- Os aportes no setor começam a voltar.
- No Brasil, já se observa a Petrobras falar de investimentos mais robustos.
- A indústria offshore deve ser reestabelecida, conforme quer o governo.
O Ibovespa atingiu nesta quarta-feira (13) a casa dos 128 mil pontos e há projeções de que o índice alcance os 130 mil em breve. Para os mais otimistas, a Bolsa brasileira encerrará 2024 nos 140 mil pontos, conforme mostrado pelo E-Investidor. E nessa onda de otimismo, o petróleo deve funcionar como um impulsor para o índice no próximo ano.
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Para o economista Sérgio Vale, da MB Associados, o segmento de petróleo e gás deve performar melhor não apenas por mérito próprio, mas também porque o resto da economia estará em situação mais difícil em 2024. “O agronegócio pode passar por uma pequena quebra de safra e a indústria, o comércio e os serviços ainda se ressentirão do alto patamar de juros”, diz.
Segundo ele, o ano de 2022 foi marcado pelo recorde de subsídios ao setor de energia fóssil e esse movimento deve se manter em 2024. Além disso, os aportes no setor começam a voltar, mas também em gás natural, considerado menos poluente. “No Brasil, já se observa a Petrobras falar de investimentos mais robustos”, declara.
Entretanto, ele elenca que parte dos projetos da estatal diz respeito a iniciativas em que há muitas dúvidas sobre viabilidade, como as refinarias. De qualquer modo, já há um interesse explícito do governo em incentivar o setor e, por isso, nos próximos anos deverá manter bons resultados no Produto Interno Bruto (PIB), aponta.
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O BB Investimentos divulgou um relatório no última segunda-feira (11) tratando das perspectivas para 2024 e, dentre as ações do setor de energia, que abrange petróleo, gás, açúcar e etanol, o banco de investimentos tem recomendação de compra para Petrobras (PETR3; PETR4), Vibra Energia (VBBR3) e Jalles Machado (JALL3).
Em relação ao Ibovespa, o BB destaca que o índice reúne condições para oferecer um dos maiores retornos entre as classes de ativos em 2024. Não apenas pelo nível elevado de desconto frente a bolsas de economias centrais e de países emergentes, mas pelo impulso que o ambiente de política monetária no Brasil e no exterior podem proporcionar.
A instituição ressalta que o ambiente global segue complexo, com perda de dinâmica de crescimento. Esse componente sugere menor visibilidade em relação aos resultados esperados para as companhias mais expostas às commodities. Em contrapartida, o contexto pode ser benéfico para a redução dos rendimentos dos Treasuries (títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano), promovendo maior apetite a ativos de risco globalmente.
Para o BB, os impulsos da Bolsa em ciclos de corte de juros passam por dois estágios. O primeiro, imediato, atrelado à redução gradativa do custo de capital das companhias verificado ao longo de 2023 e o segundo, mais de longo prazo, vinculado à descompressão dos resultados financeiros das empresas e embalado por um maior apetite do mercado de crédito, cenário base para o ano que vem.
“Introduzimos nosso novo preço-alvo para o Ibovespa em 141 mil pontos para o final de 2024, o que representa cerca de 12% de potencial retorno”, indica, acrescentando que no cenário otimista a dinâmica de preços do petróleo e do minério de ferro contribuem para resultados mais fortes das companhias e o quadro de política monetária evolui positivamente sem sobressaltos.
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Opep e EUA no radar
O analista de utilities (referência a serviços essenciais, como saneamento e energia) da Mantaro Capital, André Nogueira, corrobora a tese de que o petróleo irá performar bem em 2024, pois há um preço corrente considerado em linha com as expectativas do setor.
Além disso, a economia americana ter se mantido aquecida tende a fortalecer a demanda pelo petróleo. “O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve se beneficiar, porque o resultado da Petrobras é bastante relevante, tanto na atividade econômica quanto nas receitas primárias do governo”, explica.
Dos ativos que podem se beneficiar com esse movimento, ele aponta as Junior Oils, como são denominadas companhias recentes do setor petrolífero, a exemplo de Prio (PRIO3) e a PetroReconcavo (RECV3). A Mantaro, inclusive, tem posições em Preio, PetroReconcavo e Petrobras, mas sempre sujeitas às constantes revisões de preços, custos de oportunidade e retornos potenciais.
Em relação aos riscos que o investidor deve observar, ele ressalta que no caso das Junior Oils potenciais gargalos na produção podem se tornar um problema, bem como fatores macroeconômicos, como uma possível recessão na economia americana, que traz volatilidade no preço do petróleo.
Na quarta-feira (13), a Opep revisou para cima em 30 mil barris por dia (bpd) sua projeção para a oferta de combustíveis líquidos do Brasil em 2023, estimando uma média de 4,1 milhões de bpd, conforme indicado em seu relatório mensal. Este aumento reflete um avanço de 400 mil bpd em relação ao ano anterior, impulsionado pela produção em outubro, que foi “mais robusta do que o esperado”, conforme afirmado pelo cartel.
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A Opep também antecipa uma produção ainda maior no quarto trimestre deste ano, atribuída à entrada em operação de novas unidades, melhorias no desempenho de ativos existentes e uma programação reduzida de eventos de manutenção. Para o ano de 2024, o cartel mantém a expectativa de um aumento de 120 mil barris na comparação anual, totalizando 4,2 milhões de bpd.
Demanda fraca e oferta estável
O analista Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, tem um olhar diferente acerca do petróleo em 2024. Para ele, a commodity não deve performar tanto quanto em 2023, principalmente porque, pelo lado da oferta, a Opep já reduziu bastante o preço e talvez tenha menos espaço para cortar no próximo ano.
Ele explica que em 2023 o mercado chinês veio de uma recuperação pós abertura da pandemia de covid-19, que começou em dezembro de 2022. Já o mercado norte-americano teimava em não retrair, com o Federal Reserve (Fed, banco central americano) se esforçando pela austeridade em sua condição de política monetária.
“Para 2024 não vejo nem China nem EUA com esse ímpeto e estas duas potências começam a mostrar desaceleração. Assim, demanda mais fraca e oferta mais estável resulta em um preço médio comportado”, conclui.
COP-28
O balanço global do Acordo de Paris, elaborado durante a 28ª Cúpula do Clima (COP-28) da Organização das Nações Unidas (ONU) em Dubai, não faz menção ao compromisso de eliminação gradual (conhecido como “phase out” em inglês) dos combustíveis fósseis.
O documento menciona exclusivamente a redução do consumo e produção de combustíveis fósseis “de forma justa”, visando atingir uma emissão zero de gases estufa até 2050, com compensações para evitar o aumento das temperaturas atmosféricas.
Analistas interpretam essa omissão como uma redução das ambições iniciais para avançar no tema, considerado crucial para conter o agravamento do aquecimento global. De um lado, pequenas nações insulares ameaçadas pelo aumento do nível do mar defendem um compromisso para o fim do uso de combustíveis fósseis. Por outro lado, nações dependentes de petróleo, como a Arábia Saudita, bloqueiam propostas que mencionam a redução.
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