa de Valores brasileira entre abril e julho deste ano parece ter tido um setor vencedor: a construção civil. Como mostramos aqui, em uma janela de três meses, todas as ações presentes no Índice Imobiliário da B3 (IMOB B3) valorizaram ao menos 21,5%, mas houve quem se destacasse com ganhos superiores a 85%.
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Agora, mesmo com a maré negativa que levou o Ibovespa em agosto ao maior período de quedas da história da Bolsa, alguns desses papéis ainda estão se destacando. Até o fechamento desta segunda-feira (21), três das quatro maiores altas do Ibov no ano pertencem a ações de empresas ligadas à construção civil. Cyrela (CYRE3), Eztec (EZTC3) e MRV (MRVE3) acumulam uma valorização de 85,67%, 74,15% e 64,21%, respectivamente.
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Boa parte dessas altas está diretamente ligada ao ciclo de cortes na taxa de juros, iniciado pelo Banco Central no dia 02 de agosto, quando a Selic foi reduzida em 0,5 ponto porcentual, para 13,25% ao ano. Muito antes disso, a mera expectativa de redução na taxa já estava movimentando a Bolsa.
“Vimos uma alta generalizada dos ativos da Bolsa nos meses de maio e junho, motivada pela perspectiva de corte de juros e um cenário externo também favorável”, diz Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama.
Não é só a construção civil que será beneficiada por juros menores. Varejo, shoppings, tecnologia e setores ligados à economia doméstica também saem ganhando. Mas, olhando apenas os desempenhos das ações na Bolsa, foram mesmo as construtoras quem melhor surfaram esse movimento. Um sinal de que não é só a queda da Selic que está impulsionando essas ações.
Flávio Conde, analista de ações da Levante Ideias de Investimentos, explica que os juros ainda seguem muito altos para já estarem causando tamanho efeito nas ações das construtoras. Segundo ele, a valorização mostrada pelo setor se deve principalmente a mudanças e novas políticas de incentivo ao setor imobiliário, como a volta do Minha Casa, Minha Vida e o Certificado de Expansão do Potencial Construtivo (Cepac), que beneficiam principalmente as empresas voltadas ao segmento de baixa renda.
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“Essas empresas estavam pressionadas com custo alto e os imóveis estavam ultrapassando, em várias ocasiões, o limite do Minha Casa, Minha Vida. O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entrou e aumentou esse limite, então vários projetos foram tirados da gaveta e lançados”, destaca Conde. “Isso foi fundamental, por isso o otimismo no setor.”
A alta vai continuar?
O mês de agosto tem sido negativo como um todo para as ações brasileiras. Até a última quinta-feira (17), o Ibovespa acumulou uma sequência de 13 pregões negativos, caindo 5,21% em agosto. O IMOB não escapou e tinha uma queda acumulada de 2,02% segundo dados do TradeMap.
Mas, segundo os especialistas, ainda há espaço para que as valorizações continuem – no setor de construção civil e na Bolsa como um todo. Veja as ações de construtoras preferidas de 4 corretoras.
“Boa parte das quedas de agosto se deve ao cenário externo, com as treasuries (títulos de renda fixa de dívida pública do governo americano) de dez anos atingindo patamares não vistos desde a crise de 2008. Isso derrubou os mercados como um todo, não só no Brasil”, destaca André Fernandes, head de Renda Variável e sócio da A7 Capital.
Com a piora no exterior, por aqui, o mercado passou a ver pouco espaço para que o Comitê de Política Monetária (Copom) reduza os juros em uma velocidade mais rápida do que o esperado. “O setor imobiliário, que tinha se animado com um possível ritmo mais acelerado nos cortes de juros, acabou sentindo que o ritmo deve se manter como está e, portanto, houve um reajuste nas posições nas ações, que performaram muito bem nos últimos meses”, explica Fernandes.
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Para frente, a perspectiva segue positiva. Segundo o Boletim Focus, a Selic deve encerrar 2023 em 11,75% ao ano, até cair para 9% ao fim de 2024. Uma queda que, se confirmada, melhora a operação destas empresas. “Enquanto o juros estiver caindo, as ações desse setor devem continuar subindo”, diz o sócio da A7 Capital.