Publicidade

Radar da Imprensa

Selic a 10,75%: quais setores podem se beneficiar com a alta dos juros?

A alta da Selic impulsiona setores defensivos e aumenta desafios para a renda variável

Selic a 10,75%: quais setores podem se beneficiar com a alta dos juros?
Selic a 10,75%: quais setores podem se beneficiar com a alta dos juros? Foto: Adobe Stock

A elevação da taxa básica de juros, a Selic, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, de 10,50% para 10,75% ao ano, acende alertas no mercado financeiro. Na última quarta-feira (18), o aumento de 0,25 ponto porcentual reforça o ciclo de aperto monetário, enquanto analistas avaliam seus impactos sobre diferentes setores da economia.

Conforme explicado nesta reportagem, com a Selic em alta, investidores tendem a fugir dos ativos de risco, como ações, em busca de refúgio em investimentos mais seguros, como a renda fixa. No entanto, especialistas destacam que nem todos os segmentos do mercado sofrem com esse movimento. Em algumas áreas, a elevação dos juros pode, de fato, representar uma oportunidade de ganho.

Perspectivas para a Selic

A projeção dos analistas consultados pelo E-Investidor é de que a Selic continue subindo até o fim de 2024. Bruno Benassi, analista da corretora Monte Bravo, acredita que a taxa deve fechar o ano em 11,75%, com um novo aumento em janeiro de 2025. Ele explica que o cenário econômico aquecido, aliado ao risco de inflação acima da meta, pode justificar o avanço dos juros.

Angelo Belitardo, gestor da Hike Capital, compartilha uma visão semelhante, embora um pouco mais otimista. Para ele, a Selic deve encerrar 2024 próxima dos 11%, refletindo a evolução da dívida pública e o comportamento da curva de juros de títulos de longo prazo: “Dentre as principais razões para vermos o ciclo de alta de juros, destacamos a evolução da dívida pública e das despesas financeiras como percentual do PIB, assim como possível lentidão na queda da curva de juros nos Estados Unidos”.

Publicidade

Invista com o apoio de conteúdos exclusivos e diários. Cadastre-se na Ágora Investimentos

Por sua vez, Hayson Silva, analista da Nova Futura, estima que a taxa deve chegar a 11,25% até o fim do próximo ano. Segundo ele, o cenário desfavorável para a renda variável indica que os investidores devem focar em ações mais defensivas ou em setores que possam se beneficiar diretamente da alta dos juros.

Quais setores podem se beneficiar com a alta dos juros?

Entre os setores apontados pelos especialistas, o segmento de seguros surge como o principal beneficiado pelo atual cenário de juros elevados. Conforme destaca Bruno Benassi, as seguradoras aplicam parte dos recursos que recebem dos clientes em títulos de renda fixa, como o Tesouro Selic, obtendo retornos adicionais.

O valor investido permanece acumulando, funcionando como uma reserva emergencial: se o cliente precisar utilizar o seguro durante o contrato, o sinistro é registrado e o montante é resgatado.

No entanto, caso não haja acionamento do sinistro e o valor se transforme em prêmio, todo o dinheiro pago pelo cliente, juntamente com o rendimento vinculado à Selic, é mantido pela seguradora. Por esse motivo, as seguradoras se beneficiam com a elevação das taxas de juros.

Empresas como BB Seguridade (BBSE3), Caixa Seguridade (CXSE3) e parte da Rede D’Or (RDOR3) são exemplos de companhias que possuem reservas técnicas atreladas à Selic ou ao Certificado de Depósito Bancário (CDI), o que as torna diretamente beneficiadas pelo aumento da taxa.

Outro setor mencionado por Benassi é o bancário. O analista afirma que, em tese, os bancos podem se beneficiar do aumento dos juros por meio do ganho com o spread bancário, ou seja, a diferença entre o que as instituições pagam ao captar recursos e o que cobram ao emprestá-los. Contudo, ele alerta que o crescimento dos juros também pode desacelerar a economia, reduzindo o volume de empréstimos e afetando os resultados do setor.

Publicidade

“De forma simplificada, o único setor que, em tese, se beneficia diretamente da alta dos juros é o setor de seguros. Podemos também discutir o setor bancário, a depender das variáveis. No geral, são poucos os casos de empresas que melhoram com a Selic subindo”, reforça Benassi.

Outros setores defensivos

Angelo Belitardo, da Hike Capital, aponta ainda outros setores que podem se destacar no cenário de alta de juros, como bancos, seguradoras, energia, saneamento, logística portuária e aluguel de equipamentos. Ele argumenta que essas áreas tendem a se beneficiar por apresentarem alto grau de solvência, baixo custo de capital e modelos de negócios diversificados. Segundo o especialista, essas companhias conseguem gerar retornos acima do CDI + 4% ao ano.

Belitardo também recomenda atenção ao Retorno sobre o Capital Investido (ROIC) e ao Retorno sobre o Patrimônio (ROE) dessas empresas, comparando-os com o CDI + 4%. Para ele, o CDI funciona como uma referência importante para a avaliação do custo de oportunidade em relação aos investimentos em ações.

Desafios para a renda variável

Por outro lado, o cenário é desafiador para a maioria das empresas da bolsa de valores. A alta dos juros impacta diretamente o custo do capital, dificultando o crescimento das companhias e tornando o crédito mais caro. Além disso, a renda fixa passa a ser uma opção mais atraente para os investidores, levando a uma fuga de capital dos ativos de risco.

Mesmo com alguns setores podendo se beneficiar da Selic elevada, como o de seguros e, em menor grau, o bancário, os especialistas alertam que são poucos os casos de empresas que conseguem melhorar seu desempenho com o aumento dos juros. Assim, o investidor deve se preparar para um ambiente mais hostil para a renda variável nos próximos meses, focando em setores defensivos e em ações de empresas com modelos de negócios sólidos e baixa alavancagem financeira.

Colaborou: Gabrielly Bento.