Dar os primeiros passos no universo dos investimentos pode ser desafiador no começo. Para alguns, existe a crença errada de que seria necessário muito dinheiro para fazer os primeiros aportes. No entanto, na visão de especialistas, o importante é começar e criar o hábito de investimento mesmo com pouco, para depois elevar gradualmente os valores alocados.
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Mas o que aconteceria se um acionista investisse R$ 100 todo mês religiosamente nas ações que pagam dividendos acima da Selic? Em quanto tempo ele conseguiria conquistar um patrimônio de R$ 100 mil?
Simulação feita pelo Fábio Sobreira, analista da Harami Research, para o E-Investidor revela que na Auren (AURE3) o tempo de investimento para conquistar os R$ 100 mil de patrimônio ocorreria em 12 anos e 3 meses.
Este cálculo leva em conta um cenário no qual o investidor aportou R$ 100 todo mês em AURE3 e reinvestiu na mesma ação todos os proventos que a companhia pagou no meio do caminho. Na conta, foi considerado o dividend yield (retorno em dividendos) projetado dos papéis para os próximos 12 meses, desde que a companhia tenha lucro igual ou superior ao registrado no último ano e mantenha a mesma política de dividendos dos últimos 12 meses.
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Na Petrobras (PETR3; PETR4), uma empresa mais cíclica, o investidor teria que alocar R$ 100 todo mês e reinvestir os dividendos recebidos pelo prazo de 15 anos e 2 meses. Já em uma companhia mais perene como a Copasa (CSMG4), o tempo para conquistar os R$ 100 mil – com aportes de R$ 100 mensais e reinvestimento – totaliza de 18 e 7 meses.
Veja a simulação para juntar R$ 100 mil com outras companhias:
Ativo | DY projetado próximos 12 meses | Patrimônio | Tempo para conquistar R$ 100 mil, com aportes mensais de R$ 100 e reinvestimento |
Metal Leve (LEVE3) | 30,15% | 100.000,00 | 11 anos e 11 meses |
Auren (AURE3) | 28,87% | 100.000,00 | 12 anos e 3 meses |
Grendene (GRND3) | 22,20% | 100.000,00 | 14 anos e 4 meses |
Petrobras (PETR4) | 20,35% | 100.000,00 | 15 anos e 2 meses |
Vulcabras (VULC3) | 17,65% | 100.000,00 | 16 anos e 6 meses |
Mitre (MTRE3) | 15,69% | 100.000,00 | 17 anos e 9 meses |
CSN (CSNA3) | 16,06% | 100.000,00 | 17 anos e 6 meses |
Metalúrgica Gerdau (GOAU4) | 15,51% | 100.000,00 | 17 anos e 10 meses |
Bradespar (BRAP4) | 15,10% | 100.000,00 | 18 anos e 1 meses |
Copasa (CSMG3) | 14,45% | 100.000,00 | 18 anos e 7 meses |
CSN Mineração (CMIN3) | 14,18% | 100.000,00 | 18 anos e 10 meses |
Brasilagro (AGRO3) | 13,71% | 100.000,00 | 19 anos e 2 meses |
Vale (VALE3) | 11,47% | 100.000,00 | 21 anos e 3 meses |
Cemig (CMIG4) | 11,18% | 100.000,00 | 21 anos e 7 meses |
Fonte: Fábio Sobreira, Harami Research. Considera o preço das ações até 01/04/24. *O dividend yield projetado é válido desde que a empresa tenha lucro igual ou maior ao dos últimos 12 meses e siga com a mesma política de distribuição de dividendos e JCP dos últimos 12 meses
Ainda há boas pagadoras de dividendos?
Entre as ações de commodities há algumas que devem continuar entregando dividendos robustos no curto e no médio prazos, segundo analistas – embora nem todas ofereçam um dividend yield de dois dígitos.
Petrobras
Nessa categoria se encontra a Petrobras. Matheus Sanches, sócio e analista da Ticker Research, acredita que a petrolífera seja uma das poucas a superar a Selic em 2024. Pelas projeções da casa de análise, só com dividendos regulares, a Petrobras deve apresentar um dividend yield entre 10% e 12% em 2024. Já se houver distribuições extraordinárias, a projeção da Ticker para proventos sobe, entre 18% e 20%.
Segundo Sanches, a vantagem é que a Petrobras está muito barata – considerando um cenário de continuidade na operação da empresa e quedas não relevantes no preço do petróleo do tipo Brent. O analista destaca também a importância de um planejamento estratégico que seja focado em gerar retorno para o acionista.
Por outro lado, entre os riscos estaria a interferência política na estatal, com o planejamento alterado para utilizar a companhia como “cabide de emprego” e projetos não rentáveis que destruiriam o valor da petrolífera.
“Faz sentido investir na Petrobras para dividendos, mas o risco está na empresa deixar de ter um foco tão relevante na remuneração dos acionistas”, pontua Sanches. A recomendação ainda é de compra, mas o analista faz a ressalva que o investidor deve acompanhar com cautela a continuidade o papel, para avaliar novas sinalizações em relação à postura da empresa diante dos proventos.
Júlio Borba, analista da Benndorf Research, acredita que a Petrobras ainda tem capacidade de entregar um dividend yield de 10% nos próximos 12 meses – acima da Selic terminal projetada pelo mercado, de 9% ao ano no final de 2024. Para ele, mesmo pagando o dividendo mínimo obrigatório, a Petrobras está muito barata para uma estratégia de renda passiva. “Se for olhar pelos múltiplos, o valuation (valor do ativo) da companhia é mais barato ainda”, observa.
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Na visão de Borba, os principais riscos da empresa já foram precificados e provavelmente não haverá novos desdobramentos.
Vale (VALE3)
A mineradora Vale ainda é vista por alguns analistas como opção para uma carteira de dividendos no longo prazo. Henrique Cavalcante, analista da Empiricus Research, projeta dividend yield de 10% para as ações VALE3 neste ano. Ele acredita que a empresa se mostrou uma excelente geradora de caixa, principalmente quando o preço do minério de ferro está elevado, e destaca que a ação também está barata, já embutindo eventual pessimismo com a desaceleração da China.
Entre os riscos, Cavalcante cita a necessidade de novas provisões relacionadas aos desastres ambientais de Mariana e Brumadinho. “Novos aumentos nas provisões afetariam a distribuição de proventos”, aponta.
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Sanches, da Ticker, afirma que a companhia está consideravelmente dependente da China, pois o país asiático representa boa parte do faturamento da mineradora brasileira. “Se a China desandar, o lucro, os dividendos e até a cotação podem cair de forma significativa”, avalia.
Contudo, Sanches ainda está otimista com a Vale e acredita que a ação possa valorizar até R$ 80 e entregar dividendos entre 10% e 12%. “Mas o investidor deve ficar atento, porque se a situação na China e no minério ficar crítica talvez seja necessário zerar a posição”, diz.
Metalúrgica Gerdau (GOAU4)
Além da Vale, a Metalúrgica Gerdau (GOAU4) também é vista como alternativa de renda passiva para o médio e longo prazos. A holding investe nas ações da Gerdau (GGBR4), desta forma acaba tendo exposição ao aço. Para 2024, a visão de Cavalcante se mostra um pouco mais conservadora, com um dividend yield de apenas 6%.
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O analista cita que a rentabilidade da Gerdau está pressionada por conta do alto volume de aço importado da China com preços abaixo do praticados pela indústria local, o que impacta nas margens de lucro da siderúrgica. “Historicamente é uma boa pagadora de dividendos, mas acho improvável que neste ano consiga bater a Selic”, comenta o analista da Empiricus.
Na Benndorf Research, a perspectiva para os dividendos da Metalúrgica Gerdau (GOAU4) está levemente mais otimista, com um dividend yield de 8%.
Metal Leve (LEVE3)
Borba cita a Metal Leve (LEVE3), que pode entregar um retorno em dividendos de 12% nos próximos 12 meses. Segundo o analista, a companhia tem um histórico de boa pagadora a seus acionistas. Nos últimos cinco anos, o payout (parcela do lucro líquido destinada a proventos) superou os 90%, com exceção de 2022 – quando foi de 67%. Na visão de Borba, a Metal Leve também estaria barata, o que aumenta o dividend yield.
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Já entre os riscos, ele destaca o processo de descarbonização, com o crescimento de mercado de veículos elétricos. A Metal Leve trabalha com motores a combustão e peças de automóveis e poderia ficar obsoleta. Apesar disso, Borba considera que vale carregar a ação para o longo prazo. “Tem um bom modelo de negócios e é uma boa geradora de caixa”, defende.
Cemig (CMIG4)
Outra companhia que pode entregar dividendos interessantes, segundo Borba, é a elétrica Cemig (CMIG4). O analista projeta um dividend yield de 8% nos próximos 12 meses. Ele destaca que a Cemig tem dois caminhos possíveis: ser privatizada, o que beneficiaria bastante a ação. Ou ser federalizada. “Neste caso, isso seria muito ruim para a empresa”, avalia.
A companhia também negocia com desconto na Bolsa e pode ser considerada uma empresa perene.