Investimentos

Qual é o melhor investimento para 2020?

Crédito privado é a bola da vez. Taxas dos pós-fixados estão maiores

Qual é o melhor investimento para 2020?
O tempo é um fator determinante para ligar com o efeito da crise nos investimentos: o quanto você suporta sofrer? (Steve Buissine/ Pixabay)
  • Com a instabilidade política aumentando o risco do cenário econômico, CDBs pós-fixados passaram a oferecer taxas de até 140% do CDI para dois anos
  • Outra boa oportunidade está no crédito privado. Como precisam captar recursos, empresas com boa classificação de risco estão pagando taxas bem mais atrativas do que eram antes da crise
  • Fundos multimercado, fundos de ações, fundos de índice e fundos de fundos são algumas das opções que permitem ao investidor explorar melhor o mercado, delegando as decisões a um gestor

Onde investir é uma frase que combina mais com as resoluções de Ano-Novo. No entanto, neste momento particularmente desafiador, essa dúvida parece ainda mais recorrente juntamente com essa outra: “Qual é o melhor investimento para 2020?”

Buscar orientações sobre onde aplicar o próprio dinheiro parece ainda mais complicado. De um lado, a taxa básica de juros Selic já foi tão achatada que o retorno real das aplicações mais seguras se tornou pífio. De outro, o nível de volatilidade dos investimentos que remuneram melhor é um obstáculo para muitas pessoas, que têm pouco estômago para oscilações. E quem se anima a correr riscos em tempos tão incertos, com uma pandemia ameaçando empresas, empregos e, acima de tudo, pessoas?

Para tentar dar um norte que possa orientar suas próximas decisões, caro leitor, conversamos com alguns especialistas e perguntamos quais investimentos eles consideram válidos para aplicações ao longo de 2020. E a resposta, como você deve imaginar, não será a mesma para todo mundo.

Alguns cuidados antes de começar

“O primeiro passo para o investidor é se conhecer e saber qual é seu perfil de risco”, diz Erick Scott Hood, gestor da Guide Investimentos. “Não adianta recomendar ações para um cliente conservador, senão ele entra em pânico e resgata tudo na primeira oscilação.”

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Outro mantra que nunca é demais reforçar é o da diversificação. É nos momentos de crise que fica claro que as pessoas que sabem dividir bem seu capital levam menos sustos, já que os riscos da carteira são mitigados. Mas o analista Luís Bento, da Rio Bravo, ressalta que não basta investir em ativos de classes diferentes.

“A grande lição que o crash de março deu é que muitos investidores não estavam tão diversificados quanto pensavam. Quem investiu em crédito privado, prefixados e Bolsa abriu a carteira e viu que tudo estava caindo, pois, embora de classes diferentes, esses ativos estavam muito correlacionados”, explica.

É importante, ainda, que o investidor identifique qual é o montante que ele precisa ter à mão para uma eventualidade e separe esse valor. O que ficar de fora da reserva de emergência poderá ser investido com tranquilidade, dentro de um horizonte mais longo, para obter um retorno melhor.

“Não ache ruim ter essa parcela com liquidez, ganhando pouco. O resto do dinheiro, você investe em outras classes de ativos e rentabiliza com mais tempo”, aconselha Mario Kepler, sócio da Portofino.

Não tente fugir dela, a renda fixa

A renda fixa é a Geni do momento. Com a Selic no mínimo histórico de 3% ao ano, de todos os lados começaram a atirar pedras contra essa classe de investimentos – que, de fato, teve a rentabilidade muito comprometida. Mas muitos investidores que tentaram fugir dela em busca de ganhos melhores perceberam, da pior maneira, que não estavam preparados para correr riscos maiores.

A boa notícia para o investidor conservador é que, com os riscos do cenário econômico elevados pela instabilidade política, os CDBs pós-fixados, que eram os patinhos feios de ontem, agora começam a oferecer taxas melhores.

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“Títulos com vencimento em dois anos, que há dois meses pagavam entre 115% e 120% do CDI, agora entregam de 135% a 140% do CDI”, conta Rodrigo Moliterno, sócio da Veedha Investimentos. “São excelentes taxas e o risco é baixo, já que existe o respaldo do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).”

Títulos públicos continuam sendo outras opções na seara mais conservadora, mas os especialistas divergem nas recomendações. Kepler, da Portofino, indica a NTN-b, também conhecida como Tesouro IPCA, que paga a inflação, mais um cupom de juros. Já Moliterno entende que os títulos pós-fixados são mais seguros.

“A NTN-b foi uma vedete, mas hoje pode jogar contra. O vencimento é longo, e quanto menor a Selic de hoje, maior a expectativa de que ela aumente. Isso pode levar o investidor a perder dinheiro em uma venda antecipada”, ele pondera.

Crédito privado, a bola da vez

Com mais e mais empresas precisando captar recursos para enfrentar a crise, não é de se admirar que o crédito privado venha se destacando como uma das modalidades que entregam melhores retornos neste momento. É possível emprestar dinheiro a essas empresas por meio de títulos privados como debêntures, CRIs e CRAs.

“Agora que a taxa Selic está tão baixa, é na parte de crédito privado que se encontram as oportunidades mais interessantes. Muitas empresas grandes, com classificação de risco ‘AAA’, tiveram grandes distorções e estão pagando taxas muito mais atrativas que no período pré-crise”, comenta Hood. “São papéis de qualidade.”

A boa perspectiva de retorno anima o gestor da Guide a recomendar esses títulos até mesmo para os investidores conservadores. Mas vale lembrar que sempre existe o risco de crédito, caso a empresa não honre com suas obrigações, e nesse caso o investidor não conta com a proteção do FGC.

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Moliterno também recomenda o crédito privado, mas apenas a partir do perfil moderado. “Tem risco? Tem, mas o retorno é bastante elevado. Há empresas com rate acima de ‘A’ pagando o IPCA mais 5% ou 6%”, conta.

O investidor mais leigo pode ter dificuldade de identificar quais são as empresas que merecem um voto de confiança. Nesses casos, o mais seguro não é adquirir um título privado, mas sim investir em um fundo de renda fixa que tem crédito privado na carteira. É essa a recomendação de Kepler.

“É preciso ter cuidado com o que se vai comprar. Às vezes a empresa é boa, mas o setor enfrenta dificuldades”, alerta o sócio da Portofino. “Por isso, em vez de comprar o ativo diretamente, é mais fácil delegar essa escolha ao gestor de um fundo. Quem não acompanha bem o mercado pode achar que aquela empresa ou taxa é boa, e de repente nem é tão boa assim”, diz.

Pimenta moderada dá um sabor a mais à carteira

Quem aceitar se expor um pouco mais a risco tem algumas opções para melhorar a rentabilidade. Para o perfil moderado, Erick Scott Guide diz que a carteira pode incluir fundos multimercado, fundos imobiliários (FII) e – por que não ? – até um pouco de ações. Nesse perfil de risco, cada um desses tipos de ativo deve ocupar entre 5% e 10% do portfólio.

“Os preços dos FII e das ações caíram bastante desde março. No longo prazo, de dois a três anos, esses investimentos podem entregar retornos bem atrativos, ainda mais se comparados aos atrelados a juros”, acredita.

Para Rodrigo Moliterno, os FII continuam sendo interessantes, mas estão em uma entressafra. No caso dos fundos de tijolo, que possuem imóveis físicos na carteira, é preciso ser muito criterioso na seleção, já que alguns tipos de propriedades são mais suscetíveis aos efeitos da crise.

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“É preciso olhar direito o que tem dentro do fundo, quais são os inquilinos. Quem não tiver traquejo para fazer essa análise pode delegar o trabalho a um gestor, investindo em fundos de fundos”, afirma o sócio da Veedha. “Os FII de papel são menos arriscados agora, pois são dívidas que têm um imóvel como garantia.”

Ações, para quem sabe jogar

Quem tem conhecimento do mercado financeiro, tolerância maior a oscilações ou, de preferência, os dois ingredientes na mão está em um bom momento para ampliar as apostas em renda variável.

“Os preços das ações caíram muito, estão baratos. E tende a haver uma retomada do valor das ações a partir do ano que vem, com a recuperação da economia”, prevê Hood.

Moliterno concorda que a conjuntura de juros baixos favorece o investimento em renda variável. Ele diz que não existe uma estratégia certa ou errada para escolher quais ações comprar. “Eu gosto de bancos, do setor de varejo e de empresas que têm receita em dólar. O ideal é que o investidor tenha ajuda nessa escolha”, recomenda.

Se você não acompanha tão de perto o mercado financeiro, o mais seguro é partir para fundos de ações, nos quais a escolha dos papéis é feita por um gestor, ou fundos de índices, os ETFs, que replicam índices como o próprio Ibovespa.

“O momento atual é de muita incerteza. É difícil visualizar quais empresas vão sair da crise fortes como eram antes e quais estarão sem caixa”, diz Mario Kepler, da Portofino. “As oportunidades existem, mas a volatilidade permanecerá por muito tempo.”

Fundos quantitativos: deixando as emoções de lado

Neste cenário de estresse, a recomendação de Luís Bento, da Rio Bravo, são os fundos sistemáticos ou quantitativos. Nesses fundos, as operações de compra e venda de ativos não são realizadas por gestores, e sim por algoritmos.

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“As pessoas ficam meio receosas porque não há um gestor responsável para dar a cara a tapa. Por outro lado, enquanto um gestor sabe muito sobre 10, 20, 30 empresas, um algoritmo consegue analisar milhares de empresas ao mesmo tempo”, compara.

Outra vantagem da gestão computadorizada, de acordo com Bento, é a ausência de viés na tomada de decisão. Enquanto gestores podem sucumbir ao efeito manada em momentos de pânico no mercado, nos fundos quantitativos as alocações seguem regras claras que valem para todos os cenários.

“A volatilidade não é necessariamente baixa, mas controlada. Não existem aquelas explosões que fazem o investidor perder dinheiro”, diz o analista da Rio Bravo.

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