- Muitos fundos ficaram pelo caminho encerrando suas atividades, particularmente quando o desempenho ficou aquém do esperado, frustrando os cotistas que depositaram suas economias nas mãos dos gestores
- Falando especificamente de fundos de ações (FIAs), já existiram cerca de 6 mil FIAs com registro na CVM, mas apenas a metade está viva
- Muitos estudos sobre desempenho de fundos 'se esquecem' de averiguar o que estes fundos mortos 'têm a dizer'. E eles têm muito a revelar
A indústria de fundos no Brasil cresce ano a ano, tanto em número de produtos como na diversidade de suas estratégias. Um bom exemplo deste crescimento é a oferta de fundos domésticos que servem como espelhos de fundos internacionais.
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Há não muito tempo o investidor brasileiro tinha que mandar o dinheiro para fora para depois alocar em famosos fundos domiciliados em Luxemburgo, Irlanda ou qualquer outro lugar. Com a chegada ao mercado destes fundos espelho, os brasileiros passaram a ter a comodidade de investir lá fora usando veículos constituídos aqui dentro.
Porém, nem tudo são flores. Muitos fundos e gestoras ficaram pelo caminho encerraram suas atividades, particularmente quando o desempenho ficou aquém do esperado, frustrando os cotistas que depositaram suas economias nas mãos dos gestores.
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Falando especificamente de fundos de ações (FIAs), já existiram cerca de 6 mil FIAs com registro na CVM, sendo que aproximadamente 3 mil ainda estão em funcionamento normal. Ou seja, apenas a metade está viva.
Isto é explicado, pelo menos em parte, porque quando o fundo vai mal, a gestora pode descontinuá-lo mantendo apenas os que estão indo bem. Seria uma espécie de “seleção natural forçada”. Contudo, fundos mortos deixam rastros.
Este fato é interessante pois muitos estudos sobre desempenho de fundos “se esquecem” de averiguar o que estes fundos mortos “têm a dizer”. E eles têm muito a revelar.
Estudo proposto
A ideia do estudo é, para cada gestora, verificar a proporção dos FIAs que bateu o IBOV, considerando o rendimento do fundo entre a sua primeira e última cota.
Se o fundo estiver ativo, a última cota é a mais recente publicada. Se o fundo estiver morto, usa-se a última cota válida do fundo.
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Alguns detalhes metodológicos a se ter em mente:
- Serão considerados todos os FIAs de todas as gestoras em que a primeira cota do fundo seja posterior a 31/12/1999;
- Serão considerados tanto os fundos vivos como os mortos;
- Serão consideradas tanto as gestoras vivas como aquelas que já não estão mais entre nós;
- O retorno do fundo considerado no estudo é dado pela variação entre a primeira cota do fundo e a última. Logo, trata-se de um estudo price return since inception;
- O benchmark empregado será o IBOV. O retorno do IBOV corresponde ao mesmo período dado entre a primeira e a última cota de cada fundo.
Resultados:
Na primeira bateria de testes, considerei apenas gestoras que têm/tiveram pelo menos 20 Fundos de Ações.
A ATMOS, por exemplo, dos 33 fundos de ações que entraram no estudo, 32 apresentaram retorno durante suas vidas superior ao do IBOV.
Já no caso da NUCLEO, dos 35 fundos de ações que entraram no estudo, 31 apresentaram retorno durante suas vidas superior ao do IBOV.
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São resultados excelentes!
Por outro lado, nestes 20 anos de estudo, mais de 170 gestoras de FIAs não tiveram sequer um fundo que batesse o IBOV considerando o retorno desde o início até a sua última cota.
Também fiz outros recortes considerando gestoras que tiveram de 10 a 20 fundos e de 5 a 10 fundos, e que por falta de espaço não os divulguei aqui.
Em relação às gestoras que já tiveram entre 10 e 20 fundos, um destaque é a gestora STK. Nossos estudos indicam que ela possui 14 FIAs, 7 ativos e 7 descontinuados. Mas, todos estes 14 fundos renderam mais que o IBOV nas suas respectivas vidas.
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Por último, se eu pudesse resumir as vantagens da abordagem feita neste levantamento, eu citaria duas:
- O recorte é por gestora de fundos de ações;
- São considerados fundos vivos e mortos de modo que o estudo fica vacinado contra à famosa tática de “matar” fundos que não possuem bom desempenho.
Consigo enxergar algumas fragilidades no estudo. Uma que me incomoda é o fato de não detectar gestoras que fecharam e abriram com outro nome/CNPJ. Mas isso é um excelente ponto para novas pesquisas.