A Vale (VALE3) vai anunciar nesta terça-feira seus resultados operacionais relativos ao terceiro trimestre de 2024, documento que investidores estão à espera para obter pistas sobre o pagamento de dividendos da mineradora. A expectativa consensual dos analistas é de que os números devem vir com queda na base anual. Mas quanto aos proventos, eles se dividem sobre a recomendação para a ação.
João Abdouni, da Levante, diz que a mineradora deve pagar cerca de R$ 5 em dividendos nos próximos 12 meses. O número é equivalente a 8% do valor da ação no fechamento de sexta-feira (11), quando o papel da mineradora encerrou o pregão a R$ 62,13. No início da tarde desta terça-feira, porém, o papel havia caído para R$ 60,74. O especialista diz que recomenda compra para a ação da Vale com foco nos proventos da mineradora.
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Já Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, comenta que a empresa seguirá enfrentando uma certa existência quanto a pauta da demanda mundial pelo seu principal produto no curto prazo – o minério de ferro –, mas sob a ótica do longo prazo, o analista diz que a Vale possui múltiplos muito bons, bem como solidez. “Se a empresa conseguir manter uma produção eficiente e se adaptar à queda dos preços (do minério), suas ações podem ser consideradas atrativas para investidores de longo prazo. A expectativa é que, com a recuperação da demanda por níquel e a estabilização dos preços, as ações possam ter um real potencial de alta, já que deixaria de ser refém da demanda por minério de ferro”, aponta.
O especialista diz que com base na redução esperada nas receitas devido à queda dos preços do minério de ferro, é possível que os dividendos a serem pagos nos próximos 12 meses sejam menores do que os valores históricos. No entanto, ele comenta que a Vale tradicionalmente tem um compromisso forte com a distribuição de dividendos. Lima estima que se a empresa conseguir manter uma produção saudável, ela tende a manter um dividendo em torno de R$ 5,00 a R$ 6,00 por ação nos próximos 12 meses. O número seria equivalente a um retorno em proventos de 8% a 9,6% do preço do ativo.
Gianluca Di Mattina, da Hike Capital, relata que a empresa deve pagar cerca de 8% a 9% do seu valor de mercado em dividendos (dividend yield). Na visão da especialista, embora a China seja o maior consumidor, outros mercados também podem se beneficiar de uma demanda crescente por metais, tornando as ações da VALE3 com bom potencial de valorização até o fim do ano.
É hora de comprar as ações da Vale?
Di Mattina recomenda compra das ações da Vale com preço-alvo de R$ 75, uma alta de 20,7% na comparação com o fechamento de sexta-feira (11), quando a ação encerrou o pregão a R$ 62,13. A XP também tem recomendação de compra com preço-alvo de R$ 82, um crescimento de 32% em relação ao fechamento de sexta-feira.
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A Ativa Investimentos é a única que não recomenda compra para a ação da empresa. Arbetman relata que prefere esperar os dados de produção da empresa para estimar quanto a Vale deve pagar em dividendos, e se esse é o momento do investidor comprar a ação. “Antes eu dizia que a Vale tinha três pontos que geravam incertezas para o papel. O primeiro era a sucessão do CEO, que foi resolvida. O segundo é Mariana, pois o valor da indenização está indefinido. E o terceiro é a China, que ainda está no começo de uma rodada de estímulos. Então, os pontos que travavam Vale estão mais fracos”, aponta Arbetman.
O especialista tem recomendação neutra com preço-alvo de R$ 75 para a ação, uma alta de 20,7% na comparação com o fechamento de sexta-feira (11). Ao E-Investidor, ele diz ser possível rever essa recomendação para Vale (VALE3) caso os números de produção venham acima do esperado.
O que esperar dos números do 3º tri e dos dividendos da Vale?
Segundo os analistas ouvidos pelo E-Investidor, embora a empresa tenha registrado um bom desempenho no terceiro trimestre, os números devem vir mais fracos entre o terceiro trimestre de 2023 e o terceiro trimestre de 2024, devido à queda do preço do minério de ferro. Ainda assim, os especialistas estimam bons dividendos para a companhia e avaliam se vale a pena comprar a ação agora.
Na visão de Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, a mineradora tende a ter uma continuidade na recuperação da produção e eficiência operacional, com possíveis aumentos na produção de minério de ferro e níquel, além de avanços na redução de custos. Segundo ele, a melhoria nas operações de logística, especialmente em relação ao transporte e embarque, pode ser um ponto positivo. “O aumento na demanda por níquel devido à transição energética e ao crescimento do setor de veículos elétricos também pode ser destacado como um fator positivo, refletindo na diversificação da receita da empresa, o que acaba sendo um ponto positivo em um momento que a demanda chinesa ainda apresenta dificuldades”, afirma Lima.
Segundo Gianluca Di Mattina, especialista de investimento da Hike Capital, a prévia operacional da Vale deve refletir uma sólida produção de minério de ferro, principalmente pela manutenção de sua capacidade de produção e por sua estratégia de foco em qualidade. Ele comenta também que embora a maior exposição da empresa seja ao mercado chinês, que tem implementado estímulos econômicos, outros fatores também contribuem para a resiliência da Vale.
“A recuperação de setores como infraestrutura e a produção de aço deve ter um impacto positivo nas vendas e receitas da companhia. No entanto, o cenário global ainda apresenta desafios. A desaceleração do crescimento econômico chinês, apesar dos pacotes de estímulos, e as contínuas preocupações com o setor imobiliário podem limitar uma recuperação robusta. Além disso, os preços do minério de ferro foram pressionados pela volatilidade do mercado global e pela possibilidade de cortes na produção de aço em algumas regiões, o que pode impactar negativamente a receita da Vale”, aponta Mattina.
Aprovação de negócio com a Anglo American
A Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou, sem restrições, a aquisição pela Vale de 15% do capital da Anglo American Minério de Ferro Brasil. O despacho foi publicado no Diário Oficial da União (DOU). Como mostrou o Broadcast, o acordo também envolve uma parceria com a Anglo American, empresa que atualmente detém o complexo Minas-Rio, e os recursos da Vale da Serra da Serpentina. A Anglo American continuará a controlar, gerenciar e operar Minas-Rio, incluindo qualquer futura expansão.
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De acordo com o processo no Cade, além da compra de ações, a mineradora Vale, diretamente ou por meio de controladas, adquirirá 15% do saldo em aberto de dívidas intercompany (entre empresas do mesmo grupo) existentes na data de fechamento, tornando-se credora da Anglo American Brasil. A operação contempla também a possibilidade de expansão do sistema logístico de escoamento de minério de ferro caso a capacidade de transporte do mineroduto do Sistema Minas-Rio se torne insuficiente para a produção da Anglo American Brasil, assim como desenvolvimento de solução logística adicional para propiciar o escoamento do volume adicional proveniente do Projeto Serra da Serpentina.