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Como a aquisição da AES Brasil vai impactar os dividendos da Auren (AURE3)

Negócio está alinhado com a intenção da companhia de ganhar espaço no setor de geração, mas dividendos vão cair

Como a aquisição da AES Brasil vai impactar os dividendos da Auren (AURE3)
A Auren (AURE3) vem de um bom 2023 quando o assunto é remuneração de seus investidores com dividendos. (Foto: kiri em Adobe Stock)
  • A incorporação da AES Brasil (AESB3) pela Auren (AURE3), anunciada na noite desta quarta-feira (15), vai criar a terceira maior companhia de geração de energia do País, em um negócio de R$ 30 bilhões
  • A operação vai de encontro com as ambições da Auren de ampliar sua fatia no mercado brasileiro, mas deve criar um efeito colateral negativo para seus acionistas: a redução do pagamento de dividendos
  • Analistas destacam que é cedo para dizer números, mas que a incorporação da AES deve, sim, reduzir o dividend yield da AURE3 em 2024

A incorporação da AES Brasil (AESB3) pela Auren (AURE3), anunciada na quarta-feira (15), vai criar a terceira maior companhia de geração de energia do País, em um negócio de R$ 30 bilhões. A operação foi bem recebida por investidores e corrobora com as ambições da Auren de ampliar sua fatia no mercado brasileiro. Mas deve criar um efeito colateral negativo para seus acionistas, ao menos no curto prazo: a redução do pagamento de dividendos.

A Auren vem de um bom ano quando o assunto é remuneração de seus investidores. Em 2023, a companhia teve uma distribuição extraordinária de R$ 1,5 bilhão e conseguiu entregar a seus acionistas um pagamento anual total de R$ 3,00 por ação. Mas o cenário pode não voltar a se repetir em 2024.

A companhia estava “sentada no caixa”. Depois dos resultados do 1º trimestres de 2024, alguns analistas inclusive passaram a se questionar quais seriam os planos para tanto dinheiro e que haveria espaço para uma nova distribuição de dividendos extraordinária, caso não existissem novos projetos sendo desenvolvidos.

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Esse era o cenário antes do anúncio da aquisição da AES, explica Bruno Oliveira, analista do AGF. “A Auren estava extremamente desalavancada, com um caixa muito robusto, um cronograma de amortização extremamente saudável, uma taxa de conversão extremamente elevada e resultados sólidos. Havia ao menos espaço para que uma nova distribuição pudesse acontecer”, diz.

Sem a AES na conta, o AGF tinha uma projeção de pagamento de R$ 0,72 por ação da Auren em 2024, o equivalente a um dividend yield perto de 6,3% para o ano.

Agora, com a incorporação da AES, essa projeção terá que ser revisada. Isso porque a companhia adquirida se encontra em um momento operacional e financeiro menos favorável, com endividamento elevado – um ponto que já aparece nas análises e deve ser a prioridade de parte do caixa da Auren, reduzindo o espaço para que os valores sejam distribuídos a investidores por meio de dividendos extraordinários.

Na visão do analista do AGF, no entanto, é cedo para determinar o tamanho desse impacto. Mas as primeiras contas já começaram a surgir no mercado.

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Para o BTG Pactual, a remuneração de dividendos deve perder seu peso dentro da tese de AURE3. O entendimento é que a operação visa fornecer um portfólio mais diversificado, capitalizar sinergias significativas e economias de escala, aumentando a presença no mercado e a eficiência operacional. Ainda assim, acontece em um contexto em que a expansão das energias renováveis ​​é pressionada pelos preços baixos de energia, aumento das taxas de juros e condições de vento mais fracas.

“O mercado tem uma visão bastante desfavorável dos ativos da AES, dados os recentes problemas operacionais e sua significativa exposição a eventos de restrição”, ressalta o relatório do banco. “Embora o mercado reconheça o histórico de execução da Auren e tenha confiança em sua equipe para implementar essas mudanças, é improvável que pague por isso antecipadamente. O acordo mina um pouco a tese da companhia como um player de dividendos, pelo menos no curto prazo.”

O BTG espera por uma redução no dividend yield da AURE3 nos próximos anos. A remuneração de proventos ao investidor foi na ordem de 10,2% em 2022 e de 14,3% em 2023. Para 2024, a projeção de yield anualizado do banco é de 4,6%, caindo para 2,9% em 2025. Ainda assim, o BTG mantém a recomendação de compra das ações da Auren, com preço-alvo de R$ 14 por papel.

A EQI Research faz uma avaliação parecida. A corretora tem a AURE3 na carteira focada em dividendos e, apesar de gostar da aquisição anunciada, entende que a operação deve resultar em uma diminuição considerável na distribuição de proventos da companhia.

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“A empresa tinha uma alavancagem baixa, de apenas 1,8 vezes dívida líquida sobre Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e estava investindo em apenas um novo projeto. A forte geração de caixa era mais do que suficiente para financiar esse investimento e o excedente era distribuído em proventos”, explica Luis Moran, analista da EQI. “Essa realidade muda com a incorporação da AES Brasil, que tem uma alavancagem de 5,3 vezes dívida líquida sobre Ebitda.”

A prioridade da nova companhia deve ser a diminuição deste endividamento e a integração dos novos ativos. Por esse motivo, não há expectativa de que a Auren anuncie novos dividendos extraordinários, como aconteceu em 2023. “Nossa estimativa já era que isso não aconteceria, pois o dividend yield projetado para a ação era de 11% em 2024. Para o investidor que busca pagamentos de proventos elevados e recorrentes, a tese perde atratividade”, destaca Moran.

O negócio

O negócio entre as duas companhias é um dos capítulos finais de uma história de quase 30 anos da AES Brasil com o País. Em janeiro, a empresa especializada em geração de energia renovável e antiga dona da Eletropaulo (atual Enel), anunciou em comunicado ao Mercado que sua controladora americana, AES Corporation, “avalia alternativas para financiar o crescimento da companhia e reforçar sua estrutura de capital”.

Leia também: A empresa de energia que pode deixar o Brasil após quase 30 anos

A operação para a venda da AES Brasil estava em curso há meses e a Auren, que já tinha 5% da companhia, era apontada como um dos potenciais compradores. A proposta de incorporação e futura reorganização societária foi aprovada pelo Conselho de Administração da Auren na noite desta quarta-feira (15).

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As companhias informaram que a combinação dos negócios ocorrerá por meio da incorporação de ações, que resultará na conversão da AES Brasil em subsidiária integral da Auren, que terminará como a única empresa listada no Novo Mercado da B3. Os acionistas com AESB3 na carteira ganharam três opções para converter as posições em uma combinação de caixa e papéis AURE3; demos os detalhes aqui.

A notícia causou impactos diferentes nas duas companhias. As ações da AES Brasil tiveram uma alta de 1,35% no pregão desta quinta-feira (16), encerrando o dia cotadas a R$ 11,13. A Auren, por sua vez, viu os papéis caírem 1,66% na Bolsa, a R$ 11,83.

Na avaliação da Genial Investimentos, a operação é positiva para a AES, porque destrava um prêmio próximo a 18% em relação ao preço de tela dos papéis, se os investidores aceitarem a 3ª opção proposta pelo acordo. Além disso, dá aos investidores da companhia a chance de migrar para um case “muito mais interessante”, explica o analista Vitor Sousa.

Para a Auren, no entanto, a visão já não é tão positiva. A Genial comenta que o grupo AES já anunciou o seu interesse em aceitar a terceira opção, com o pagamento de R$ 11,55 por ativo. Mas, na visão da corretora, a AURE3 deveria estar sendo avaliada acima dos R$ 15,16 para ser atrativa para o investidor da AES. Ou seja, um prêmio de 26% em relação ao preço de fechamento de quarta-feira, acima do prêmio de 18% oferecido pela empresa para quem está na AES.

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“Nesse ponto reside o desafio da operação: para que os acionistas da AES aceitem em massa as opções que envolve troca de ações (opção 01 e 02), vão ter que considerar como premissa a Auren tenha um preço justo de R$ 15,16 por ação ante preço de fechamento das ações na noite de hoje, na casa dos R$ 12,03, o que é pouco provável e deve levar os investidores a terceira opção, o que pode pressionar o endividamento da nova empresa a ser formada”, ressalta Sousa.

O que fazer com as ações? Contamos nesta outra reportagem.

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