- O Boletim Focus desta segunda-feira (25) trouxe pela quinta semana consecutiva um aumento da projeção do Produto Interno Bruto (PIB) para 2023
- A expectativa agora é de um crescimento de 2,92% em relação a 2022; no início do ano, a projeção era de um crescimento de apenas 0,78% em relação ao ano anterior
- Especialistas explicam porque agentes do mercado veem o cenário com mais otimismo e destacam se as projeções positivas podem afetar a Bolsa
O mercado financeiro está mais otimista com o desempenho da economia do País. O Boletim Focus desta segunda-feira (25) trouxe pela quinta semana consecutiva um aumento da projeção do Produto Interno Bruto (PIB) para 2023. A expectativa agora é de um crescimento de 2,92% em relação a 2022; há quatro semanas, a projeção era de 2,31%.
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A visão atual com o desempenho do PIB em 2023 é bem mais positiva do que aquela com que o mercado iniciou o ano. No Focus do dia 06 de janeiro, o primeiro do ano, a projeção era de um crescimento de apenas 0,78% em relação ao ano anterior.
Economistas começaram a refazer as contas depois da divulgação de resultados fortes e acima do esperado no primeiro e no segundo trimestre do ano. Nos três primeiros meses de 2023, impulsionado por um desempenho histórico da agropecuária, o PIB cresceu 1,9%, chegando a R$ 2,6 trilhões em valores correntes. Essa foi a primeira surpresa positiva, um dado acima das projeções do mercado que apontavam para um resultado perto de 1,3%.
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No início de setembro, outra notícia positiva: entre abril e junho, a economia do País cresceu 0,9% em relação ao trimestre anterior; mais uma vez acima da estimativa do mercado, que era por um número perto de 0,3%.
A revisão das projeções para o PIB anual vista no Focus nas últimas semanas ilustra esse movimento. As projeções estão sendo atualizadas para incorporar não só os primeiros resultados trimestrais, mas também para incluir um cenário mais benigno para a economia do que aquele previsto no início de 2023.
“Os dados oficiais têm surpreendido para cima e, com isso, é normal o mercado revisar as projeções. De certa forma, dá para dizer que o mercado está otimista com a economia do País, ainda mais com números de inflação vindo melhores e perspectiva de mais quedas de juros”, destaca Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed.
De onde vem o otimismo
Boa parte desse otimismo tem a ver com uma série de reformas e medidas que vêm sendo colocadas em prática há algum tempo e ajudam a dar respaldo a um maior crescimento da atividade econômica. O antigo teto de gastos, a reforma da previdência, a autonomia do Banco Central, o novo arcabouço fiscal, o andamento da reforma tributária.
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“Essas reformas têm o condão de alterar o crescimento potencial do PIB que é algo muito difícil de medir. Mas uma das formas que pode se perceber que tal crescimento potencial aumentou é ver recorrentemente as estimativas de mercado dos economistas serem frustradas para mais”, explica Rodrigo Correa, estrategista-chefe e sócio da Nomos.
O especialista destaca que as revisões para cima na projeção do PIB não são uma novidade ou algo que esteja acontecendo apenas em 2023. “Pesquisas Focus ao redor dos últimos 3 anos foram sistematicamente sendo surpreendidas para cima, denotando o modelo de crescimento dos economistas que não atualizaram suas expectativas em função do impacto das diversas reformas realizadas.”
O panorama é bom, mas é cedo para dizer se não será apenas uma euforia de curto prazo, ressalta Dalton Gardiman, economista-chefe da Ágora Investimentos. O especialista explica que boa parte dos resultados de 2023 estão ligados a fatores que não podem ser controlados e, portanto, garantidos para os anos seguintes – o desempenho recorde do agronegócio, por exemplo. “O resultado para 2023 é incontroversamente muito significativo, mas extrapolar isso para os próximos anos já é uma questão bem mais difícil e complicada”, diz.
Na visão do economista, ainda há no radar uma série de fatores que podem tornar difícil a missão de manter um crescimento elevado em 2024. A possibilidade da safra do agro não se repetir; o novo arcabouço fiscal, que impede um perfil mais expansionista do governo; além do impacto do aperto monetário conduzido pelo Banco Central, que demora a se refletir na economia e ainda deve impactar o ritmo da atividade no País. Tudo isso em um cenário externo de menor crescimento na China e a possibilidade de recessão nos Estados Unidos.
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“Olhando para frente, é bem possível que estejamos falando de uma queda pela metade da taxa de crescimento. A discussão de 24 é mais controversa e mais negativa”, destaca Gardimam. Para 2024, a projeção do Focus é de um crescimento de 1,5% no PIB.
É bom para a Bolsa?
O PIB funciona como um termômetro da economia de um País. Se cresce, mostra que o nível de atividade econômica está aquecido. Mas isso não necessariamente se traduz em uma alta no mercado de investimentos.
Dalton, da Ágora, explica que essa é uma conta complexa. “A regra de ouro é: um crescimento da economia visto por todo mundo como sustentável é talvez o mais importante fator para impulsionar a Bolsa”, explica.
Na visão do economista, ainda que o PIB de 2023 termine na casa de 3%, não dá para cravar que isso vai levar a uma alta na Bolsa de Valores justamente por conta das incertezas em relação à atividade em 2024. “Para o futuro, que é o que o investidor precisa saber, ainda restam dúvidas se o crescimento visto em 2023 vai ser sustentável. Eu creio que não”, diz Gardimam.
Mas há outros indicadores do cenário macroeconômico que ainda podem jogar a favor dos investimentos de renda variável. O principal deles ainda é o ciclo de queda na taxa básica de juros, a Selic, iniciado pelo Banco Central no início de agosto. Até o final de 2024, é esperado que a taxa seja reduzida dos atuais 12,75% ao ano para 9% ao ano.
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“O mercado está gostando do início da queda dos juros, com a atividade surpreendendo, inflação melhorando”, diz Ricardo Jorge, da Quantzed. “Se a projeção de PIB se concretizar, isso pode gerar algum impacto positivo para investimentos sim, com mais pessoas migrando para a bolsa, por exemplo, ainda mais com a taxa de juros caindo.”