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- O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa básica de juros do País em 1,00 ponto percentual nesta quarta-feira (11). Agora, a Selic está em 12,25% ao ano – o maior valor em 12 meses
- Economia ainda aquecida, desancoragem das expectativas de inflação e pressão no câmbio fizeram o BC acelerar o ritmo que vinha adotando para ajustar a Selic
- Taxa mais elevada favorece os rendimentos nos investimentos de renda fixa; veja quanto rende investir nos principais ativos da classe
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa básica de juros do País em 1,00 ponto percentual nesta quarta-feira (11). Agora, a Selic está em 12,25% ao ano – o maior valor em 12 meses. A decisão foi unânime.
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Como mostramos aqui, a última reunião da instituição sob o mandato de Roberto Campos Neto à frente do Banco Central (BC) começou com um impasse. Apesar do consenso em torno de um ajuste, o mercado estava dividido entre os que acreditavam que a taxa Selic seria elevada em 0,75 ponto porcentual (p.p) e aqueles que viam a necessidade de um aperto maior, de 1 p.p.
Desde que o ciclo de aperto monetário foi retomado, em setembro deste ano, o Copom subiu a Selic duas vezes: de 10,5% para 10,75% ao ano; depois, para 11,25% ao ano. O ritmo das altas foi acelerado gradativamente e, dada a piora do cenário desde novembro, quando o grupo se reuniu pela última vez, o mercado passou a cobrar por juros mais altos.
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Eduardo Klautau Filho, analista sênior e sócio da Aware Investments, explica que a mudança na postura do Banco Central decorreu de um cenário econômico mais desafiador no segundo semestre de 2024. “Pressões inflacionárias cresceram, impulsionadas pela alta dos preços internacionais de commodities e pela desvalorização cambial, elevando as incertezas sobre o cumprimento das metas de inflação”, diz.
Um combo de sinais de aquecimento econômico acima do esperado, com alta do Produto Interno Bruto (PIB), e a decepção com o pacote de medidas do Executivo voltado ao ajuste fiscal, que levou o dólar a seu maior valor da história, fez as expectativas de inflação ficarem ainda mais desancoradas. As projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Boletim Focus vem em semanas de altas e já superam a banda de tolerância máxima da meta de inflação, de 4,5% ao ano em 2024 e 2025.
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Por isso, o Copom se viu obrigado a acelerar o ritmo nesta reunião. “A decisão visa ancorar as expectativas e reforçar o compromisso com o controle da inflação, ainda que isso implique um ritmo mais moderado de crescimento econômico no curto prazo”, explica Klautau Filho.
A última reunião do ano e a despedida de Campos Neto
A última reunião do Copom em 2024 marca também o fim do mandato de Roberto Campos Neto à frente do Banco Central. A partir de 2025, quem assume a presidência da instituição é o atual diretor de política monetária, Gabriel Galípolo. “O desafio será gerenciar possíveis pressões políticas, preservando a autonomia do Banco Central e a confiança dos mercados”, destaca Eduardo Klautau Filho, da Aware Investments.
No mandato de Campos Neto, a Selic chegou a cair ao seu menor patamar da história: 2% ao ano entre agosto de 2020 e março de 2021. Com a pressão inflacionária global causada pela pandemia da covid-19, o BC se viu obrigado a fazer um ajuste extremo, subindo os juros continuamente até o patamar de 13,75% ao ano, onde ficou estacionado entre setembro de 2022 e agosto de 2023.
A transição no comando acontece em um momento de virada na política monetária. Entre agosto de 2023 e maio deste ano, a Selic vinha em queda e foi reduzida dos 13,75% até 10,50% ao ano. Mas a piora do cenário fez o mercado voltar a precificar novas altas de juros e, agora, há quem projete uma taxa perto dos 15% ao ano em meados de 2025 – o que significa que o BC de Galípolo pode superar a Selic do BC de Campos Neto.
“O mercado vai observar de perto como será a composição do novo Copom e se continuará de fato com independência institucional”, diz Josias Bento, especialista em investimentos e sócio da GT Capital. “Acredito que podemos sim esperar um equilíbrio entre inflação e política monetária para um crescimento sustentável do Brasil.”
Como ficam os investimentos com a nova alta da Selic
A abertura da curva de juros fez a renda fixa voltar ao posto de queridinha dos investidores. Nas últimas semanas, os títulos do Tesouro Direto – emitidos pelo governo e considerados um dos investimentos de menor risco do mercado – bateram as máximas da série histórica. Ainda é possível investir com retornos anuais de 14% nos ativos prefixados ou de 7%, além da variação de inflação, nos IPCA+.
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Com esses níveis de rentabilidade, o investidor brasileiro tem pouco incentivo para abrir mão da segurança da renda fixa e se aventurar na Bolsa ou em outros ativos de renda variável.
Para Rafael Winalda, especialista em renda fixa do Inter, as melhores oportunidades do momento estão nos títulos atrelados ao CDI e ao IPCA+. Ele explica que, no curto prazo, os ativos pós-fixados devem performar melhor, tendo em vista a provável continuidade das altas na Selic em 2025.
Mas, para quem tem foco no longo prazo e apetite a risco para suportar as marcações a mercado, é o IPCA+ que chama mais a atenção. A melhor relação de risco e retorno, segundo ele, está nos títulos de vencimento maior. “Quem investir na NTN-B com vencimento em 2045, nos atuais níveis de taxa, pode ter um patrimônio multiplicado por quatro, sem considerar a inflação. Exagerando bastante, pensando em prazos para 2060, dá para multiplicar os valores por 50 vezes; é algo incrível”, afirma Winalda. “Mas não é recomendado para todo mundo, porque esses ativos têm bastante volatilidade.”
A Ágora Investimentos também tem preferência pelos títulos pós-fixados e indexados ao IPCA no momento. Apesar das taxas prefixadas estarem bastante elevadas, as incertezas do cenário e a possibilidade de a Selic continuar a subir torna a opção de “travar” uma taxa mais arriscada. Quem comprar um título prefixado agora pode perder dinheiro se decidir sair antes do vencimento, se os níveis de retorno continuarem em alta.
“O cliente precisa entender que a rentabilidade contratada será entregue se ele ficar até o vencimento, mas ao longo do período o título vai sofrer com as taxas altas“, explica Simone Albertoni, analista de renda fixa da Ágora Investimentos.
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Para quem optar por títulos bancários ou isentos de Imposto de Renda (IR), como Certificados de Depósito Bancário (CDBs) ou Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), a dica da especialista é comparar as taxas oferecidas. “O ideal é comparar um ativo isento com uma taxa equivalente de um produto tributado, o que chamamos de gross up. Mesmo que os títulos bancários tenham mais risco do que o Tesouro Direto, não é uma regra ter taxas mais atrativas, porque depende da estratégia e fluxo de pagamentos de cada emissor”, afirma Albertoni.
Quanto rende investir?
Fabio Gallo, colunista do Estadão e professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP) preparou, a pedido do E-Investidor, uma simulação que mostra quanto rende investir na renda fixa com o novo patamar da Selic. O levantamento leva em conta a previsão de 4,84% para o IPCA, presente no Boletim Focus, e considera um rendimento da poupança em 7,1% ao ano. Calculamos a rentabilidade bruta, líquida (descontada impostos e taxas) e real (descontada a inflação) de aplicações de R$ 1 mil em diferentes títulos. Confira: