A Tag Investimentos não vê embasamento técnico para uma alta da Selic de dois pontos porcentuais até o fim do ano como tem sido defendido por alguns agentes de mercado diante da deterioração do campo fiscal. Em carta mensal, divulgada nesta quarta-feira (4), a gestora que administra R$ 13 bilhões ressalta que as projeções de inflação do Banco Central, publicadas na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), apontavam para uma inflação de 3,2% ao ano em um horizonte de 18 meses. Ou seja, 0,2 pontos porcentuais acima da meta de inflação.
Leia também
“Faz sentido um Banco Central subir juros quando o seu modelo aponta um desvio de apenas 0,2% para a meta? Caso o BC suba os juros, não estaremos vendo um abandono do seu modelo e rigor técnicos?”, questionou a gestora em carta intitulada como “O viralatismo monetário”. Segundo a TAG Investimentos, houve evoluções importantes que minimizaram a pressão por alta de juros no mercado brasileiro.
Menor “risco Brasil”, perspectiva de corte de juros nos Estados Unidos, valorização do real e queda nas inflações implícitas de dois anos. Com base nesses indicadores, as projeções da gestora estimam uma inflação projetada para 18 meses de 3,1%. “Em economia, o que conta é sempre o movimento na margem. E na margem estamos saindo de um 2023 com déficit fiscal de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) para um déficit fiscal de 08% (incluindo o pacote de ajuda no Rio Grande do Sul). O impulso fiscal é claramente negativo e não positivo”, reforçou a gestora no documento.
O outro ponto alvo de crítica tem sido a precificação para o início de queda desse novo ciclo de alta de juros que ainda está por vir. Segundo a Tag, o mercado projeta ainda uma queda da Selic após nove meses da realizada no primeiro semestre do próximo ano. “Os efeitos das ações de alterações nos juros começam a aparecer entre 12 e 18 meses. Logo, é completo absurdo uma curva que precifica altas e, já nove meses depois, começa a precificar quedas”, acrescenta.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
O argumento sobre a necessidade de uma retomada de alta de juros no Brasil ganhou força em agosto com a deterioração do campo fiscal sem a ausência de cortes de gastos no orçamento público para cumprir as metas fiscais previstas para os próximos anos. O resultado do PIB de 1,4% no segundo trimestre deste ano em comparação aos primeiros três meses de 2024, divulgado nesta semana, reforçou o enredo de gestores em defender uma retomada do ciclo de alta da Selic a partir de setembro.
A pressão inflacionária sobre o setor de serviços também tem sido utilizada como argumento para defender uma alta da Selic. No entato, a Tag Investimentos justifica que há uma enorme rede de proteção social no Brasil que permite uma parte da população ter uma renda sem precisar trabalhar. A redução de pessoas em idade produtiva também ajuda a pressionar os preços do setor de serviços.
Por essa razão, a gestora avalia que uma retomada de alta dos juros não parece ser o caminho mais viável para resolver um problema estrutural. Além disso, na avaliação da Tag, a adoção de uma política monetária também não garante credibilidade para o diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, para assimir a presidência do Banco Central em 2025. “No fim do dia, achar que se compra credibilidade sempre aumentando os juros não para de um “viralatismo” monetário”, concluiu a gestora.
Antes de ser indicado oficialmente, Galípolo enfrentou dúvidas do mercado sobre a sua capacidade técnica em conduzir a política monetária do País sem sofrer influência do governo. Desde o ano passado, Campos Neto tem sido alvo de críticas do governo sobre o patamar da Selic – taxa básica de juros – de dois dígitos.
Publicidade
Agora, com a expectativa de alta da inflação em meio ao desequilíbrio das contas públicas, os investidores ficaram atentos nos últimos meses ao posicionamento de Galípolo sobre a trajetória dos juros no País para saber se iria ceder ou não as pressões do Palácio Planalto que exigia uma queda da Selic.