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- No Brasil, o Credit Suisse Hedging-Griffo (CSHG) faz a administração e gestão de mais de 1 mil fundos, com um patrimônio líquido de R$ 79 bilhões, segundo dados da Anbima
- Tiago Feitosa, professor consultor de valores mobiliários da T2 Educação, ressalta que não há motivos para pânico entre investidores brasileiros - até porque, para todos os efeitos, o patrimônio dos cotistas está salvaguardado
- Entretanto, não significa que mudanças não possam ocorrer. É esperado, por exemplo, que o Credit Suisse deixe a posição de administração dos fundos de investimentos
O Credit Suisse passou por grandes turbulências nas últimas semanas. Após reportar resultados negativos em 2022 e sem poder contar com injeção de novos recursos pelo Saudi National Bank (SNB), principal investidor, o banco de investimentos suíço caminhava a passos largos para a falência. Contudo, foi salvo pelo banco UBS, que adquiriu o concorrente pela bagatela de US$ 3,2 bilhões em uma operação arquitetada pelo Conselho Monetário Nacional suíço, sem a votação dos acionistas.
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No Brasil, o Credit Suisse Hedging-Griffo (CSHG) faz a administração (cuida da parte burocrática) e gestão (decide onde alocar o capital dos investidores) de mais de 1 mil fundos, com um patrimônio líquido de R$ 79 bilhões em janeiro de 2023, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Com este volume de ativos, o Credit Suisse ocupava a 11ª colocação entre as maiores gestoras do País, mesmo após perder R$ 22,1 bilhões de patrimônio líquido (PL) em 12 meses.
De acordo com o banco, a operação continuará sem alterações até que a fusão seja finalizada. Apesar da efetivação da compra pelo UBS, ainda não se tem grande visibilidade sobre os passos seguintes. Essa incerteza contribui para a falta de consenso entre os analistas ouvidos pelo E-Investidor.
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Tiago Feitosa, professor consultor de valores mobiliários da T2 Educação, diz que não há motivos para pânico entre investidores brasileiros. “Mesmo que a operação do Credit Suisse seja extinta, o valor dos fundos não corresponde ao patrimônio do banco. O dinheiro alocado nos fundos não está no banco, mas no mercado”, diz o especialista.
Entretanto, não significa que mudanças estão descartadas. É esperado, por exemplo, que o Credit Suisse deixe a posição de administração dos fundos de investimentos. A alteração tanto do administrador quanto do gestor, no entanto, precisa ser aprovada em assembleia pelos cotistas. “Pode ser que esse novo administrador seja o UBS ou qualquer outra instituição financeira autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM)”, afirma Feitosa.
- Veja nesta reportagem o que o investidor deve fazer com os FIIs do Credit Suisse
Quanto à gestão, a chance de mudanças existe, mas tende a ser muito mais baixa, pelo menos na visão de Flávio Conde, analista da Levante Ideias de Investimentos. Ele destaca que há pouca sobreposição entre as equipes de gestão do Credit Suisse e do UBS no Brasil. Ainda assim, o investidor deve acompanhar ao longo dos meses eventuais movimentações.
“A chance é pequena porque a turma do CSHG (Credit Suisse Hedging-Griffo, corretora do Credit Suisse no Brasil) é muito competente e sênior. A asset (gestora de ativos) do UBS no Brasil está mais ligada às equipes de fora e oferece mais fundos do exterior. De toda forma, sempre acaba tendo algumas saídas voluntárias pós-fusão por insatisfação com os novos desenhos das equipe. Mas uma mudança grande e significativa é muito pouco provável no primeiro ano de fusão”, afirma.
Para Conde, não há motivos para que os investidores resgatem dinheiro agora. “Quem sacar, vai se arrepender. O Credit Suisse Hedging-Griffo é uma baita gestora e tem muita gente que gostaria de investir com eles e tem dificuldade para conseguir aplicar nos fundos de lá”, afirma.
Cautela
A visão mais positiva sobre os fundos do Credit Suisse no Brasil não é unânime no mercado. Alexandre Alvarenga, analista de fundos da Empiricus Research, ressalta que a compra do banco suíço pelo UBS, de fato, poupou os cotistas do CSHG de uma baita dor de cabeça com uma possível liquidação dos fundos (quando o gestor vende todos os ativos para fazer o pagamento aos cotistas).
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Por outro lado, o analista da Empiricus não recomenda que investidores façam novos aportes na gestora do Credit Suisse, dada a falta de informações sobre como a operação continuará após a fusão com o UBS.
“Não vejo esses fundos como oportunidade, acho que eles estão mais para o lado do risco. Se tiver alguma movimentação na equipe que toca os fundos próprios lá, alguma coisa nesse sentido, pode virar um problema”, afirma Alvarenga. “Se o investidor tem fundos do Credit Suisse, mas tem aplicação também em outros veículos, talvez seja o momento de priorizar esses outros veículos.”
- Confira aqui tudo o que se sabe sobre o Credit Suisse até o momento
Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos e pós graduado em análise financeira, afirma que uma mudança de gestor pode fazer com que a estratégia de investimentos também se altere. “Estamos falando de seres humanos, economia não é uma ciência exata”, diz. “Não acho que vai ter uma mudança drástica na gestão dos fundos, mas é importante monitorar.”
Exposição a títulos
Além de acompanhar alterações administrativas, os investidores devem ficar de olho na composição dos fundos. Segundo levantamento feito por Feitosa, da T2 Educação, há apenas dois fundos no Brasil com exposição a títulos do Credit Suisse. Essas aplicações, destinadas a investidores qualificados, são o JIA FI Multimercado Crédito Privado, administrado pelo BTG Pactual e gerido pelo Azimut Brasil, e CSHG TCA 2 Multimercado, administrado e gerido pelo Credit Suisse Hedging-Griffo.
“Neste caso existe um risco, porque não existe nenhuma cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC)”, afirma Feitosa. Nos dados mais recentes, referentes a fevereiro, o JIA detinha R$ 24,5 milhões (30% da carteira) alocados em títulos emitidos pelo Credit Suisse. O CSHG, por sua vez, teria R$ 19,8 milhões (6% do patrimônio) em alocações no banco.