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Criptomoedas

Por que bancos tradicionais ainda não entraram na onda das criptomoedas?

Dos 5 grandes bancos, apenas 2 oferecem criptos aos clientes; 4,1 milhões de brasileiros investem neste mercado

Por que bancos tradicionais ainda não entraram na onda das criptomoedas?
As criptomoedas são classificadas pelo mercado financeiro como investimentos de alto risco (Foto: Envato Elements)
  • O Banco do Brasil Asset lançou, no fim de 2022, o fundo com exposição em criptoativos apenas para investidores qualificados
  • Já o Itaú Asset iniciou as ofertas de compra e venda de criptos sob custódia no fim do ano passado para a sua base de clientes
  • Até o momento, segundo dados da Receita Federal, mais de 4,1 milhões de brasileiros investem em criptomoedas

A aprovação dos ETFs de bitcoin à vista nos Estados Unidos, em janeiro, representou um avanço importante em direção ao amadurecimento das criptomoedas como opções de investimento. Agora, com a oferta dos 11 fundos em três bolsas de valores americanas, há uma expectativa de um fluxo relevante do capital institucional para o bitcoin, que é a maior criptomoeda do mercado. E a recente consulta pública feita pelo Banco Central (BC) para criar uma regulação de criptoativos no Brasil reforça a segurança para as instituições financeiras tradicionais que estudam incluir os ativos digitais em seus portfólios.

Até o momento, de todos os bancos tradicionais, apenas o Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) oferecem, por meio das suas gestoras, criptoativos a seus clientes. O primeiro a tomar essa iniciativa foi o Banco do Brasil Asset no fim de 2022 ao lançar o fundo BB Multimercado Criptoativos Full IE. O produto surgiu como uma alternativa para os investidores que desejavam diversificar a sua carteira nos ativos digitais. No entanto, a oferta era restrita apenas para os investidores qualificados. Ou seja, aqueles com mais de R$ 1 milhão em investimentos.

A experiência serviu para que a gestora acompanhasse a evolução do mercado cripto tanto do ponto de vista regulatório quanto de ambiente econômico. A observação resultou em consultas internas para avaliar a possibilidade de lançar um novo fundo de criptoativos ou expandir o acesso àquele já existente para o público geral de investidores.  Por enquanto, a segunda opção parece ser a mais viável na avaliação da Asset.

“Estamos trabalhando internamente para a abertura do produto para o investidor geral. Vamos propor uma assembleia com os atuais cotistas e mudar as características desse fundo”, afirma Isaac Marcovistz, executivo de Produtos, Comunicação e Marketing do BB Asset. Os prazos de quando essa decisão será tomada não foram revelados pelo executivo por ainda estarem em fase de análise.

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Já em dezembro do ano passado, como mostramos nesta reportagem, foi a vez do Itaú Asset negociar a venda e a compra de bitcoin e ether a seus clientes em sua plataforma. Segundo a instituição financeira, a oferta dos ativos digitais ocorrerá de forma gradual e possui a custódia do próprio banco, que vai cuidar da segregação patrimonial dos ativos.

Amadurecimento das criptos entre os bancos tradicionais

Os bancos Santander e Bradesco ainda não avançaram rumo às criptomoedas nem informaram ao E-Investidor, ao serem questionados, se havia uma previsão de incluir os ativos digitais para a sua base de clientes. De todo modo, os primeiros passos dados pelo Itaú e pelo BB demonstram um amadurecimento das instituições tradicionais em relação ao novo mercado.

Isac Costa, professor de pós-graduação em Direito do IBMEC, explica que a demora ou a resistência às criptomoedas acontece porque os bancos ainda estão em fase de compreensão dos riscos e das oportunidades que o setor oferece. Por isso, a oferta de produtos posicionados em ativos virtuais deve acontecer em comparação a outras plataformas de investimentos e bancos digitais.

“O próprio regulador norte-americano levou dois anos para decidir se autorizaria os ETFs (fundos negociados em bolsa que acompanham um índice de referência) de bitcoin à vista, em face de dúvidas sobre manipulação de mercado, uso de ativos virtuais para fins ilícitos e ausência de regulação específica”, explica Costa.

Há também o perfil de cada instituição financeira. Os bancos costumam ser conservadores e a oferta dos ativos digitais, que são investimentos extremamente voláteis, vai depender da demanda da sua base de clientes e do seu apetite a risco. “Os ativos virtuais não são mais vistos como o gatilho para o ‘fim dos bancos’, mas como uma modalidade alternativa de investimento que pode ser ofertada por instituições tradicionais dentro de certos limites”, acrescenta Costa.

Esses limites variam de banco para banco. Mas por se tratar de inovações financeiras, os investimentos costumam ser negociados sob custódia, como é o caso do Itaú Asset, ou por meio de fundos para garantir credibilidade aos investidores que irão incluir os novos produtos em seus portfólios. A cautela expressa também a preocupação das instituições financeiras tradicionais sobre os riscos envolvidos no mercado, que vão desde a volatilidade a uma possível exposição da instituição financeira a crimes associados a operações com criptomoedas.

“Para o Itaú oferecer essa classe de ativos houve uma série de análises de risco financeiro e reputacional para poder viabilizar as negociações de criptomoedas”, afirma Guilherme Rebane, sócio-fundador da Nonco, responsável pela estratégia e operação no Brasil. ” Os bancos brasileiros vêm mostrando muita maturidade ao acessar a classe ativos”, acrescenta.

Os brasileiros são adeptos às criptomoedas

As criptomoedas ganham cada vez mais espaço na carteira dos brasileiros. Segundo os últimos dados da Receita Federal, referentes a julho de 2023, mais de 4,1 milhões de brasileiros investem em criptos. O número é 174,7% maior em relação ao mesmo período de 2022, quando havia 1,5 milhão de investidores pessoa física. Esse público foi responsável por movimentar cerca de R$ 106 milhões em julho do ano passado.

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Os brasileiros enxergam a classe de ativos como uma opção de investimento e não como uma estratégia para proteger o patrimônio da inflação. Segundo um estudo da Chainalysis, empresa especializada em levantamentos envolvendo ativos digitais, a Argentina, por exemplo,ocupa a 15ª posição do índice global de criptomoedas diante da busca pela stablecoin USDT (ativo digital que mantém paridade com o dólar norte-americano).

O interesse pela moeda retrata os caminhos encontrados pelos argentinos para proteger o orçamento da hiperinflação, já que o ativo digital mantém paridade com o dólar norte-americano.

No Brasil, o cenário é diferente. O País ocupa o nono lugar no índice global de criptomoedas e o interesse dos brasileiros está mais voltado para o bitcoin (BTC) e para as altcoins, que são os ativos procurados para investimentos com foco no longo prazo.

A ampla oferta de fundos com posição em criptoativos é um reflexo desse comportamento. Segundo um levantamento da Elos Ayta, há 48 fundos de investimentos listados na B3 que incluem os ativos digitais em suas estratégias. Juntos, todos os produtos são responsáveis por uma captação líquida de R$ 1,49 bilhão.

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