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Governo estuda usar a Petrobras (PETR4) para salvar aéreas. Como o mercado vê a medida?

A estatal seria responsável por vender o querosene de aviação a preços mais baixos do que a média do mercado

Governo estuda usar a Petrobras (PETR4) para salvar aéreas. Como o mercado vê a medida?
Fachada da sede da Petrobras, no Rio. Foto: Wilton Junior/Estadão
  • O governo federal estrutura junto com as companhias aéreas um pacote de socorro para o setor
  • Segundo o Estadão, a equipe econômica segue resistente em baixar os impostos do combustível ou destinar recursos para um fundo que será oferecido às empresas

Com o pedido de recuperação judicial da Gol (GOLL4) nos Estados Unidos (EUA), o governo federal estuda usar a Petrobras para criar um pacote de ajuda para as companhias aéreas. Segundo o Estadão, até o momento, a ideia consiste na redução de preços do querosene de aviação vendido pela estatal às empresas do setor.

A outra alternativa seria a compra direta do combustível da Petrobras sem a intermediação de distribuidora, o que reduziria os custos para as empresas em torno de 4% a 8% .

O pacote de socorro ainda está sendo formulado pela União em conjunto com as empresas aéreas. No entanto, o uso da Petrobras para ajudar as companhias é visto com preocupação pelos analistas de mercado. Isso porque o subsídio nesta ocasião pode abrir espaço para outras interferências políticas na gestão da companhia. “O querosene de aviação não é tão relevante para as receitas da Petrobras, o que significa que o impacto seria pequeno. Mas pode aumentar os questionamentos do mercado sobre a possibilidade de outras intervenções do governo”, diz Ruy Hungria, analista da Empiricus Research.

O movimento de usar a Petrobras para tentar salvar as companhias aéreas se junta a outras ações do governo que foram alvos preocupação do mercado, como a tentativa de indicar Guido Mantega para o cargo de CEO da Vale (VALE3) e o pacote de R$ 300 bilhões para fortalecer a indústria nacional. “São recados dados e o mercado precisa ficar de olho. Por ora, o mercado acredita em um lado mais pragmático do governo”, diz Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

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Vale lembrar que o combustível é um dos principais custos das companhias aéreas e que reduzem as suas margens de lucro. Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o preço do querosene de aviação (QAV), combustível utilizado para as aeronaves, ficou em média de R$ 4,44 em outubro do ano passado, 12% menor em relação ao mesmo período de 2022.

No entanto, o preço está 92,1% acima do comparado ao de outubro de 2019 (R$ 2,31) – os dados dos preços do combustível são nominais.

“O custo do combustível no Brasil chega a comprometer de 35% a 40% do custo da passagem aérea. Na Europa, fica uns 25% e nos Estados Unidos em torno de 22% a 23%”, diz Marcus Quintella, diretor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de Transportes. No entanto, essa não é a única causa para o quadro financeiro delicado do setor aéreo. Com a pandemia, as companhias ficaram ainda mais endividadas após a queda abrupta da demanda por voos e os custos de manutenção das aeronaves ficaram mais caros diante dos problemas de fabricação de peças.

“Há uma elevação do custo de manutenção dos aviões. Não há de forma rápida o suprimento de peças em função da pandemia. Isso encarece o custo do segmento”, cita o economista Ricardo Coimbra. A combinação desses fatores influenciou na decisão da Gol de entrar com um pedido de recuperação judicial (RJ) nos Estados Unidos ao se deparar com uma dívida em torno de R$ 20 bilhões. O problema é que a saída para salvar as empresas não está no barateamento do querosene vendido pela Petrobras.

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Segundo Flávio Conde, analista de investimentos da Levante, o governo precisa trabalhar para tornar o ambiente econômico mais favorável para o setor, o que inclui uma redução ou isenção de impostos. “As empresas têm dificuldades de operar no Brasil. Várias já quebraram porque possuímos um problema estrutural. O que acho que deve ser feito é a remoção dos impostos federais e estaduais”, afirma o analista.

A outra alternativa seria a oferta de empréstimos de longo prazo com taxas subsidiadas para as empresas por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

“A Petrobras não precisa fazer nada porque não é papel da companhia vender combustível mais barato para ninguém. A Petrobras é uma empresa e não um órgão público”, acrescenta Conde. Até o momento, segundo a apuração do Estadão, a equipe econômica segue resistente em baixar os impostos do combustível ou destinar recursos para um fundo de R$ 6 bilhões em crédito que será oferecido às empresas.

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