- Como a maioria dos estudantes de escola pública, cresci rodeado de pessoas sem nenhum conhecimento sobre finanças e que tomavam decisões erradas em relação ao dinheiro. Quando terminei o colégio, não tive dúvidas, quis fazer algo para mudar isso
- Foi assim que decidi criar a Multiplicando Sonhos, um projeto para levar aulas sobre educação financeira, empreendedorismo e comportamento em relação ao dinheiro para jovens de escolas públicas
Se você pudesse escolher algo para ter começado a aprender quando ainda era adolescente, o que você escolheria? Talvez, se você tivesse frequentado aulas básicas sobre psicologia, hoje lidaria melhor com as suas emoções. Ou então, se tivesse tido aulas sobre legislação, conseguiria se defender melhor contra possíveis golpes e injustiças.
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No meu caso, eu percebi ainda na escola o que faltava na minha grade curricular: educação financeira. Como a maioria dos estudantes de escola pública, cresci rodeado de pessoas sem nenhum conhecimento sobre finanças e que tomavam decisões erradas em relação ao dinheiro. Quando terminei o colégio, não tive dúvidas, quis fazer algo para mudar isso.
Foi assim que, quando iniciei a universidade no curso de Comércio Exterior, eu decidi criar a Multiplicando Sonhos, um projeto para levar aulas sobre educação financeira, empreendedorismo e comportamento em relação ao dinheiro para jovens de escolas públicas. O plano saiu do papel em 2019 e, já na primeira escola, foi um sucesso.
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Tivemos muitos casos incríveis de alunos que tiveram suas vidas transformadas por meio das nossas aulas, muitos deles citados em textos dessa coluna que tenho o prazer de assinar aqui no E-investidor. Em 2020 e 2021, com a pandemia, fizemos questão de continuar gerando esse impacto por meio de plataformas digitais, mas confesso que eu estava louco para voltar à boa e velha sala de aula. Quem é educador, sabe bem do que eu estou falando: o olho no olho, a conexão com os alunos, a troca, tudo isso é muito mais facilitado quando estamos juntos dos alunos.
Nossa volta presencial começa agora em março na Escola Estadual Barão de Ramalho, no bairro da Penha, zona leste de São Paulo. A escola foi escolhida após visitas da nossa equipe. Conversando com o diretor, Jerônimo da Silva, e as vice-diretoras Janete Aparecida Souza e Giseli de Campos, vimos o poder da dedicação de um grupo de pessoas e, mais uma vez, a importância de uma boa gestão financeira.
É fato que o nosso estado e o nosso País carecem ainda de investimentos em educação básica. Porém, alguns gestores de escolas conseguem fazer coisas incríveis com os poucos recursos que têm. Como isso é possível? Bom, utilizando as mesmas boas práticas que ensinamos aos alunos em nosso curso: saber escolher prioridades, ter um plano de metas bem definido e utilizar o dinheiro de forma inteligente.
A Barão de Ramalho investiu pesado em tecnologia nos últimos anos. Capacitou os professores para o ensino à distância e entendeu que, mesmo com a volta do ensino presencial, será impossível retornar a um plano pedagógico que não converse com o mundo digital. Por isso, compraram televisores com interação via “touch” para agregar tecnologia ao aprendizado em sala de aula.
A escola também foi toda reformada, o que, convenhamos, faz toda a diferença no dia a dia dos alunos e na motivação deles em estudar. Aliás, tudo foi feito pensando em como atraí-los de volta para a escola, inclusive a adesão à Multiplicando Sonhos.
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“Nossa expectativa em relação à Multiplicando Sonhos aqui na escola é grande. Além de trazer o conhecimento proposto, o que já é muito válido, esperamos que o projeto sirva de motivação para os alunos retornarem à escola mais motivados”, explica Janete Aparecida de Melo, vice-diretora da escola. “Depois de todo esse tempo em casa, muitos deles perderam o interesse pela sala de aula”, justifica.
A chegada da Multiplicando Sonhos
Para a vice-diretora Janete, projetos como a Multiplicando Sonhos são essenciais para trazer dinamismo para o dia a dia escolar. “A maioria dos nossos alunos do período noturno trabalha durante o dia e já chega aqui cansada. Por isso, quanto mais a gente potencializa o desejo deles em vir para a escola, oferecendo projetos diferentes, que trazem coisas novas para eles, melhor”, diz.
Além disso, é imprescindível trazer conteúdos que conversem com o dia a dia deles. Muitos já trabalham ou estão prestes a entrar no mercado de trabalho. Eles já lidam com dinheiro e alguns até mesmo já estão endividados, como mostram as pesquisas anuais de endividamento da Serasa.
Segundo a instituição, uma média de 40% dos jovens estão ou estiveram endividados entre os anos 2018 e 2021. As principais dívidas são com cartão de crédito (29%) e lojas (21%). Ao mesmo tempo, o SPC Brasil mostra que 47% dos jovens com idade entre 18 e 30 anos não fazem controle dos gastos e 65% contribuem financeiramente para o sustento da casa.
Entre os motivos para esses jovens terem dificuldade de organizar as finanças estão a falta de conhecimento, maus exemplos na infância e em casa, o acesso ao crédito facilitado e a novidade de administrar o próprio orçamento. Tudo isso acaba os tornando mais vulneráveis ao endividamento.
A educação financeira quebra esse ciclo e possibilita que os jovens tomem melhores decisões e se planejem para o futuro. “Nossos alunos muitas vezes chegam aqui com problemas diversos e o que mais precisam é de alguém que os escute. Eles projetam em nós o pai ou a mãe que eles gostariam de ter e isso é uma grande responsabilidade para a escola”, comenta Janete.
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Para atuar de forma eficiente, no entanto, é importante falar sobre educação financeira de forma acessível e que faça sentido para o projeto pedagógico da escola. “Todas as oito aulas apresentadas no projeto da Multiplicando Sonhos conversam com os nossos alunos e com a proposta curricular. Isso nos fez aderir ao projeto”, diz a vice-diretora.
Fazendo a diferença
Além da MS, a Barão de Ramalho já recebeu outros programas oferecidos por universidades, como projetos de orientação profissional com estudantes de psicologia. Isso nos mostra que além de cobrar as autoridades para dar mais atenção à educação, é importante que nós mesmos sejamos a transformação que queremos ver no mundo.
Assim como a Multiplicando Sonhos, outros projetos apoiam às escolas com iniciativas incríveis. A Nova Escola lançou recentemente uma plataforma com várias ferramentas que ensinam os professores a levar a educação financeira de maneira prática, leve e fácil para alunos que estão ingressando na vida escolar. O material contempla desde creches, até o 9º ano do ensino fundamental.
Outra iniciativa que também está somando forças com as escolas e vale a pena citar aqui é o Estudar Vale a Pena, que trabalha com os estudantes do ensino médio temas como aprendizagem, participação na escola, mercado de trabalho, dentre outros.
O que você acha que poderia ser diferente? E o que você pode fazer para isso? Que conhecimento você tem e pode oferecer a quem mais precisa? Por aqui, já somos mais de 120 “multiplicadores de sonhos”. Saiba como se juntar a nós no nosso site.
Eu somo para multiplicar. E você?
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(Colaboração de Giovanna Castro)