- Apenas no quesito dividendos distribuídos, a segunda que melhor remunerou os acionistas em cinco anos foi a Isa Cteep (TRPL4)
- Já observando o retorno total (valorização e dividendos), a melhor rentabilidade foi da Neoenergia (NEOE3) de 52,58%
- A Copel (CPLE6) ocupou o segundo lugar em rentabilidade total em 1 ano, de 36,87%
O setor elétrico é muito procurado por investidores que buscam dividendos, dada a sua previsibilidade. A maioria de empresas conta com contratos de longo prazo, permitindo uma consistência na distribuição de proventos. Ricardo França, analista de investimentos da Ágora, explica que o setor se divide em três segmentos, com características diferentes. O primeiro é o setor de geração, que no Brasil está muito relacionado a geração hidrelétrica. Mas também pode incluir outras fontes como térmicas e renováveis. “Temos observado um aumento da diversificação da matriz energética, com várias empresas investindo em projetos além de hidrelétricas”, pontua França.
No segmento de transmissão, segundo o especialista, se encontram companhias que historicamente entregam resultados mais previsíveis como Taesa (TAEE11), Isa Cteep (TRPL4) e Alupar (ALUP11).
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O motivo é que uma transmissora é remunerada por levar energia do ponto A ao B, independentemente do volume e com contratos de longo prazo. As receitas costumam ser reajustadas por algum indicador como IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ou IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), o que acaba dando ao investidor proteção diante da inflação.
França cita também o setor de distribuição que é mais sensível a atividade econômica e industrial, porque as companhias são remuneradas pelo volume distribuído. Além da inadimplência dos consumidores, condições climáticas também podem impactar nas receitas, segundo o analista.
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Mas quais empresas elétricas entregaram uma boa rentabilidade ao investidor nos últimos anos?
Um levantamento feito por Fábio Sobreira, analista CNPI-P da Harami Research, com dados da Elos Ayta Consultoria para o E-Investidor, revela quanto renderam R$ 5 mil investidos nas empresas elétricas nos últimos 12 meses e em 5 anos. Quando observado apenas o retorno em dividendos (dividend yield) nos últimos cinco anos, a Copel (CPLE6) foi a companhia que mais pagou proventos aos investidores. Para R$ 5 mil aplicados na ação, a elétrica remunerou os acionistas com R$ 7.976 em dividendos neste período, equivalente a um dividend yield acumulado de 159,52%.
Sobreira destaca que o dividendo elevado foi impulsionado pelo valor baixo de compra das ações. O investidor que adquiriu o papel em 2019, por exemplo, pagou apenas R$ 1,96 por ação, o que ajudou a elevar os rendimentos no longo prazo.
Apenas no quesito dividendos distribuídos, a segunda que melhor remunerou os acionistas em cinco anos foi a Isa Cteep (TRPL4). Para R$ 5 mil aplicados na ação, a transmissora pagou R$ 4.143 em dividendos, um dividend yield acumulado de 82,86%.
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Em relação ao retorno total (valorização e dividendos), a Copel (CPLE6) foi novamente campeã em rentabilidade. A companhia teve um retorno total de 414,59%. Desta forma um investidor que aplicou R$ 5 mil há cinco anos, teria recebido como retorno – considerando o aporte, dividendos e valorização da ação – R$ 25.729, praticamente quintuplicando seus ganhos.
O segundo melhor desempenho em retorno total foi da Eneva (ENEV3). A companhia apresentou uma rentabilidade de 218,82% em cinco anos – apenas com a valorização dos papéis tendo em vista que a companhia não pagou dividendos no período. Em consequência, um aporte de R$ 5 mil se transformou em R$ 15.941.
Nos últimos 12 meses, a ação que mais entregou dividendos foi a Auren (AURE3), com dividend yield de 25,44% e R$ 1272 distribuídos.
A segunda que mais remunerou os acionistas foi a Cemig (CMIG4). A elétrica pagou R$ 668 em proventos, equivalente a um dividend yield de 13,37%.
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Já observando o retorno total (valorização e dividendos), a melhor rentabilidade foi da Neoenergia (NEOE3) de 52,58%. Os R$ 5 mil aplicados na empresa viraram R$ 7629 – levando em conta o aporte, a valorização dos papéis e R$ 424,66 em proventos distribuídos.
A Copel (CPLE6) ocupou o segundo lugar em rentabilidade total em 1 ano, de 36,87%. Os R$ 5 mil aplicados no papel se transformaram em R$ 6843 – incluindo o aporte inicial, valorização da ação e R$ 225,50 em proventos.
Copel deve continuar pagando bons dividendos?
Embora a Copel tenha remunerado bem os seus acionistas nos últimos cinco anos, os dividendos da elétrica apresentaram uma queda no último ano após o processo de privatização. Nos últimos 12 meses, a companhia teve um dividend yield de 4,51%.
Fábio Sobreira, da Harami Research, destaca que olhando o histórico de cinco anos, a companhia teve um dividend yield médio superior a 10%, o que a tornaria uma das melhores pagadoras do setor elétrico historicamente. “Como a empresa se valorizou mais de 400% nos últimos 5 anos, um investidor que tivesse comprado as ações neste período teria recebido quase 160% do valor pago apenas em dividendos”, comenta.
Segundo o analista, a Copel é uma empresa híbrida – que trabalha com geração, transmissão e distribuição – e é reconhecida pela sua ampla rede de infraestrutura e capacidade de fornecimento de energia. “A Copel também investe em projetos de energia renovável, como eólica, e está alinhada às tendências de sustentabilidade e inovação energética”, aponta.
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O principal desafio da Copel, segundo Sobreira, seria elevar seu lucro por ação de R$ 0,67 centavos para a média histórica de pouco mais de R$ 4, para conseguir voltar a pagar bons dividendos.
Sobreira afirma que como a empresa distribui geralmente 50% do seu lucro em dividendos, se esse lucro por ação fosse elevado, ela poderia distribuir cerca de R$ 2 em dividendos, um dividend yield de 20%, a preços atuais.
França, da Ágora, destaca que após a privatização a gestão da Copel está mais focada em ganhos de eficiência para a companhia. Por este motivo, no curto prazo os dividendos ainda devem continuar baixos. A projeção para 2024 é de apenas 3%.
Mas, o analista reforça que a Copel seria uma ótima oportunidade pensando em dividendos crescentes no longo prazo, além de ganho de capital pela valorização da empresa.
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Auren e Cemig ainda podem oferecer mais de 6%
Gabriel Duarte, analista da Ticker Research, explica que nos últimos 12 meses o dividendo da Auren foi elevado por conta de um efeito não recorrente, a companhia recebeu indenização bilionária pela Usina Hidrelétrica de Três Irmãos.
Segundo Duarte, a companhia tem capacidade de continuar pagando dividendos, mas não no patamar observado de 25,44%. Para 2024, o analista projeta um dividend yield de 7%.
França também enxerga potencial na companhia e calcula um dividend yield de 6,5% neste ano. O analista da Ágora explica que a empresa ainda tem passivos a negociar, o que pode ajudar a melhorar a qualidade do seu balanço.
Já em relação aos pontos de atenção, França cita o preço baixo da energia, dado que os reservatórios estão em patamar elevado.
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Sobre a Cemig, Duarte destaca que o dividend yield de 13,37% foi influenciado pela queda no preço das ações. “O governo de Minas Gerais cogitou entregar as estatais do estado para o governo federal visando abater parte da dívida que possui com a União. Isso fez as ações da Cemig despencarem vertiginosamente”, lembra o analista.
Embora a notícia não abalou os resultados da Cemig, as cotações caíram e em consequência, o dividend yield aumentou. “Desconsiderado este efeito, o dividend yield da Cemig nos últimos 12 meses teria sido de entre 7% e 8%”, pontua Duarte.
Para 2024, ele ainda enxerga a Cemig como uma boa pagadora de proventos, mas com yields modestos. A projeção para CMIG4 é de um dividend yield de 7,5%.