- Há elementos que indicam um risco maior de aumento inflacionário acima da meta do governo para os próximos dois anos
- Manter CDI na carteira é positivo com juros nominais restritivos, além dereduzir a volatilidade da carteira de investimentos
- Prefixados perderam o "charme" no curto prazo e trazem muito risco num prazo mais alongado. Na renda variável, small caps parecem atrativas
A cartilha do investidor diz que em ciclos de corte de juros é possível encontrar bons prêmios na renda fixa prefixada e boa valorização nos ativos de risco de renda variável. O problema é que o atual movimento de redução da Selic está diferente de ciclos anteriores e os analistas preferem recomendar proteção com prêmios em títulos ligados à inflação e juros e bastante cautela nos investimentos em Bolsa.
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Apesar de o mercado precificar novos cortes da Selic até o final do ano, as expectativas sobre a taxa terminal vêm aumentando para a base de 9,5% ao ano, um juro real ainda muito alto e restritivo em relação à expansão econômica. Bem acima do juro neutro de 4,5% estimado pelo Banco Central (BC).
“A gente acredita que a tendência de inflação ainda é benigna no curto prazo, mas há elementos que podem indicar um risco maior de aumento acima da meta do governo nos próximos dois anos”, comenta a analista de Renda Fixa da XP Investimentos, Mayara Rodrigues.
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Esse cenário criaria oportunidades de entrada em papeis atrelados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) com prazo médio de maturação (duration) de 5 anos. No crédito privado, há oportunidades nas ofertas primárias de empresas emissoras com boa qualidade, remunerando IPCA +6% com isenção de Imposto de Renda, o que equivale a um IPCA +7,5% sem isenção.
Álvaro Frasson, economista e estrategista macro de Portfolio Solutions do BTG Pactual diz que não precisa procurar muito. Também conhecida como Tesouro IPCA, a NTN-B com vencimento longo (2045) é muito atrativa neste momento, pagando até 5,8% acima da inflação.
É importante lembrar que a curva de juros DI brasileira possui correlação com as Treasuries (títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano). O banco central americano, o Federal Reserve (Fed), por sua vez, ainda não iniciou o ciclo de corte dos juros. A previsão deste início pelo mercado foi adiada para maio ou junho.
“Quando isso acontecer, a estrutura de juros dos EUA vai começar a ceder e, com isso, o juro real de curto prazo de emergentes como o Brasil vai começar a cair, o que valoriza o preço unitário (PU) do título, com o investidor ganhando na marcação a mercado“, explica Frasson.
Além do prêmio futuro, caso a economia norte-americana ande para o lado certo, estar exposto à inflação também é uma bela maneira de proteção de patrimônio contra os eventuais choques inflacionários.
CDI ainda paga muito bem, obrigado
E, em se tratando de Brasil, que inicia neste ano mais um ciclo eleitoral com vistas para a eleição para a Presidência em 2026, é importante manter cautela. O mercado vem precificando uma preocupação crescente com a meta fiscal doméstica, o que traz volatilidade adicional para a curva DI.
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Esse clima de ceticismo gera uma força contrária em relação a um título que, num cenário de corte de juros, não deveria atrair a atenção: aqueles atrelados ao CDI.
“Nos ciclos de corte de juros, o CDI apresenta a pior performance em comparação a outros índices de renda fixa com duration mais longo, pre e pósfixados”, comenta Frasson. Mas desta vez, é importante manter uma boa base de CDI na carteira, avisa.
Primeiro porque, mesmo com a Selic fechando em queda ao final do ano, 9,5% ainda é uma taxa contracionista, bem acima do juro neutro. Além disso, apostar no CDI controla a volatilidade da carteira como um todo, incluindo o portfólio de renda variável, explica o economista.
“A gente está falando hoje de dois dígitos de remuneração e, em breve, um dígito muito alto”, diz Mayara da XP. Além da boa remuneração, os títulos atrelados ao CDI e à Selic têm baixo risco, no caso das emissões bancárias têm garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC, para aplicações de até R$ 250 mil) e liquidez diária. “Este é o melhor instrumento para manter as reservas de emergência”, diz.
Prefixados já foram melhores
Os prefixados, que deveriam estar na crista da onda, estão na baixa na opinião dos analistas. No curto prazo não devem pagar um prêmio interessante na marcação a mercado até o final do ano, dado que os juros atuais estão na casa de 10,75%, com expectativa de fechar acima dos 9% em 2024. Os títulos mais longos pagam melhor, mas, por outro lado, são mais arriscados, diante de um cenário fiscal que pode mudar o rumo da política monetária. É válido lembrar que no último comunicado, o Banco Central deu indicações de menor flexibilização monetária.
No horizonte, os sinais são de uma maior pressão inflacionária, observa o coordenador econômico da Genial Investimentos, Yihao Lin. Ele argumenta que a economia brasileira vem dando sinais de bastante força, com os dados de serviço e varejo surpreendendo para cima.
O mercado de trabalho também se mostra resiliente, com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) registrando uma taxa de desemprego abaixo da projeção média do mercado e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) vindo com saldos líquidos positivos de abertura de vagas formais acima do consenso. “Quando olhamos esses dados de atividade econômica, enxergamos riscos para o lado do repique inflacionário”, diz o economista.
Precaução versus risco
Yihao Lin pondera que apesar de a China estar exportando deflação por meio da menor demanda por commodities, esses efeitos tendem a ser limitados pela pressão doméstica ligada ao setor de serviços. “Isso faz a com que a inflação em vez de sair dos 4,5% e chegar próxima dos 3,5% ao final do ano acabe encerrando perto dos 4%”, diz.
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Também preocupa a leitura da inflação americana e a preocupação com essas incertezas apareceu no último comunicado do Banco Central. O petróleo no mercado internacional subindo também traz impacto inflacionário. “Nossa avaliação é que o momento demanda bastante cautela pelo lado do investidor. Tem bastante volatilidade e acredito que, neste contexto, os papeis atrelados à inflação dão proteção”, conclui o economista da Genial.
Renda variável
Para aquele investidor que não se importa muito com as incertezas no horizonte e segue à risca a velha máxima do “onde há risco, há retorno”, a renda variável também traz suas oportunidades. Numa análise top down, a partir dos fatores macroeconômicos para chegar aos setores da economia, Álvaro Frasson aponta as small caps como a boa aposta desta temporada.
Com a China desacelerando, a tendência é criar um ambiente menos positivo para as empresas ligadas às commodities, dentro de um quadro em que o câmbio dá sinais de apreciação. “Se commodity não vai subir e câmbio não vai depreciar, o melhor é comprar empresas ligadas à economia interna”, opina.
Com os juros em tendência de queda, as empresas com dívidas atreladas à Selic também tendem a apresentar uma performance financeira melhor. “Por isso, o índice de small caps (SMAL11) já está performando melhor que o Ibovespa“, diz, apontando o fator chinês, o câmbio valorizado e os juros como fatores positivos para os valuations (valor de mercado) das empresas domésticas.