- O ano de 2023 está quase chegando ao fim e muitos fundos de investimento estão longe de superar o seu benchmark
- Um levantamento mostra que apenas 99 dos 458 fundos multimercados brasileiros acumulam um retorno superior ao do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) no ano, de 13,3%
- Especialistas explicam os motivos que pressionaram a classe de fundos ao longo do ano
O ano de 2023 está quase chegando ao fim e muitos fundos de investimento estão longe de superar o seu benchmark (referência de performance do ativo). Um levantamento feito pela Economatica mostra que apenas 21% dos fundos multimercados brasileiros acumulam um retorno superior ao do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), de 13,3%.
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O desempenho dessa classe de ativos em 2023 está, inclusive, levando investidores a resgatarem suas aplicações, como contamos nesta outra reportagem.
Os dados da Economatica mapearam o retorno de 458 fundos entre 2 de janeiro e 16 de novembro deste ano. Foram incluídos aqueles ativos cujo patrimônio supera os R$ 10 milhões e que tenham mais de 100 cotistas.
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O resultado varia muito: há quem esteja conseguindo uma valorização de 75,35% no acumulado de 2023, como o Bdr Avarga FI Mult, da Bdr Investimentos; como também quem esteja com uma queda de 66,73% no período, como é o caso do Esh Theta 18 Fc Mult, da gestora Esh Capital.
No entanto, analistas destacam que, na média, o desempenho da classe de multimercados está abaixo do esperado. Dos 458 fundos levantados, 99 conseguiram superar o CDI do período – cerca de 21% do total. O restante apresenta rendimentos abaixo do CDI, exceto outros 41 fundos, que estão com uma rentabilidade negativa em 2023.
Os resultados justificam a afirmação de que o ano de 2023 está negativo para os multimercados. “É a maior diferença entre o IHFA (Índice de Hedge Funds Anbima) e o CDI desde 2008 com a crise do subprime (crise de 2008)”, destaca Kaique Fonseca, economista e sócio da A7 Capital.
O que aconteceu?
Existem algumas explicações para o desempenho abaixo da média dos multimercados este ano. Gabriel Tossato, especialista da Ágora Investimentos, destaca que, com os juros de dois dígitos ao longo de todo 2023, o benchmark ficou muito elevado, dificultando o trabalho dos gestores. "Multimercados é uma classe super ampla, mas o que acabou pegando todo mundo é estarmos passando por um momento de CDI muito alto", diz.
Isso faz com que alguns fundos assumam menos riscos, em estratégias mais táticas e de curto prazo, que podem ou não dar certo – o que explica a disparidade entre os desempenhos, diz Tossato. "Com os juros muito altos, se você perde dinheiro em um mês e tem uma rentabilidade negativa, nos outros você vai precisar rentabilizar ainda mais para conseguir superar o benchmark. O cuidado com a oscilação negativa acaba sendo maior do que quando os juros estão mais baixos."
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Mas os juros altos não são o único motivo pressionando os multimercados. Afinal, em 2022, o CDI também esteve elevado e boa parte dos ativos conseguiu desempenhar bem. Como contamos nesta reportagem da época, essa foi inclusive a classe de fundos de investimento que mais se destacou no período, especialmente os multimercados macro.
"Em 2022, por exemplo, muitos multimercados foram bem porque conseguiram ganhar dinheiro com a abertura de curva de juros nos Estados Unidos e nos países desenvolvidos com os grandes movimentos de política monetária. Tinham movimentos de juros mais direcionais para os gestores montarem teses e aproveitaram os retornos", diz Tossato, da Ágora.
Surpresa negativa
A continuidade desse movimento de alta de juros em 2023 é que foi uma surpresa negativa para os fundos. Boa parte do mercado começou o ano acreditando que o banco central dos EUA, o Federal Reserve (Fed), já estava perto do fim do ciclo de aperto monetário – cenário que não se concretizou ao longo do ano. A taxa das Treasuries (títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano) de 10 anos superou os 5% em outubro, no maior patamar desde 2007.
"Gestores erraram muito nessa aposta de juros. Ninguém esperava que o Fed subiria juros nesses patamares tão altos”, explica Beto Saadia, diretor de Investimentos da Nomos. "Vimos nos Estados Unidos uma das maiores aberturas de curva de juros desde os anos 80 e isso acabou prejudicando muitos fundos, principalmente fundos de estratégia macro, que são o grande holofote dessa indústria."
Faz sentido resgatar as aplicações ou o cenário ainda pode melhorar? Especialistas discutem nesta outra reportagem.