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Os Fiagros vão pagar menos dividendos com o início do corte dos juros?

Apesar de serem ativos de renda variável, os Fiagros são compostos em grande parte por produtos de renda fixa

Os Fiagros vão pagar menos dividendos com o início do corte dos juros?
(Foto: Envato Elements)
  • Agronegócio promete bom desempenho no ano e há projeção de queda de juros a partir do segundo semestre
  • Em sua maioria, os Fiagros são compostos por produtos de crédito para o agronegócio, mas analistas acreditam que a queda da taxa não deve tornar o ativo menos interessante

Com o bom desempenho do agronegócio, puxando o PIB do primeiro trimestre, e a expectativa de safras recorde no decorrer do ano têm alimentado as projeções de bons resultados para ativos relacionados às cadeias agroindustriais. Neste ano, os Fundos de Investimentos em Cadeias Agroindustriais (Fiagros) vêm observando bons resultados. O dividend yield (DY) — indicador do rendimento de um ativo por meio de seus dividendos — de diversos fundos desse tipo em 2023 tem batido de 8% a 9%.

Segundo levantamento de Einar Rivero, head comercial do Trademap, o Fiagro Eco (EGAF11) teve um DY de 9,31%, enquanto o Fiagro XP Ca (XPCA11) bateu 8,33% e o Fiagro Nch (NCRA11), 8,31%. Os dados são referentes a 2023, até o começo do mês de junho.

O resultado pode ser explicado, em parte, pela alta taxa de juros no País, já que os Fiagros são compostos principalmente por produtos de crédito como os Certificados de Recebimento do Agronegócio (CRAs), produtos de renda fixa com rentabilidade associada ao Certificado de Depósitos Interbancários (CDI), que normalmente acompanha a taxa de juros.

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Com as quedas nas taxas de juros projetadas pelo Banco Central (12,5% ao fim de 2023 e 10% para o fim de 2024), investidores com títulos em Fiagros podem se questionar se os dividendos pagos por esse tipo de ativo seguirão com desempenhos interessantes.

Segundo especialistas ouvidos pelo E-Investidor, mesmo com a provável redução dos juros ao longo do ano, os Fiagros devem seguir como opções interessantes para quem busca pagamentos com recorrência por meio de dividendos. A avaliação é de que, ainda que a Selic, referência para a rentabilidade do CDI, caia, proventos dos Fiagros remunerem acima de 100% do indicador.

O bom desempenho previsto para o agronegócio pode, inclusive, beneficiar esse movimento. Com bons resultados, o setor seria capaz de pagar diferenças maiores de rentabilidade caso os juros caíssem.

“Toda essa pujança do setor realmente acaba fortalecendo os Fiagros, que acabam podendo comprar ativos eventualmente com um spread de crédito, uma remuneração bastante interessante”, explica Marcio Takaya, sócio e analista de renda fixa da Sparta. O spread de crédito é a diferença de rentabilidade entre títulos.

O analista avalia que em um cenário de redução das taxas de juros, a taxa de remuneração de um Fiagro seria relativamente maior comparada ao CDI. “Hoje, uma carteira de CDI mais 4% corresponde a cerca de 120% do CDI. Num cenário em que o CDI caia para 8%, por exemplo, essa mesma carteira equivaleria a 150% do CDI”, ilustra.

A análise feita por Maria Tereza Vendramini, sócia e head comercial de Agro da AZ Quest, também considera que um cenário de queda nos juros não deva tornar os Fiagros opções menos interessantes, com a manutenção de pagamentos recorrentes acima da taxa de juros.

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“Mesmo em um cenário que a gente projetou, para daqui 48 meses e com queda da Selic, vemos os Fiagros ainda dando um retorno muito bom. Se você pensar, eles vão continuar dando 130%, 140% do CDI”, aponta Vendramini.

Vale destacar que essa análise diz respeito aos chamados Fiagros de papel, aqueles em que a composição da carteira está mais atrelada aos produtos de crédito concedidos ao agronegócio, por meio de Certificados de Recebimento do Agronegócio (CRAs), por exemplo. Isso aumenta a previsibilidade do rendimento e faz com que seja possível para os fundos organizarem melhor pagamentos de dividendos com recorrência mensal.

Fiagros ou ações do agronegócio?

Em um cenário de redução das taxas de juros e bom desempenho do setor agroindustrial, investidores podem sentir dificuldade em compreender qual seria o melhor caminho para o seu porffólio: Fiagros ou ações de empresas do agro.

“Eu diria que a redução da taxa de juros da economia impacta positivamente tanto o mercado de crédito quanto o mercado de equities. Agora, entre entrar num papel de equities ou entrar em um Fiagro, existem diversos fatores a se considerar”, aponta Cunha.

Essa decisão, no entanto, tem menos a ver com a expectativa de desempenho e mais com o próprio perfil do investidor. Apesar de serem investimentos em renda variável, os Fiagros são compostos em grande parte por produtos de renda fixa, considerados mais previsíveis e seguros. O pagamento dos créditos é priorizado pelas empresas antes da distribuição dos lucros de dividendos.

Já as ações têm outra dinâmica. São investimentos de renda variável, menos previsíveis, mas com um potencial de valorização — ou perda — maior. Na avaliação de compra, entram aspectos como expectativa do preço de commodities, safras e atividade de cada empresa avaliada.

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Além disso, os Fiagros pagam com maior recorrência, normalmente em dividendos mensais. Já as empresas listadas em bolsa costumam pagar dividendos em intervalos de tempo maiores, com um valor distribuído mais incerto.

De toda forma, o cenário de boas safras e quedas na taxa de juros deve beneficiar também as companhias do agronegócio na Bolsa. Taxas de juros menores diminuem também o custo de crédito para que as empresas façam seus projetos. “Se a gente tem uma taxa de desconto mais baixa, isso melhora o retorno dos projetos da empresa e, portanto, gera mais valor”, aponta Fernanda Cunha, Analista de equities da AZ Quest.

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