- Poupança paga 70% do CDI, enquanto há uma oferta de renda fixa que paga até 140%, aponta especialista
- No ano, saques líquidos acumulados da poupança somam R$ 11,2 bilhões
- Estoque de ativos de renda fixa cresceu 2,9 vezes desde 2018. Poupança cresceu 1,2 vez no período
Por muito tempo, o único investimento acessível ao investidor de varejo brasileiro era a poupança, procurada por ser uma aplicação segura, mesmo não tendo o Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Esses tempos estão cada vez mais distantes e hoje os ativos de renda fixa, com seus rendimentos que chegam a bater o dobro da caderneta atraem cada vez mais o investidor.
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“A poupança paga 70% do CDI. Hoje temos uma oferta grande de renda fixa que paga até 140%. A tendência é que esse investidor saia, caso não haja uma mudança nesse modelo de negócio”, avalia o CEO da Ouro Preto Investimentos, João Baptista Peixoto Neto.
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Os números comprovam a tendência. Os dados de setembro do Banco Central mostram um volume de resgates que supera o de captações, numa retirada de R$ 7,1 bilhões. No ano, os saques líquidos acumulados estão em R$ 11,2 bilhões. O estoque, no entanto, ainda soma mais de R$ 1 trilhão, embora num patamar inferior a 2020.
Para o time de renda fixa da XP Investimentos, um dos motivos é o patamar elevado da Selic, hoje com previsão de terminar o ano em 11,75%. Isso atrai a atenção para produtos de renda fixa. É a união da rentabilidade com a segurança, dada a garantia do FGC (para aplicações de até R$ 250 mil) . “O estoque da classe se multiplicou por 2,9 vezes desde 2018 até agosto de 2024, enquanto o da Caderneta de Poupança cresceu 1,2 vez no período", diz Camila Dolle, head de Renda Fixa da XP.
Renda fixa também perde espaço
Em outro material de análise, uma pesquisa da XP com os seus assessores de investimento mostra que a renda fixa continua como a classe de maior preferência entre os clientes, com 74% dos entrevistados indicando-a como a preferida dos investidores. Enquanto isso, o apetite a risco vem diminuindo com os clientes indicando menor interesse por ações (52% ou -6 pontos em relação ao mês anterior).
"O brasileiro tem uma preferência pela renda fixa porque as taxas de juros sempre foram altas no Brasil e, em qualquer período que comparar com a Bolsa, as taxas de juros ganham, com menos volatilidade e mais segurança", observa Peixoto Neto da Ouro Preto.
Dolle acrescenta que, na época da pandemia, havia um saque tanto da poupança quanto dos títulos públicos. Hoje, os resgates acontecem na caderneta, enquanto os produtos de renda fixa crescem, inclusive no Tesouro Direto que ainda tem uma penetração tímida, num estoque de pouco mais de R$ 145 bilhões. Os produtos bancários continuam sendo preferidos, com os Certificados de Depósito Bancário (CDB) na dianteira, seguido das Letras de Crédito Imobiliário e Agrícola (LCIs e LCAs). Com um estoque de R$ 2,3 trilhões, só o CDB representa mais que o dobro do dinheiro investido na poupança.
Com a maior disseminação das informações e educação financeira, a tendência é que os novos investidores deixem de ver a poupança como um investimento seguro e de liquidez imediata. "Mesmo nesta questão da liquidez, é preciso lembrar que a rentabilidade só acontece uma vez por mês, no dia do aniversário. "Se tirar antes, você perde a rentabilidade, enquanto na renda fixa rende todos os dias", destaca Dolle. Até mesmo na característica de isenção de Imposto de Renda, a poupança tem opções na renda fixa como as LCIs e LCAs que pagam muito mais.
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Na sua visão os mais de R$ 1 trilhão guardados na poupança é de gente que deixou seu dinheiro lá, ou seja, pessoas mais velhas que ainda têm dificuldade para procurar melhores alternativas. "A tendência é que os investidores migrem cada vez mais para renda fixa", diz.
Riscos da migração
Por outro lado, investidores acostumados com a segurança da poupança devem tomar cuidado na migração para a renda fixa. Títulos como debêntures e os Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs) não possuem garantia do FGC. São produtos com exposição à dívida privada e podem trazer riscos inesperados, apesar de oferecer retornos superiores.
O gestor da Trópico Investimentos, Fernando Camargo, pondera sobre essa questão ao falar dos fundos de renda fixa. "Parte dessas aplicações está exposta a dívida privada corporativa e vemos um aumento da inadimplência que deve se agravar com a alta das taxas de juros", lembra.
A regulamentação permite que fundos considerados conservadores tenham até 20% do patrimônio em dívida privada. "Não faz sentido assumir risco de crédito de empresa só para ter retorno de não pagamento de imposto", avalia.
Segundo Camargo, para um investidor conservador acostumado com a poupança o ideal são os chamados fundos cash ou fundos de caixa. "Eles não estão expostos à dívida privada corporativa e contam com rentabilidade alinhada ao CDI e liquidez praticamente diária", diz.