As ações da Petrobras (PETR3;PETR4) enfrentaram uma semana conturbada na bolsa de valores brasileira. Além do balanço do primeiro trimestre de 2024 da empresa, investidores digeriram a demissão de Jean Paul Prates do comando da estatal, enquanto novos temores sobre uma possível interferência política na petroleira ganharam força.
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Nesta sexta-feira (17), os papéis da companhia registraram a terceira queda seguida desde a saída de Prates. No fim do pregão de hoje, as ações ordinárias da estatal (PETR3) estavam cotadas a R$ 38,57, em desvalorização de 1,83%. Já as preferenciais (PETR4) terminaram a sessão em baixa de 1,66%, sendo negociadas a R$ 36,69. No acumulado da semana, os ativos PETR3 e PETR4 tiveram perdas de 12,60% e 11,76%, respectivamente.
Em termos de valor de mercado, a Petrobras perdeu R$ 34 bilhões somente na quarta-feira (15), quando suas ações cederam mais de 6% no primeiro pregão após o anúncio da demissão de Prates. O processo de desvalorização da empresa se estendeu nas últimas sessões. No total, foram R$ 55,3 bilhões perdidos desde o fechamento de terça-feira, de acordo com dados de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria. Considerando o acumulado da semana, entre os dias 13 e 17 de março, a perda foi de R$ 68,1 bilhões.
De balanço à demissão de Prates: os fatos que marcaram a semana da empresa
A Petrobras divulgou na segunda-feira (13) o seu balanço do primeiro trimestre de 2024. No intervalo, a empresa reportou um lucro líquido de R$ 23,7 bilhões, 37,9% a menos do que há um ano e 23,7% menor do que o registrado no trimestre imediatamente anterior. Apesar das cifras bilionárias, o resultado foi considerado fraco e sob pressão por analistas do mercado financeiro, que ainda enxergam, no entanto, potenciais oportunidades na empresa para quem busca dividendos.
Já na noite de terça-feira (14), a estatal entrou novamente nos holofotes, após a notícia de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu Prates do comando da Petrobras. À frente da companhia desde janeiro de 2023, a saída do executivo já havia sendo especulada por investidores, em meio a um processo de “fritura” do CEO, que nos bastidores teria um embate com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, intensificado depois que a estatal decidiu reter o pagamento de dividendos extraordinários em março.
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A mudança na gestão, no entanto, preocupou o mercado, que passou a temer uma ingerência política na petroleira. Afinal, um dos motivos que derrubou Prates do posto de CEO da Petrobras, entre outras questões, foi a intenção do Executivo de buscar por um perfil de comando menos “pró-mercado”.
A indicada para assumir a posição é Magda Chambriard, ex-diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) durante o governo de Dilma Rousseff. Se for aprovada, a executiva será a sétima pessoa a assumir o cargo mais alto da estatal nos últimos 5 anos. Somente no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entre 2019 e 2022, foram quatro mudanças na posição, conforme mostramos nesta reportagem.
Antes da eleição da nova CEO, Clarice Coppetti, atual Diretora Executiva de Assuntos Corporativos da Petrobras, segue como presidente interina da companhia. Ao longo de sua carreira, Coppetti já foi vice-presidente de Tecnologia da Informação da Caixa Econômica Federal, onde trabalhou de 2003 a 2011.
Na quinta-feira (16), a Petrobras esclareceu que a eleição de Chambriard será competência do Conselho de Administração (CA) da estatal. Com isso, não há necessidade de assembleia. A empresa ainda explicou que a indicação da executiva à presidência e como membro do colegiado passará pela análise das áreas de integridade e de recursos humanos da companhia. Em seguida, a sucessora de Prates será submetida à avaliação do Comitê de Pessoas (COPE) do CA, em processo que levará até 15 dias.
O que esperar daqui para frente?
Apesar das turbulências enfrentadas na última semana, quatro casas de análise mantiveram recomendação de compra para as ações da Petrobras. São elas: Bradesco BBI, Ágora, BTG Pactual e Goldman Sachs. As duas primeiras consideram que a queda das ações é natural em um primeiro momento, mas pode gerar uma oportunidade para o investidor, visto que o papel tende a se recuperar no médio e longo prazo.
Na visão do BTG Pactual, que recomenda compra para as ações da Petrobras listadas em Nova York, conhecidas como American Depositary Receipts (ADRs), ainda há poucas evidências de que a empresa deixará de pagar dois dígitos de dividendos em 2024 e 2025. “Preferimos permanecer consistentes com nossas decisões anteriores e evitar reagir exageradamente a mudanças repentinas do governo”, afirmaram os analistas Pedro Soares, Thiago Duarte e Henrique Pérez, que assinaram o relatório do banco publicado na quarta-feira.
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A equipe do Goldman Sachs, por sua vez, justifica a recomendação de compra com base nas demissões passadas da Petrobras, ocorridas durante o governo de Jair Bolsonaro. Para o banco, a troca no comando da empresa não consegue mudar diretamente a governança corporativa.
A casa cita como exemplo a substituição de Roberto Castello Branco por Joaquim Silva e Luna em fevereiro de 2021, que fez as ações preferenciais da Petrobras recuarem 21,51%, indo de R$ 15,44 para R$ 12,12 no dia 22 de fevereiro de 2021. Desde então, no entanto, as ações da Petrobras conseguiram se recuperar e superar a cotação de R$ 30 por ativo.
Já o BB Investimentos tem uma visão contrária e decidiu rebaixar na quarta-feira a recomendação das ações preferenciais da Petrobras de compra para neutra, mantendo o preço-alvo de R$ 47 por ativo. O entendimento da casa é que a sucessão na companhia acontece por uma intenção do governo de buscar um nome “menos pró-mercado”, o que, segundo o BB, pode significar uma mudança de rumo em uma empresa que vinha com boa execução e excelentes perspectivas.
Os desafios de Magda Chambriard na Petrobras
A expectativa do mercado é que a nova gestão atenda a pedidos do Planalto e acelere os planos de investimentos da estatal. Dessa forma, Chambriard herda o desafio de conciliar os interesses do governo sem perder a confiança do mercado financeiro. Os especialistas ouvidos pelo E-Investidor são unânimes: em termos de experiência e adequação ao cargo, trata-se de um nome técnico. O receio, no entanto, é o direcionamento político do mandato.
- Leia também: Como o mercado recebe o nome de Magda Chambriard
A executiva terá que lidar com a pressão política pelo aumento de investimentos, sem gerar desconfianças nos investidores. A ideia de direcionar o capex (recursos voltados para os investimentos) da companhia para projetos como refino ou a área petroquímica desagrada agentes do mercado, que veem os negócios como pouco rentáveis.
O perfil de Chambriard, mais alinhado aos interesses do governo, também dá sinais de que gastos com investimentos podem ganhar ainda mais espaço nos próximos planos estratégicos da companhia. Como consequência, o período de dividendos generosos aos acionistas pode chegar ao fim, com os investidores sendo obrigados a se contentar com o pagamento mínimo estabelecido pelo estatuto da empresa.
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Por outro lado, a XP Investimentos acredita que Chambriard encontrará a petroleira com uma forte geração de fluxo de caixa livre, um balanço patrimonial desalavancado e um portfólio de investimentos sólido, apesar do contexto desafiador de significativas pressões externas.