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- O levantamento “Raio-X do Investidor”, produzido anualmente pela Anbima, mostra que apenas um em cada três brasileiros atualmente investe
- Hoje, a renda fixa segue recompensando bem os investidores
- Segundo o Boletim Focus, em 2024 o Brasil já terá se despedido das taxas de juros de dois dígitos, com a Selic em 9,5% ao ano
O Brasil é um país de investidores conservadores. O levantamento “Raio-X do Investidor”, produzido anualmente pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), mostra que apenas um em cada três brasileiros atualmente investe e, para 40% desse público, “segurança” é a principal vantagem de se aplicar em produtos financeiros, enquanto a expectativa de retorno financeiro foi a escolha de apenas cerca de 20% dos entrevistados.
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Embora os “gurus” do mercado financeiro jurem de pés juntos que o mercado daqui está e será cada vez mais parecido com o estadunidense, em que mais da metade da população (58%) investe em ações e outros produtos de renda variável, não é o que os números mostram. Aqui, pouco mais de cinco milhões de CPFs estão na bolsa de valores. Hoje, o total sob custódia em renda variável na B3, a bolsa de valores brasileira, é de R$ 439 bilhões, enquanto o montante na renda fixa ultrapassou R$ 1,8 trilhão, quatro vezes mais.
Com uma história econômica no mínimo atribulada do nosso país — incluindo trocas de moeda, hiperinflação e grandes crises econômicas —, não é de se impressionar que os investidores queiram seu dinheiro o mais longe de risco quanto possível e que o Brasil seja o “país da renda fixa”.
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Isso é ruim? Não necessariamente.
Onde há demanda, é necessário que o mercado trabalhe para suprir com boas ofertas. Hoje, a renda fixa segue recompensando bem os investidores. Mesmo com os cortes recentes, a Selic ainda está em 12,75% ao ano, o que faz com que produtos como o Tesouro Direto, títulos públicos com “risco soberano”, isto é, que só deixarão de ser pagos se o país quebrar (o que dificilmente aconteceria), sejam um verdadeiro filé mignon até para o mais arrojado dos investidores, que dirá a maioria conservadora. A questão é que, daqui para frente, esse filé cada vez mais terá cara (e gosto) de carne de segunda.
Com a Selic em 12,75% ao ano e inflação de 3,16% no último ano, hoje os investidores estão obtendo mais de 10% ao ano de juros acima da inflação, ou seja, não têm muito com que se preocupar. Porém, o Banco Central já sinalizou que não será conservador na hora de afrouxar a política monetária e reduzirá os juros rapidamente, tirando rendimento da renda fixa.
Segundo o Boletim Focus, do Banco Central, realizado com mais de 100 empresas do mercado financeiro, em 2024 o Brasil já terá se despedido das taxas de juros de dois dígitos, com a Selic em 9,5% ao ano. Para 2026, a expectativa é de que o indicador esteja em 8,6% ao ano. No mesmo documento, o mercado projeta o IPCA (considerado a inflação oficial do Brasil) em 3,5% em 2026. Se as previsões se confirmarem, em 2026 o ganho real dos Tesouro Direto e outros títulos de renda fixa atrelados à Selic devem cair para cerca de 5% ao ano.
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Para se ter uma ideia, esse rendimento é proporcional ao de quem atualmente está com dinheiro na poupança, que até o final de julho registrou rendimento acumulado de 8,41% nos últimos 12 meses, ou 5% de ganho real, quando retiramos os 3,16% de inflação registrada no mesmo período. E a poupança frequentemente é apontada como o pior investimento. Em um cenário como esse, quem não tem apetite a risco para ir para a bolsa, mas não quer ver a inflação derreter seu patrimônio faz o quê?
No “Raio-X do Investidor”, a Anbima aponta que mais da metade das pessoas que investem desconhecem a maioria dos produtos de investimento. Não sabem, por exemplo, que é possível investir em ativos judiciais, como precatórios, em fundos de investimento que oferecem rentabilidade de até 25% ao ano. É quase o dobro do patamar atual da Selic e com liquidez e segurança proporcional à de um título público.
Mas como? Os precatórios são dívidas do governo com pessoas e empresas que o governo é obrigado, pelo judiciário, a pagar. Geralmente, demora muitos anos, mas o governo paga. Os fundos de investimento (que não têm pressa para receber), então, negociam com desconto os títulos com credores que não querem esperar a boa vontade do governo de pagar. Esse desconto, ou “deságio”, somado à taxa Selic (que é a base de correção monetária dos precatórios), se transforma em rentabilidade para os cotistas do fundo.
O resultado é um título com previsibilidade de recebimento e baixíssimo risco, mas com rentabilidade superior. Um oásis para o futuro dos investidores de perfil conservador. O novo filé mignon que chegou para o jantar.
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*Ernesto Schlesinger – Sócio fundador da Jequitibá Investimentos, conta com três décadas de expertise em finanças, atuando em indústrias dos segmentos de bens de consumo/B2C, B2B, empresas de tecnologia e Big4. Possui MBA em Gestão Empresarial pela University of New Mexico (USA), certificação de CFO pelo IBEF (Instituto Brasileiros de Executivos Financeiros) e de Conselheiro Empresarial pelo IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).