Como gênero influencia os investimentos, segundo especialistas do Itaú e TAG Investimentos
O comportamento de homens e mulheres nos investimentos vai além da preferência: especialistas apontam como o gênero molda o risco, a diversificação e o retorno
Diferença entre homens e mulheres nos investimentos (Foto: Adobe Stock)
A forma como homens e mulheres constroem seus portfólios de investimento não é apenas uma questão de preferência pessoal, mas reflete diferenças comportamentais bem documentadas. Ao longo dos anos, estudos e a experiência prática de especialistas do mercado financeiro têm mostrado que o gênero influencia, sim, a maneira como se toma risco, se define metas e se enxerga o longo prazo.
Entre as mulheres investidoras, 83% optam pela poupança, enquanto entre os homens esse número é menor, 68%. Na sequência, 7% das mulheres escolhem títulos privados, como Certificado de Depósito Bancário (CDBs) e debêntures, frente a 9% dos homens. Já os investimentos com maior risco, como fundos de investimento (12%), criptomoedas (11%) e ações na Bolsa de Valores (11%), são mais comuns entre os homens. Entre as mulheres, esses percentuais caem para 6%, 4% e 3%, respectivamente. Os dados são da 5ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro.
Segundo Ana Carolina Shibata, superintendente no Banco Itaú, há evidências consistentes de que os vieses comportamentais diferem entre homens e mulheres. “O homem tende a ter um excesso de confiança nos investimentos”, aponta. Na prática, isso se traduz em um comportamento mais impulsivo e ativo, com maior rotatividade da carteira. Já a mulher, diz Shibata, geralmente apresenta uma postura mais cautelosa, diversificando melhor os ativos e pensando no longo prazo.
Essa diferença de atitude leva a resultados distintos no desempenho dos portfólios. A mulher, por exemplo, tende a buscar mais aconselhamento profissional e a tomar decisões com base em cenários bem construídos. “Ela prefere entender as possibilidades, os riscos envolvidos. Quando você apresenta um plano estruturado – ‘se der certo, isso acontece; se der errado, isso aqui está previsto’ – ela se sente segura para decidir”, explica Shibata. Em contrapartida, o homem muitas vezes quer certezas, respostas fechadas, como se o investimento fosse um teste de acerto ou erro, o que pode levá-lo a decisões menos fundamentadas.
Francisca Brasileiro, partner na TAG Investimentos, reforça essa percepção. Para ela, o comportamento mais racional e orientado por fundamentos que muitas mulheres trazem para o mundo dos investimentos é justamente o que o mercado brasileiro mais precisa. “Não tem nada mais complicado em investimento do que olhar para isso como uma aposta”, afirma. A especialista defende que o investimento deve ser encarado como uma construção estratégica, baseada em uma matriz de possibilidades, e não como uma competição de acerto.
Brasileiro também chama atenção para o papel transformador da maior participação feminina nas decisões financeiras. Muitas mulheres, segundo ela, já são responsáveis pelas finanças das famílias, mas ainda não se sentem no controle total das escolhas de investimento. “Quando elas se apropriam desse papel, o mercado se torna mais saudável, mais racional, mais orientado por fundamentos – o que é benéfico para todos”, argumenta.
Além disso, a superintendente no Banco Itaú observa uma tendência importante para o futuro da indústria de investimentos no Brasil: a personalização e discricionariedade na gestão. “As mulheres se mostram mais abertas a mandatos discricionários, à construção de portfólios sob medida, voltados para seus objetivos e tolerância ao risco”, explica. Ela acredita que esse perfil pode impulsionar transformações positivas no mercado, aproximando-o de práticas mais maduras, como as observadas em países com mercados mais desenvolvidos.
Portanto, o gênero do investidor influencia, sim, a forma como se monta um portfólio – não de maneira determinista, mas por meio de tendências comportamentais que moldam preferências e estratégias. Mulheres, ao optarem por diversificação, foco no longo prazo e decisões bem embasadas, contribuem para a profissionalização do mercado.
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Já os homens, ao reconhecerem e ajustarem seus impulsos de excesso de confiança, podem igualmente se beneficiar de uma abordagem mais equilibrada. O avanço do setor, como apontam as especialistas, está justamente na soma dessas visões e na capacidade de atender, com sensibilidade e técnica, às diferentes formas de pensar e investir.