- A viralização de conteúdos na internet abre oportunidades de atrair grandes marcas que fechar parcerias de publicidade
- Os retornos, embora pontuais, costumam ser bem maiores do que o de um emprego formal em regime CLT
- Mas a atividade efêmera da internet exige dos influencers um planejamento financeiro que possa garantir um patrimônio no futuro
O público aguardava ansioso pelo início da palestra de um dos principais nomes do Gramado Summit 2023, conferência de inovação tecnológica e de empreendedorismo, ocorrida em abril. Quando subiu ao palco, a psicóloga e influencer Lorrane Silva, mais conhecida como Pequena Lô, foi recebida com aplausos de centenas de pessoas. Uma cena que, talvez, não imaginasse vivenciar há alguns anos, mas que se tornou realidade graças aos seus conteúdos publicados na internet.
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O início da sua trajetória como digital influencer até ser reconhecida nacionalmente pelo seu trabalho aconteceu em 2015, quando decidiu seguir a sugestão de um amigo publicitário para gravar vídeos de humor para as redes sociais. Na época, Lô não tinha ideia de como o seu lado humorístico poderia lhe levar tão longe, mas a repercussão do seu primeiro vídeo em 2020 mostrou a sua capacidade artística. E essa grande virada deu início a uma carreira de remuneração bem acima do que ganham, em média, os brasileiros.
“Passei a gravar seis vídeos por dia, mas nunca fiz algo muito profissional para manter a essência, porque foi assim que os meus seguidores me conheceram. Só que comecei a comprar perucas e acrescentar outros itens nos meus personagens”, disse a influenciadora, em entrevista ao E-Investidor. “Tenho uma grande equipe trabalhando comigo”, acrescentou.
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Hoje, o perfil da Pequena Lô no Instagram conta com mais de 4,5 milhões de seguidores. Entre eles, estão alguns famosos, como Tatá Werneck, Fátima Bernardes e Anitta. No TikTok, o número é ainda maior, supera os seis milhões de seguidores. O tamanho da sua audiência na internet chama a atenção de inúmeras marcas, como Rexona e OMO, que encontram no seu perfil um canal de divulgação.
“Ganhar dinheiro vem como consequência, não sabia o tamanho das marcas que eu ia ter oportunidade de trabalhar”, afirmou. Foi neste momento que a vida da Pequena Lô se deparou com uma nova mudança: a de padrão de vida. Com uma realidade financeira bem diferente depois da fama, a influencer precisou aprender a aproveitar o estouro na internet para construir o seu patrimônio. “Faço investimentos e guardo dinheiro, porque tudo pode mudar da noite para o dia, como aconteceu comigo: dormi anônima e acordei com milhões de seguidores”, contou.
Um bom negócio
O padrão de vida do administrador Leonardo Bagarolo e da sua esposa e economista Evelin Camargo também sofreu uma reviravolta por causa da internet. Assim como a Pequena Lô, os conteúdos de humor produzidos pelo casal ganharam notoriedade nos últimos três anos ao ponto dos dois decidirem abrir mão dos seus empregos formais para viver da produção de vídeos na internet.
A decisão não foi fácil de ser tomada, mas as inúmeras oportunidades de renda que as redes sociais ofereceram motivaram o casal a explorar este mercado. “Foi difícil me desprender porque o regime CLT te dá uma certa segurança, mas quando eu percebi que ganhei em três meses consecutivos o que ganhava em um ano vi que estava dando certo”, afirmou Bagarolo.
O clique para essa percepção ocorreu quando os dois receberam o primeiro convite de parceria. Segundo Bagarolo, uma aplicativo de delivery propôs uma campanha de seis meses para o perfil no TikTok no valor de R$ 8 mil. “Não sabíamos como fazer esse tipo de ação”, ressaltou. A primeira experiência os levaram para a profissionalização dos contratos de parceria com as marcas.
Hoje, o casal possui um pacote de serviços com valores pré-definidos que podem variar conforme o tempo do contrato e o perfil que a marca deseja estar vinculada. “Normalmente, oferecemos um pacote de um reels com uma sequência de stories, com report ou não, no tik tok. Antes, cobrávamos cerca de R$ 4 mil. Agora, fica em torno de R$ 10 mil a R$ 18 mil”, detalhou.
Como fica o amanhã?
As inovações tecnológicas mudam a dinâmica e as tendências de comunicação em curto período de tempo. Há dez anos, o YouTube era a principal rede social que oferecia uma oportunidade de ganhar dinheiro na internet com a produção de conteúdo. Logo depois, apareceram Snapchat, Instagram e TikTok. A característica efêmera dessas plataformas exige dos influenciadores educação financeira para aproveitar os momentos de fama e construir um bom patrimônio.
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“Eu sou muito ruim para gastar. Guardo muito bem o meu dinheirinho e faço investimentos em imóveis, porque acho que oferece um bom retorno”, afirmou a Pequena Lô, ao falar sobre como busca aplicar o próprio dinheiro. Ao ser questionada se tinha interesse em investir na Bolsa de Valores, a influencer não descartou a possibilidade de entrar em breve para os mundos dos investimentos de renda variável. “Já me deram essa dica. Estou vendo”, contou.
Já Bagarolo decidiu contratar um plano de previdência privada e conta com o serviço de uma assessoria de investimentos responsável pelas suas aplicações financeiras, tanto em ativos de renda fixa quanto de renda variável. “Não fazemos essas aplicações, mas as decisões sempre são conversadas”, disse o influencer.
A busca por profissionais especializados em mercado financeiro é a principal orientação de Sigrid Guimarães, sócia-fundadora da Alocc Gestão Patrimonial, aos influencers que desejam construir um bom patrimônio financeiro. “Por ser um assunto difícil, há diversas armadilhas que podem colocar o dinheiro em risco e resultar em um grande prejuízo, ou até cair em fraudes”, alertou.
A outra tarefa a ser realizada antes de ir para os mundos dos investimentos consiste em entender a capacidade de poupar e quanto custa o padrão de vida. O ideal é que os influencers iniciem esse processo desde o início para tornar o processo de planejamento financeiro ainda mais fácil. E mais, aplicando as recomendações dos especialistas de reservar pelo menos 20% a 30% da renda mensal para os investimentos
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“Quanto mais cedo se organizarem, mais cedo conseguem se aposentar. E quando falo em se aposentar estou me referindo a ter uma renda passiva capaz de cobrir o custo de vida”, explicou Guimarães. O planejamento financeiro desde o início da carreira também ajuda os influencers a manter o padrão de vida abaixo do valor mensal que conseguem tirar com publicidade.
Simulação
Sem esse trabalho feito antes, o reajuste dos custos para obter mais espaço de poupança se torna bem mais difícil. “Se a tua renda dobrou, não dobre o seu padrão de vida”, recomendou Gabriela Mosmann, Head de Wealth Planning na Suno Research. Com essa consciência, esses profissionais conseguem facilmente “se aposentar” em dez anos caso apliquem parte do dinheiro em uma carteira diversificada. É o que mostra uma simulação feita pela Alocc Gestão Patrimonial.
Ao considerar uma remuneração média mensal de R$ 50 mil e R$ 100 mil – valor que corresponde a influencers de média e alta relevância no mercado, a capacidade de poupança pode ficar entre R$ 180 mil a R$ 360 mil por ano caso o influencer destine 30% do que ganha para investimentos.
Com esse poder em mãos, os criadores de conteúdos podem acumular em uma década um patrimônio de R$ 2,2 milhões para aqueles com renda mensal de R$ 50 mil e de R$ 4,5 milhões para quem ganha em média R$ 100 mil por mês.
Se esse montante acumulado for aplicado em uma carteira diversificada com uma taxa de juros real a 5% ao ano, o volume proporcionaria a esses profissionais uma renda passiva entre R$ 9,4 mil a R$ 16,18 mil por mês.
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A carteira diversificada é a principal saída para quem busca uma renda passiva no futuro. No entanto, isso não significa que o início desses investimento precisa ser feito com aplicações em ativos de risco. Mosmann, da Suno Research, sugere entrar no mundo dos investimentos aos poucos, começando pelos títulos públicos, que são os investimentos menos arriscados do mercado.
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“Dá para estudar um pouco sobre debêntures. Talvez, buscar fundos imobiliários ou fundos de investimentos para no futuro entrar em uma renda variável. Sugiro focar primeiro em uma renda fixa para ter essa segurança”, recomendou Mosmann.