- O Ibovespa encerrou esta sexta-feira (29) aos 116.565,17 pontos, com uma queda acumulada de 1,54% no 3º trimestre do ano
- Para os 3 meses finais do ano, a palavra de ordem ainda vai ser cautela
- Especialistas explicam o que esperar da Bolsa até o final do ano, com tanta incerteza no radar
O Ibovespa encerrou esta sexta-feira (29) aos 116.565,17 pontos, com uma queda acumulada de 1,54% no 3º trimestre do ano. O desempenho não só devolve parte dos ganhos acumulados ao longo de 2023, como desenha para o fim do ano um cenário mais turbulento do que aquele previsto anteriormente.
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Para o período entre outubro e dezembro, a palavra de ordem ainda vai ser cautela.
O terceiro trimestre começou positivo, na esteira do rali que embalou o mercado brasileiro no final do primeiro semestre do ano. À época, a Bolsa estava em um movimento de alta acentuada, fruto das expectativas mais positivas de que o Banco Central poderia, finalmente, iniciar o tão sonhado ciclo de corte na taxa de juros.
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Paralelamente, indicadores econômicos positivos e avanço de reformas no Congresso ajudaram o Ibovespa a conquistar uma alta de 3,27% em julho. Mas os ventos mudaram a partir de agosto, ironicamente após o BC confirmar a primeira redução de juros em mais de dois anos, baixando a Selic em 0,5 ponto percentual para 13,25% ao ano.
Entre os dias 1º e 17 daquele mês, o Ibov engatou a pior sequência de sua história, sem um único dia positivo no período. No acumulado do mês, o índice cedeu 5,09% – o pior mês de agosto desde 2015.
Em setembro, pouca coisa mudou. Mais um corte de 0,5 p.p na Selic e mais um mês de desempenho baixo, com leve alta de 0,71%, fazendo o Ibovespa encerrar o 3º trimestre do ano nas baixas.
Os últimos meses foram pressionados por dois fatores. O primeiro – e talvez o mais determinante deles – é o cenário de juros nos Estados Unidos. As últimas decisões de política americana do Federal Reserve, o banco central americano, passaram uma mensagem de que os juros podem ficar mais altos por mais tempo. Isso gerou uma aversão geral a risco nos mercados globais, com fuga de capital estrangeiro da B3 e aumento do dólar frente ao real no período.
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José Daronco, analista da Suno Research, explica que a elevação das taxas americanas acaba puxando a liquidez global para os títulos de renda fixa do país. Afinal, esses ativos são considerados os mais seguros do mundo e atualmente estão pagando taxas que há muitos anos não eram vistas no mercado. “Os juros de 10 anos dos EUA atingiram as máximas nos últimos anos, fazendo com que haja uma reprecificação global dos ativos”, diz.
Tudo isso em um cenário em que a China dá indícios de que não conseguirá entregar em 2023 o prometido crescimento da economia, aumentando os receios de uma desaceleração brusca da economia global. Mas não é só isso: no cenário doméstico, a discussão fiscal voltou a incomodar o mercado.
Depois da aprovação do arcabouço fiscal no 1º semestre, há uma incerteza sobre como o governo fará para aumentar a arrecadação e cumprir as metas do novo marco fiscal. “A arrecadação federal ficou abaixo do esperado e, ao que tudo indica, o governo terá um déficit fiscal maior do que o esperado esse ano e não conseguirá zerá-lo no ano que vem”, afirma Daronco. “Com isso, o mercado começa a precificar juros mais elevados nos próximos anos.”
O que esperar do fim do ano
Faltam apenas 3 meses para 2023 acabar – tempo suficiente para o Ibovespa se recuperar e ampliar os atuais ganhos de 6,22% acumulados no ano ou para virar de vez para o negativo.
Na visão dos especialistas, o cenário deve continuar semelhante ao que se viu no 3º trimestre. Uma Bolsa barata, com um ciclo de corte de juros jogando a favor, mas com um ambiente externo de incertezas, especialmente em relação aos juros americanos. Resta saber qual dos dois fatores vai se sobressair.
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“O que aconteceu no 3º trimestre é um direcionamento importante do que deve acontecer no 4º tri”, diz José Cataldo, superintendente de research da Ágora Investimentos. “O fato é que a Bolsa continua barata, mas não há indicativos que nos façam ver uma melhora significativa nos últimos meses do ano”.
A XP também mantém sua visão positiva para a Bolsa brasileira, apesar dos riscos no cenário. Jennie Li, estrategista de ações da corretora, explica que o cenário de juros nos EUA deve continuar a ser monitorado, assim como o nível de crescimento na China e a questão fiscal no Brasil.
“Esses são os riscos principais”, destaca. “Mas continuamos com uma visão relativamente construtiva para o Brasil dado que estamos entrando no ciclo de corte de juros, que tende a ser positivo. O retorno dos fluxos de investidores foi muito fraco no início de 2023, mas está gradualmente voltando, um potencial para sustentar a Bolsa daqui pra frente.”