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2024 não será de um produto, mas de uma estratégia, diz Azimut Brasil

CEO Wilson Barcellos fala de previsão para investimentos nas carteiras de super-ricos; renda fixa terá seu papel

2024 não será de um produto, mas de uma estratégia, diz Azimut Brasil
Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management. (Foto: Divulgação/Azimut Brasil)
O que este conteúdo fez por você?
  • A onda de otimismo que atingiu os mercados globais desde meados de novembro levou a Bolsa de Valores brasileira a um novo recorde, mas ainda não está alterando a estratégia de investimento dos "super-ricos" para 2024
  • Essa é a leitura de Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management, gestora de patrimônio do grupo Azimut
  • O CEO traça a retrospectiva de 2023, que manteve a renda fixa como a estrela dos portfólios; e discute porque essa classe de ativos ainda se mantém em alta mesmo com a melhora do cenário

A onda de otimismo que atingiu os mercados globais desde meados de novembro e levou a Bolsa de Valores brasileira a um novo recorde está fazendo muita gente colocar um grau a mais de risco nas carteiras de investimento para 2024, depois de praticamente dois anos em que a renda fixa foi a principal estrela dos portfólios. Mas, a princípio, a estratégia de investimento dos super-ricos deve se manter cautelosa para o próximo ano.

Essa é a leitura de Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management, gestora de patrimônio do grupo Azimut, que tem mais de R$ 30 bilhões em ativos sob gestão no País.

Ele traça uma retrospectiva de 2023: um primeiro trimestre “tenebroso”, em que os discursos iniciais do novo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acendiam no mercado os piores temores de irresponsabilidade fiscal, tudo no mesmo momento em que o cenário de inflação e juros nos Estados Unidos também contrariava negativamente as expectativas. “Recessão no mercado americano e uma irresponsabilidade fiscal no País é uma combinação simples e perigosa. Então os investidores tiraram o pé do risco”, diz.

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Com o maior juros real do mundo, fazia pouco sentido para os investidores brasileiros de tíquete alto, cujo principal objetivo visa preservar o patrimônio ao longo do tempo, abrir mão dos ganhos seguros e de praticamente dois dígitos da renda fixa. “Liquidez, retorno elevado, isenção fiscal, baixo risco de crédito, não existia ativo melhor. Não à toa vimos uma fuga enorme da indústria de fundos de multimercado“, destaca Barcellos.

Com o passar dos meses, no entanto, o cenário foi mudando. A aprovação do arcabouço fiscal e o início dos debates sobre a reforma tributária foram dando maior credibilidade fiscal ao novo governo, especialmente à figura do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Aquele risco do colapso que se visualizava no primeiro trimestre hoje já não está mais no radar – não à toa, a Selic e o dólar caíram, enquanto o Ibovespa negocia no maior patamar da história.

Mas esse otimismo não se traduziu em uma mudança nas estratégias de investimento dos super-ricos. Para 2024, as carteiras têm sofrido pouca alteração até aqui. “O nosso investidor médio, que já estava com o seu apetite a risco bastante recolhido no passado, ainda está cauteloso. Em alguns casos, começamos a ver um apetite marginal ao aumento de risco, mas que ainda não é necessariamente a direção”, diz o CEO da Azimut.

Mesmo que o cenário esteja começando a se mostrar mais atrativo para investimentos de risco, produtos como as NTN-Bs e o Tesouro IPCA+ ainda remuneram o investidor com taxas perto de 5,80% de juro real. Um “belo prêmio de risco”, classifica Barcellos, independente do tamanho do patrimônio de quem investe. “É uma excelente taxa de retorno. Não dá para abandonar isso e correr para a Bolsa achando que lá vai ganhar mais dinheiro garantido.”

Mudanças levam, de novo, para a renda fixa

Para o próximo ano, os super-ricos terão que lidar ainda com a mudança no atual funcionamento de dois tipos de investimentos que costumam estar na carteira, especialmente por causa dos benefícios tributários que ofereciam. São os fundos exclusivos e as offshores (investimentos fora do País), que, a partir de 2024, serão tributados conforme uma lei sancionada pelo presidente Lula no último dia 13.

A medida faz parte da estratégia do governo federal para aumentar a arrecadação do País e zerar o déficit fiscal em 2024, com uma estimativa de receita de R$ 13 bilhões já no ano que vem.

Conhecidos como os “fundos dos super-ricos”, os fundos exclusivos podem operar na renda fixa, ações e outros produtos, mas apresentam pouquíssimos cotistas e uma tributação diferenciada. A partir de 2024, o Imposto de Renda (IR) passará a incidir sobre os rendimentos desses fundos a cada seis meses – o chamado “come-cotas”, que já é cobrado em todos os outros tipos de fundos de investimento. Até então, a tributação dos exclusivos só ocorria no momento do resgate da quantia investida.

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Para as offshores, a cobrança de tributos será realizada uma vez por ano, com alíquota de 15% do IR. A regra que vigora no País, até o momento, prevê cobrança de 15% do IR sobre ganhos de capital apenas na hipótese de o dinheiro retornar ao Brasil.

Agora, o investimento nesse tipo de ativo deve ser repensado. “Essa mudança tributária afeta diretamente os produtos que o investidor vai buscar investir”, destaca Barcellos. Quem ganha espaço, segundo ele? A renda fixa bancária, especialmente as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs).

“Se você compra uma LCI de vencimento de dois anos, são menos três come-cotas ao longo do tempo”, explica. “Ser isento de imposto faz com que aquele produto 98% do CDI acresça pelo menos mais 15% em cima do seu rendimento, fazendo um gross up (cálculo que desconta o efeito de impostos em valores brutos de investimentos para chegar aos valores líquidos). Sem risco de volatilidade e com baixo risco de crédito porque só trabalhamos com ativos de triplo A.”

Mudanças no setor

Mas essa não é a única mudança acontecendo no mundo de wealth management (gestão de patrimônio). Há também um outro movimento – esse, não relacionado a medidas do governo, mas sim a uma maior maturidade do mercado – que deve se estabelecer em 2024.

Barcellos explica que, nos últimos três anos, a indústria que antes era muito focada em distribuição de ativos está aos poucos se especializando na gestão de patrimônio. Nela, os super-ricos delegam ao um “conselheiro” a função de escolher as melhores oportunidades de alocação de acordo com aquele momento da economia e, claro, da vida do cliente.

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Para ele, ainda que a renda fixa continue no centro dos portfólios, 2024 não será o ano de um produto de investimento específico, mas, sim, dessa estratégia.

“Hoje, a renda fixa ainda é o carro-chefe, mas é importantíssimo estar acompanhando o que está acontecendo para fazer as alterações necessárias de forma ágil. É por isso que a indústria está mudando para gestão de patrimônio e é isso que eu enxergo para o próximo ano, não estar preso estruturalmente a nenhum tipo de produto, mas ter um bom advisor para navegar no universo que a macroeconomia interna e externa vai direcionar.”

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