- Devemos conviver com níveis de inflação um pouco mais altos do que no passado recente, mas ainda muito inferiores aos períodos de hiperinflação das décadas de 80 e 90
- Temos um enorme problema fiscal que precisará ser, pelo menos em parte, equacionado no próximo ano. Este é hoje o maior desafio para o País e um dos vetores que podem definir a direção estrutural da nossa economia nos próximos anos
- Nos últimos dias, o mundo deu início a um amplo processo de vacinação da população, após alguns países aprovarem, em caráter de urgência, imunizantes desenvolvidos para combater a pandemia. Este é um primeiro passo importantíssimo no processo de normalização da economia e da sociedade global
O ano de 2020 foi turbulento, atípico e cheio de surpresas. O momento, contudo, é de deixar o passado de lado e pensar o futuro. O que podemos esperar do próximo ano? Qual é o cenário base e quais são os potenciais riscos? No artigo deste mês, tentarei responder algumas dessas perguntas.
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No Brasil, devemos esperar a continuidade do processo de recuperação da economia e do crescimento. Todavia, sua velocidade e o seu ritmo em muito irão depender de como o País irá se organizar e como conseguirá implementar um plano de vacinação amplo. Sem uma imunização em massa da população, o País corre o risco de entrar em uma espiral de “abre e fecha” da economia, o que afeta a confiança e, consequentemente, o crescimento.
Devemos conviver com níveis de inflação um pouco mais altos do que no passado recente, mas ainda muito inferiores aos períodos de hiperinflação das décadas de 80 e 90. Isso deve levar o Banco Central a um processo lento e gradual de elevação da Taxa Selic.
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Não temos graves problemas em nossas contas externas, que seguem saudáveis. A volatilidade da nossa taxa de câmbio é natural e até mesmo esperada, em um sistema de câmbio flutuante em que a moeda costuma funcionar como um “amortecedor” automático para os choques externos.
Finalmente, ainda temos um enorme problema fiscal que precisará ser, pelo menos em parte, equacionado no próximo ano. Este é hoje o maior desafio para o País e um dos vetores que podem definir a direção estrutural da nossa economia nos próximos anos.
Se não bastasse nossos desafios internos, ainda estamos a mercê de um ambiente internacional que, mesmo mais construtivo do que aquele visto até meses atrás, ainda apresenta obstáculos a serem superados.
Nos últimos dias, o mundo deu início a um amplo processo de vacinação da população, após alguns países aprovarem, em caráter de urgência, imunizantes desenvolvidos para combater a pandemia.
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Este é um primeiro passo importantíssimo no processo de normalização da economia e da sociedade global. Ainda existe um desafio de produção, distribuição e vacinação em larga escala, mas o que foi feito em tão pouco tempo mostra a enorme capacidade humana em se superar.
Este pano de fundo deve dar sustentação a continuidade do processo de recuperação do crescimento global. Ele não será linear e será repleto de surpresas, mas a vacina endereça, por ora, o maior obstáculo do mundo ao longo de 2020.
Assim, podemos esperar um crescimento em bases mais sólidas em 2021. Mesmo com este crescimento, ainda se espera uma inflação controlada e um ambiente de liquidez global abundante.
É bem verdade que cada região do mundo deverá apresentar suas peculiaridades, para o lado positivo ou negativo, mas deixaremos esses detalhes, neste fórum, um pouco de lado.
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Quer dizer então que só teremos notícias positivas para 2021?
De fato, vejo um cenário mais construtivo para o próximo ano. Entretanto, nem tudo são flores. Precisamos estar atentos a outras possibilidades, aos “riscos de cauda”, que, se por um lado, não apresentam elevada probabilidade de ocorrer, por outro, caso ocorram, podem ter impacto relevante sobre os mercados.
No Brasil, a pandemia ainda está longe de ser superada e a demora na elaboração de um plano de imunização pode atrasar a recuperação da economia. Na outra ponta, os problemas estruturais do País podem nos levar, novamente, a um ambiente de inflação mais elevada. Por fim, sem atacar os problemas fiscais, podemos entrar em uma espiral negativa de deterioração econômica.
No mundo, ainda precisamos manter um olho na pandemia, pois mesmo com a vacina, existem riscos em relação a capacidade de imunização da população.
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O que mais me preocupa, contudo, mesmo ainda sem sinais concretos nessa direção, é o excesso de liquidez, monetária e fiscal, injetada na economia, e quais serão os seus efeitos colaterais de longo prazo. Por mais que um cenário inflacionário ainda me pareça distante, não podemos descartá-lo por completo.
Atualmente, vejo algumas classes de ativos em valuations historicamente elevados e a dinâmica de alguns mercados/ativos que remetem a períodos anteriores a grandes movimentos negativos de preço. Isso não quer dizer que, necessariamente, teremos quedas rápidas e acentuadas, mas este ambiente requer uma atenção especial.
No geral, continuo a ver os riscos para os próximos 3 a 4 meses como de baixa probabilidade e um ambiente ainda construtivo e positivo para o começo de 2021. De qualquer forma, não podemos minimizar estes cenários alternativos e precisamos estar preparados para eventuais mudanças de rota.
Em um mundo de juros baixos, com muitos ativos com valuations pouco atrativos e uma posição técnica menos saudável do que há alguns meses atrás, será fundamental a construção de portfólios para navegar com o balanceamento ideal, para também se defender de cenários adversos, pois eles, em algum momento, irão ocorrer, mesmo que de forma pontual.
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