- O pessimismo no cenário macroeconômico e os problemas de solvência de plataformas de criptomoedas são os grandes responsáveis pelo “inverno cripto”
- No entanto, a intensa queda pode ser vista como uma oportunidade de investimento e os ETFs podem minimizar os riscos de investimento
- Até o momento, Há 12 ETFs sendo negociados em bolsa com exposição em diversas classes de criptomoedas
O mercado de criptomoedas segue em um momento turbulento. Já não bastasse o cenário de retração econômica com o aumento da taxa de juros nos mercados globais, a performance dos ativos digitais também tem sido impactada pelos recentes casos de solvência de plataformas de criptomoedas. No acumulado do mês de junho, o bitcoin, maior criptomoeda em valor de mercado, caiu 37,3% e já chegou a ser negociada neste mês de julho abaixo dos US$ 20 mil.
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Segundo o Mercado Bitcoin, o desempenho de junho foi o pior deste ano e o terceiro pior mês da história do BTC. Esta situação exige mais cautela do investidor para não perder ainda mais dinheiro neste período de aversão ao risco. Por outro lado, o momento também pode representar uma oportunidade de compra para quem visa retornos no médio e no longo prazos. Caso o investidor tenha este foco, as alocações em ETFs (Exchange Traded Fund, na sigla em inglês) de criptomoedas podem ser uma alternativa mais prática e de menor risco, segundo avaliação de especialistas.
Isso acontece porque esses produtos financeiros, além de serem negociados em um ambiente regulado, possuem uma equipe de gestão atuando nos bastidores que realiza a seleção dos melhores ativos digitais a partir de uma metodologia própria.
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“As decisões são delegadas a um gestor profissional, que junto a uma equipe realiza as análises, a montagem do portfólio em busca de rentabilidade e o gerenciamento dos riscos. O investidor não precisa se preocupar em analisar tão profundamente o mercado, decidir quais ativos comprar e como custodiar”, explica Ayron Ferreira, Head Researcher da Titanium Asset.
Essas características não significam que o investidor só precise deixar parte dos seus recursos em qualquer ETF com exposição a criptomoedas para ter bons retornos financeiros. Embora o risco seja menor, é preciso avaliar se os objetivos do produto estão alinhados com as suas expectativas de rentabilidade, entender as especificidades do produto e avaliar o histórico da gestão responsável pela oferta do fundo ou do ETF.
Outro ponto que também deve entrar na “conta” é o custo com as taxas de administração dos ETFs. De acordo com Cazou Vilela, CMO do Zro Bank, como há uma disposição de profissionais para mitigar os riscos e selecionar os melhores ativos digitais, há um custo atrelado a esse trabalho. “Quando você tem grandes valores em fundos a sua taxa de administração vai ser cara porque ela é calculada em cima do total de valor investido”, alerta Vilela.
Na B3, há um total de 12 ETFs de criptoativos sendo negociados. Os produtos possuem uma taxa de administração entre 0,7% e 1,3% ao ano e a maioria foi lançada no mercado ao longo do primeiro semestre de 2022. Do total de ofertas disponíveis na Bolsa, dois ETFs são classificados como “amplos”, ou seja, investem em várias categorias de criptomoedas; seis são temáticos – focados em ativos digitais que representam um determinado segmento dentro do mercado de criptoativos, como metaverso ou contratos inteligentes–; e quatro são considerados “monoativos”, que são aqueles voltados apenas para um tipo de moeda, como o BTC ou o ethereum.
No acumulado do mês de junho, todos ETFs apresentaram quedas, mas os temáticos foram os que apresentaram os menores recuos, na casa dos 20%, segundo levantamento produzido pela ETF Data. Para João Galhardo, analista de criptomoedas e sócio da Quantzed Criptos, os índices temáticos apresentaram uma queda menos acentuada porque esses produtos financeiros são formados por altcoins, termo utilizado para tokens e criptomoedas que não são bitcoin.
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A performance dos ETFs de criptomoedas listados na B3
ETF | Data de lançamento | Taxa de adm. Total | Retorno em junho* | Retorno no acumulado do ano ** |
Empiricus Teva Criptomoedas (CRPT11) | 5/12/2022 | 0,75% | -34,97% | n.a. |
Hasdex Nasdaq Crypto Index (HASH11) | 4/22/2021 | 1,30% | -36,14% | -63,34% |
Hasdex Crypto Metaverse (META11) | 6/3/2022 | 1,30% | -20,76% | n.a. |
Investo Vaneck ETF Cripto Media & Entertainment Leaders (NFTS11) | 4/4/2022 | 0,75% | -23,08% | n.a. |
QR Bloomberg DEFI (QDFI11) | 2/8/2022 | 0,90% | -23,35% | n.a. |
Hashdex Smart Contract Platforms (WEB311) | 3/30/2022 | 1,30% | -27,38% | n.a. |
Hashdex Defi Index (DEFI11) | 2/15/2022 | 1,30% | -28,08% | n.a. |
Investo Vaneck ETF Crypto Compare Smart Contract Leaders (BLOK11) | 6/20/2022 | 0,75% | n.a. | n.a. |
QR CME CF Bitcoin Reference Rate (QBTC11) | 6/22/2021 | 0,75% | -33,34% | -59,49% |
Hashdex Nasdaq Bitcoin Reference Rate (BITH11) | 8/3/2021 | 0,70% | -34,46% | -58,46% |
Hashdex Nasdaq Ethereum Reference Price (ETHE11) | 8/17/2021 | 0,70% | -42,21% | -70,55% |
QR CME CF Ether Reference Rate (QETH11) | 8/3/2021 | 0,75% | -42,24% | -71,92% |
Fonte: ETF Data/*Apenas o BLOK11 não apresentou retorno no acumulado de junho devido à sua data de lançamento /**Apenas os índices lançados antes de 2022 apresentaram retornos no acumulado do ano (03.01.2022 a 06.07.2022) |
“Os investidores de varejo em sua maior parte já venderam suas posições, enquanto os institucionais que possuem posições maiores não enxergaram ainda um momento ideal para vender suas altcoins a preços melhores do que comparam, ainda mais levando em conta que os fundamentos da maior parte dos projetos seguem firmes”, avalia Galhardo.
Além disso, os ETFs com exposição ao metaverso, a web 3.0 e a DeFi (finanças descentralizadas) costumam ser formados por criptoativos com protocolos bem fundamentados e que devem crescer à medida que essas tecnologias forem se aperfeiçoando. O mercado tem boas perspectivas para essas novas tecnologias. No fim do ano passado, o banco Goldman Sachs informou, por meio de um relatório, que o metaverso poderá ter grandes impactos para a indústria financeira. Já Cathie Wood, CEO da Ark Invest, disse em entrevista à CNBC, também em dezembro de 2021, que acredita no potencial multitrilionário dessa tecnologia.
Por esse motivo, Guilherme Rebane, head da América Latina da OSL, a atual queda pode significar boas oportunidades de investimento para quem ainda não tem exposição. No entanto, o investidor precisar estar ciente que novas volatilidades podem acontecer. “Não está descartado que possamos ver ainda uma maior desvalorização no horizonte, caso o ambiente macroeconômico siga se deteriorando para os ativos de risco e consequentemente para os ativos digitais”, alerta.
Além dos ETFs disponíveis na B3, algumas plataformas digitais oferecem tokens com uma proposta semelhante ao produto negociado em bolsa. No Mercado Bitcoin, por exemplo, há a oferta de dois ativos que fazem referências a índices com exposição ao metaverso e aos projetos relacionados a DeFi. Segundo Fabrício Tota, diretor de novos negócios do Mercado Bitcoin, a lógica dos tokens segue a mesma dos ETFs disponíveis na B3, assim como as suas vantagens.
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“É uma forma barata e rápida do investidor diversificar porque em uma operação você compra uma cesta de ativos. Há uma metodologia por trás do índice para a escolha dos ativos e, consequentemente, o token indexado segue a mesma lógica. E você tende a ter uma menor volatilidade porque há vários ativos”, detalha Tota.
Os dois produtos disponíveis são: o Metaverse Index (MVI), composto pelos principais projetos que possuem relação às propostas de Metaverso, e o Defi Pulse Index (DPI), que oferece aos investidores exposição aos principais projetos relacionados a finanças descentralizadas.
Inverno cripto
Os últimos meses foram de intensa volatilidade para o mercado de criptoativos. O movimento de alta de juros trouxe o clima de aversão ao risco entre os investidores, o que ajudou a intensificar as quedas das moedas digitais. No acumulado de junho, o BTC registrou recuo de 37,3%, segundo dados do Mercado Bitcoin. Devido ao tombo, a maior criptomoeda em valor de mercado chegou a ser negociada abaixo dos US$ 20 mil.
“A gente já vinha numa tendência ruim, mas muito por conta do ambiente macroeconômico fora do mercado cripto. O problema é que tivemos uma notícia ruim que desencadeou outras ruins dentro do mercado criptoativos sem nenhuma relação com o mercado global. Aí não tem suporte (de US$ 20 mil) que segure”, ressalta Tota.
No último mês de maio, o colapso do ecossistema Terra (LUNA) acentuou a queda no mercado de criptoativos ao registrar um tombo de 98,8% em apenas 24 horas. No mês seguinte, o banco de criptomoedas Celsius Network congelou saques e transferências para estabilizar a liquidez na companhia. A medida causou queda de 11% para o bitcoin.
Uma semana depois foi a vez da corretora Voyager Digital que emitiu um aviso de inadimplência do fundo Three Arrows Capital (3AC) de mais de US$ 670 milhões, contaminando ainda mais o mercado e impedindo, neste caso, a recuperação dos ativos digitais. Já nesta quarta-feira (6), a corretora entrou com um pedido de recuperação judicial.
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Aliado a esses problemas e com o risco de uma recessão econômica nos principais mercados, como o dos Estados Unidos, os analistas acreditam que ainda é cedo e, até impossível, para prever o fim do ciclo de queda do mercado de criptoativos. “São muitos fatores de influência. Uma regulação favorável pode acabar com esse pessimismo, mas se o cenário de taxa de juros permanecer por muito tempo o inverno cripto pode ir longe. São muitas variáveis macroeconômicas que podem influenciar”, avalia Vilela.
Para investir nestes períodos de baixa, o principal conselho é realizar pequenos aportes e com foco nos retornos de longo prazo. “Você está numa baixa histórica do mercado de cripto. Então, há uma probabilidade maior do investidor que começar a se expor agora ter bons resultados, mas olhando para o longo prazo”, orienta Ferreira.
A perspectiva de ganhos acontece porque os analistas ressaltam que os fundamentos do bitcoin seguem “intactos” mesmo com o movimento de queda e que o mercado de criptoativos ainda possui pouco capital (em comparação as outras classes de ativos), o que aumenta a possibilidade da migração de novos recursos à medida que o mercado for amadurecendo.