- Não há limites para cobrança de juros do consignado a beneficiários do Auxílio Brasil
- Antes de recorrer ao empréstimo os educadores financeiros recomendam a revisão das dívidas
- Consumidor deve usar o consignado para trocar uma dívida mais cara por outra mais barata
Por Jenne Andrade – A Lei n.º 14.431, sancionada no dia 4 de agosto, abriu a possibilidade para beneficiários do Auxílio-Brasil contraírem empréstimos consignados junto aos bancos. Não foram estipulados limites para os juros cobrados aos participantes do programa, apenas determinado que poderão comprometer a renda em até 40% com o pagamento das parcelas.
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Mas tendo em vista as taxas de juros para o crédito consignado praticado pelas instituições financeiras do País hoje, a dívida pode quase que dobrar no período de um ano – no caso do mais alto juro identificado (82,24% ao ano), como mostra a tabela desta reportagem aqui.
Para quem não conhece, um empréstimo consignado é aquela modalidade em que as parcelas são debitadas automaticamente do salário do solicitante antes mesmo do dinheiro cair na conta do cidadão.
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Contratou crédito consignado e se arrependeu? Veja nesta reportagem o que fazer.
O E-Investidor consultou especialistas em educação financeira para apontar os cuidados que o consumidor deve ter antes de contratar um empréstimo consignado. Veja o que ele recomendam:
Levante o que já compromete a renda
Antes de recorrer ao empréstimo os educadores financeiros recomendam que o beneficiário revise suas dívidas para não comprometer uma parcela muito maior da renda do que era inicialmente imaginado.
Mesmo que o limite estabelecido pela lei para consignados seja de até 40% do valor do benefício, caso o solicitante não considere seus outros débitos, como dívidas anteriores em cartões de crédito, esse porcentual pode subir substancialmente. No final, o risco é ter mais da metade do auxílio enforcado pelo pagamento de dívidas.
“É preciso ter consciência de que, sem o conhecimento da real capacidade de pagamento (considerando todos os outros gastos e inclusive prevendo alguns imprevistos), a solução oferecida pelo credito consignado será fugaz”, afirma Carol Stange, educadora em finanças pessoais. “Muita gente fica ansiosa ao solicitar o credito consignado e acaba aceitando a negociação sem analisar as parcelas, que podem comprometer de forma sacrificante o orçamento.”
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Além disso, caso o beneficiário contrate o consignado sem saber sua real situação financeira, enforcando praticamente metade do benefício social, o risco é que este empréstimo vire um combustível para a tomada de ainda mais crédito. No final, o que costuma ocorrer é uma bola de neve de dívidas.
“Recebendo metade do salário pelos descontos do consignado, a pessoa corre o risco de tomar um crédito mais caro para complementar. Aí ela pode ir para um cheque especial, para um cartão de crédito ou algo semelhante. No final, com a soma da dívida, a pessoa chega um momento que não consegue mais honrar”, afirma Carlos Castro, planejador financeiro CFP pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar).
De acordo com os especialistas financeiros, o endividamento não pode ultrapassar 30% da renda, considerando todas as dívidas. Outra boa prática consiste em entender se realmente o capital tem urgência e se não há nenhuma outra forma de levantar dinheiro.
Além disso, não contrate no primeiro banco que oferecer o empréstimo, pesquise para conseguir as melhores taxas e condições em instituições financeiras com boas referências, aconselham.
O dinheiro acaba, a dívida fica
Segundo os especialistas, o montante emprestado aos participantes do programa do Governo tende a ser usado para consumo imediato. Isso significa que boa parte dos beneficiários do Auxílio Brasil poderão gastar o dinheiro emprestado para compras no supermercado e despesas de curto prazo.
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Em um país com inflação de 11,13% nos últimos 12 meses e taxa Selic de 13,75%, o uso do capital para subsistência é notório. Nestes casos, entretanto, o dinheiro emprestado pode acabar bastante rápido e a pessoa ficará apenas com a dívida comprometendo sua renda no longo prazo.
“Quem tem uma renda menor flerta com um risco ainda maior de endividamento, com a tendência de sempre usar o crédito para consumo, para pagar as contas do dia a dia. Este não é um bom uso do crédito”, afirma Castro. Para ele, um bom uso da crédito se faz quando o dinheiro emprestado constrói algum patrimônio, ou seja, quando gera alguma renda.
Essa também é a visão de Stange. “O beneficiário do programa social pode acabar comprometendo renda futura por dinheiro imediato, além de estar sujeito a taxas de juros altas”, afirma.
Crédito inteligente
Na visão de Castro, da Planejar, para utilizar o consignado de maneira inteligente o consumidor deve trocar uma dívida mais cara por outra mais barata. Por exemplo, se o beneficiário tiver algum débito pendente no cartão de crédito, cujos juros podem chegar a mais de 300% ao ano, ele deve solicitar o consignado, que tem juros menores, para pagar a dívida no cartão.
“Isso pode ser feito para liberar mais renda. Usar o consignado para se livrar da dívida do cartão de crédito ou do cheque especial”, afirma o planejador financeiro. “Desta forma, esse crédito pode cumprir um papel social.”
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