Comportamento

Dia da Igualdade Feminina: como andam as finanças das mulheres no País

Pesquisa da Febraban mostra que 15,1% das brasileiras possuem saúde financeira ruim, ante 8,3% dos homens

Dia da Igualdade Feminina: como andam as finanças das mulheres no País
No quesito financeiro, mulheres ainda enfrentam grandes entraves. Foto: Envato Elements
  • Estudo nacional, realizado com cerca de 5 mil pessoas em 2020, foi guiado pelo Índice de Saúde Financeira do Brasileiro (I-SFB), um indicador desenvolvido pela Febraban em parceria com o Banco Central
  • Para avaliar o bem-estar das finanças em uma escala de 0 a 100, o I-SFB se baseia nos quatro componentes da saúde financeira e no contexto socioeconômico do País, mensurado pela renda total da família
  • Sarai Molina, gerente de produtos da Ágora Investimentos, diz que a mulher desempenha o papel de guardiã do lar e utiliza o salário principalmente para o bem-estar da família, enquanto o homem costuma gastar com tecnologia, bens e fontes de novos recursos

(Amanda Calazans, especial para o E-Investidor) – O Dia da Igualdade Feminina é celebrado nesta quinta-feira (26). Mas no quesito financeiro elas ainda enfrentam grandes entraves. Este é mais um dos aspectos em que as mulheres têm sido prejudicadas, principalmente pela desigualdade salarial em relação aos homens.

De acordo com um levantamento recente realizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), 15,1% das brasileiras possuem saúde financeira ruim, ante 8,3% dos homens. Na categoria considerada “muito baixa”, elas representam 23,4% enquanto eles, 18,8%. A participação das mulheres diminui conforme as classificações aumentam.

O estudo nacional, realizado com cerca de 5 mil pessoas em 2020, foi guiado pelo Índice de Saúde Financeira do Brasileiro (I-SFB), um indicador desenvolvido pela Febraban em parceria com o Banco Central do Brasil.

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

Para avaliar o bem-estar das finanças em uma escala de 0 a 100, o I-SFB se baseia nos quatro componentes da saúde financeira e no contexto socioeconômico do País, mensurado pela renda total da família.

Para Amaury Oliva, diretor de cidadania financeira da Febraban, a pontuação baixa das mulheres foi uma surpresa na pesquisa, uma vez que elas participam de mais programas governamentais como o Minha Casa Minha Vida, que financia o imóvel da família em nome delas. O que puxou o índice feminino para baixo, segundo Oliva, foi a disparidade da base financeira. “As mulheres têm mais conhecimento e habilidade, mas a renda dos homens é maior”, afirma.

A percepção de que a mulher tem uma saúde financeira pior não é novidade para Sandra Blanco, estrategista da Órama Investimentos.

Além de as mulheres receberem, em média, um salário equivalente a 77,7% ao dos homens, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019, Blanco também aponta como comprometimento da saúde financeira feminina o fato de as mães ficarem com a guarda dos filhos em uma separação.

“Essa conta não fecha”, avalia a estrategista. Na Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo, 39% das famílias são chefiadas por mães, informa a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). Vale destacar, contudo, que a renda desses lares é 30% menor em relação ao das mulheres com parceiros para dividir as despesas.

Publicidade

Blanco ressalta ainda que a mulher também necessita de mais dinheiro porque vive mais. A colocação da estrategista faz sentido. De acordo com o IBGE, a expectativa de vida média da brasileira é de 80,1 anos, sete a mais que a do homem. “Ela precisaria guardar mais dinheiro hoje para a sua aposentadoria. E o fato de ela estar em déficit na idade adulta prejudica a segurança e o conforto do futuro”, diz.

Guardiã do lar

Para Sarai Molina, gerente de produtos da Ágora Investimentos, a mulher desempenha o papel de guardiã do lar e utiliza o salário principalmente para o bem-estar da família, enquanto o homem costuma gastar com tecnologia, bens e fontes de novos recursos. No último censo demográfico realizado pelo IBGE, o percentual médio de contribuição no rendimento familiar das mulheres era de 40,9%.

Esse é o caso de Elaine Conceição, de 39 anos, que contribui com cerca de 70% do salário para a casa em Salto de Pirapora, município de São Paulo onde vive com o marido e quatro filhos. Há dois anos, no entanto, ela teve o nome negativado, quando perdeu o emprego de operadora de caixa.

Conceição melhorou a saúde financeira ao fazer o curso de Técnico em Enfermagem, que a recolocou no mercado de trabalho e reforçou sua renda mensal. Ela negociou as dívidas, quitou os saldos e recuperou o crédito. “Hoje eu penso de outra maneira”, diz a técnica em enfermagem, que agora toma mais cuidado ao fazer contas.

De acordo com a Serasa Experian, que produz indicadores econômicos para o comércio, não há muita diferença de gênero no perfil de inadimplentes – 50,1% são mulheres -, mas elas negociam mais as dívidas do que os homens: 53% ante 47% deles.

Realizada durante a pandemia de covid-19, a pesquisa da Febraban pode ter refletido o cenário de desemprego feminino amplificado pelo fechamento dos serviços, observa Mariana Ribeiro, analista da Xpeed School. “A gente sabe que as mulheres perderam mais emprego por serem cuidadoras e não terem onde deixar crianças e idosos”, diz ela. De acordo com o IBGE, o terceiro trimestre de 2020 teve uma taxa de ocupação feminina 14% menor que a do mesmo período do ano anterior.

Pandemia impulsiona mulheres na B3

Essa preocupação com a família também contribuiu para aumentar o interesse feminino por investimentos durante a crise sanitária. “A possibilidade de perder o emprego ou eventuais problemas de saúde criaram um alerta para a necessidade de as famílias fazerem uma reserva de emergência”, diz Molina, da Ágora.

Publicidade

De 2018 para cá, o percentual de novos registros de investidoras na B3 também saltou – até agora, o aumento de 2021 em relação ao ano passado é de 27,84% -, enquanto o dos homens, embora majoritariamente maior, tem sofrido uma redução a cada ano.

O tempo maior em casa, disponibilidade para buscar informações sobre investimentos com influenciadores e especialistas, pode ter contribuído para o primeiro milhão de mulheres registradas na Bolsa de Valores brasileira. A marca foi cravada em abril deste ano. “A educação financeira é infinita. A investidora vai sempre ter que estudar, porque envolve comportamento humano”, diz a gerente da Ágora.

Recortes necessários

A pesquisa da Febraban não detalhou a saúde financeira das mulheres por idade ou região do País. Segundo Ribeiro, da Xpeed School, a mensuração desses dados é necessária para medir uma piora no índice.

Além disso, não foi feito o recorte racial. Para o diretor de cidadania financeira da Febraban, como a renda teve impacto no resultado dos gêneros, provavelmente o estudo apontaria uma diferença entre raças. “É importante evoluirmos cada vez mais”, diz o diretor da federação. Uma nova pesquisa está prevista para 2022.

Veja os detalhes sobre a saúde financeira dos brasileiros:

Índice de Saúde Financeira Homens Mulheres
Ruim 8,3% 15,1%
Baixa 18,8% 23,4%
Muito baixa 16,1% 15,1%
Ok 10,2% 9,9%
Boa 15,2% 13,4%
Muito boa 21,3% 17,2%
Ruim 10,1% 5,9%

Fonte: Febraban

Informe seu e-mail

Faça com que esse conteúdo ajude mais investidores. Compartilhe com os seus contatos