- A moeda estrangeira atingiu a marca de R$ 4,93 no fechamento de sexta-feira (25). Foi a quarta vez que a divisa fechou a menos de R$ 5 no ano - todas durante a última semana
- Segundo Rafael Bombini, especialista em Renda Variável da EWZ Capital, o fortalecimento do real frente o dólar acontece em função do ciclo de alta dos juros
- Exportadoras da Bolsa tendem a ser impactadas e BDRs se tornam mais atrativos
O que parecia impossível há alguns meses está ocorrendo: depois de saltar 30% e atingir a máxima de R$ 5,88 em maio do ano passado, o dólar começa a cair perante o real. A moeda estrangeira atingiu a marca de R$ 4,93 no fechamento de sexta-feira (25). Foi a quarta vez que a divisa encerrou o dia a menos de R$ 5 no ano – todas durante a última semana.
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Com isso, o real saiu do posto de sexta moeda que mais se desvalorizou em 2020 frente ao dólar (-22,4%), para a quarta moeda que mais se valorizou em 2021, segundo a agência de classificação de risco Austin Rating. No total, a alta é de 3,6% no acumulado do ano, passando na frente de outras divisas fortes, como o Dólar Canadense (3,2%) e a Libra Esterlina (2,3%). A pesquisa leva em conta os dados disponíveis até o fechamento da última terça-feira (22).
Segundo Rafael Bombini, especialista em Renda Variável da EWZ Capital, o fortalecimento do real frente o dólar acontece em função do ciclo de alta dos juros. Após oito meses na casa dos 2% ao ano, entre agosto de 2020 e março de 2021, o Banco Central passou a aumentar consecutivamente a Selic em 0,75 ponto percentual nas três reuniões subsequentes.
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Atualmente a taxa está 4,25% ao ano, mais atrativa ao investidor estrangeiro, apesar de ainda em um patamar historicamente baixo para o País. “Quando o Copom sobe juros, é uma forma de frear a alta do dólar. Fazendo isso, ele torna o País mais atrativo e traz mais segurança para o investidor estrangeiro, que começa a se desfazer das suas proteções em dólar e comprar os ativos”, afirma Bombini.
Antes mesmo de subir a Selic, o BC já concentrava esforços para segurar a alta da moeda norte-americana fazendo o swap cambial. “Significa que a autoridade monetária vende as reservas de dólar para segurar a alta da moeda. Quando estava em R$ 5,80, há uns dois meses, começaram a fazer isso”, explica Bombini. “Agora já pararam porque só a alta dos juros, a retomada econômica, vacinação avançando, já alivia o câmbio.”
Thayná Vieira, economista da Toro Investimentos, ressalta também que com a Selic mais alta os investidores estrangeiros passam a buscar estratégias de carry trade. Ou seja, realizam empréstimos em moeda de país com juro baixo e efetuam aplicações em outra moeda com taxa de juro maior. “Provoca uma maior entrada de dólares na economia brasileira, gerando a valorização da moeda local. A expectativa de recuperação econômica do País também auxilia na trajetória de queda do dólar”, afirma.
E como ficam as ações?
A Bolsa, a renda fixa e o mercado imobiliário são afetados direta ou indiretamente pelas quedas no dólar. As exportadoras da B3, por exemplo, tendem a ser impactadas negativamente por essa conjuntura, já que possuem receitas na moeda estrangeira e custos de produção em reais.
É o caso de companhias relacionadas a commodities e frigoríficos. “Apesar disso, diversas empresas buscam se proteger dessa variação cambial por meio das operações de hedge (operações financeiras que buscam reduzir o risco de variações de preços)”, afirma Vieira.
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Apesar de sofrerem mais com o dólar em queda, o atual superciclo das commodities tende a continuar jogando os papéis dessas exportadoras pra cima. Isso acontece porque países do mundo todo estão iniciando suas retomadas econômicas, o que acelera a demanda por insumos, como minério de ferro, petróleo e grãos, por exemplo.
Por outro lado, a analista da Rico Investimentos Paula Zogbi ressalta que as companhias que mais se beneficiam da queda do dólar são aqueles que possuem altas dívidas no ativo. “Quedas no dólar são positivas para essas empresas que possuem dívidas na moeda ou que fazem muitas importações”, explica.
Já quando o assunto são fundos de investimentos, o segmento diretamente impactado pelo dólar são os cambiais. A maioria acompanha de perto o desce e sobe do dólar, portanto registrarão perdas com a desvalorização.
“Entretanto, acreditamos que o dólar é uma moeda forte globalmente, sendo interessante manter investimentos nesse tipo de ativo. Porém, investir diretamente na moeda (por meio dos fundos cambiais) não é a única opção para o investidor. Dentro deste aspecto, podemos efetuar alocações em ativos atrelados ao dólar, como, por exemplo, investir nas companhias brasileiras exportadoras”, explica Vieira.
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Além disso, segundo Vieira, o ETF IVVB11, cujo objetivo é acompanhar a movimentação do índice acionário S&P 500, deve também ser afetado de forma negativa, já que possui forte correlação com a moeda norte-americana.
BDRs são oportunidades
Fora os papéis convencionais, uma outra classe de ativos que deve ficar no radar do investidor com a queda do dólar são os Brazilian Depositary Receipts (BDRs), os recibos de empresas estrangeiras negociados na B3. É importante lembrar que esse investimento não possui proteção contra a variação do câmbio e se beneficia com a alta do dólar.
Logo, os BDRs estariam mais baratos para o investidor hoje, com o dólar a menos de R$ 5, do que estavam no ano passado, com o dólar próximo a R$ 6. “Antes estava muito difícil começarmos a olhar para esses ativos. Agora, com a queda, já começa a ficar interessante, pensando que o dólar deve voltar a subir no fim do ano, com a proximidade das eleições presidenciais”, afirma Bombini.
Segundo o especialista da EWZ Capital, um nível saudável de dólar para o Brasil fica entre R$ 4,80 a R$ 5. “O Paulo Guedes afirmou que acredita em dólar a R$ 4, mas eu já acho muita ousadia por conta do ano em que estamos vivendo”, afirma.
Renda fixa e fundos mobiliários (FIIs)
A renda fixa e os fundos imobiliários são afetados de maneira mais indireta. O cenário de queda do dólar deriva da alta dos juros, que tornam mais atrativos os ativos conservadores atrelados à Selic.“Investir na dívida brasileira está fazendo bastante sentido agora. Talvez seja até isso um dos motivos que sustentam essa queda do dólar”, afirma Zogbi.
Em relação aos FIIs, os fundos mais sensíveis ao dólar são aqueles que investem em terrenos para construir e revender, porque a queda do dólar podem diminuir os preços dos materiais de construção. Ainda assim, o impacto é diluído pela preocupação com uma possível tributação de dividendos.
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“Muitos investidores de FIIs estão nesse tipo de ativo por conta dos dividendos e podem ser muito prejudicados”, afirma Zogbi. “Então o efeito da queda do dólar tende a ser muito secundário e não fazer muito preço.”