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Alô, Ambev (ABEV3): reabertura econômica aquece mercado de bebidas

Entenda o que esperar das ações da empresa dona de marcas como Skol, Brahma e Budweiser

Alô, Ambev (ABEV3): reabertura econômica aquece mercado de bebidas
Fabrica da Cervejaria Bohemia, da Ambev, na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro. Foto: Marcos Arcoverde/Estadão
  • Uma pesquisa mostrou que as as vendas on-line de bebidas saltaram 93,9% na quarentena, com 248,9 mil compras realizadas entre fevereiro e maio do ano passado
  • Aquisições como o ZéDelivery e a plataforma BEES foram um dos grandes passos da empresa para suprir as necessidades trazidas pelo ‘novo normal’
  • Apesar do otimismo com a reabertura, incertezas sobre as variantes do coronavírus e a lentidão da imunização ainda impedem o salto da empresa

(Por Jenne Andrade e Rebeca Soares) – A crise do coronavírus impactou a rotina da população em vários aspectos, e o modo como as pessoas consomem bebidas alcoólicas não foi exceção. Segundo pesquisa da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), as vendas on-line desse tipo de produto cresceram 93,9% na quarentena, com 248,9 mil compras realizadas entre fevereiro e maio do ano passado.

Quem não contava com essa derrocada foi a Ambev (ABEV3), que possui cerca de 60% do mercado brasileiro de bebidas. A empresa precisou se adaptar rapidamente às novas formas de consumo, com as pessoas passando mais tempo em casa e priorizando as latas, que custam mais caro à companhia, em vez das tradicionais garrafas retornáveis servidas em estabelecimentos comerciais.

Aquisições como o ZéDelivery, aplicativo para compra de bebidas, e a plataforma B2B BEES, foram um dos grandes passos da empresa em direção ao suprimento das necessidades trazidas pelo ‘novo normal’. A Ambev também acelerou a construção da primeira fábrica de latas em Minas Gerais, inaugurada em setembro do ano passado.

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Mesmo com os esforços para chegar até a ‘casa’ dos clientes, os papéis ABEV3 terminaram 2020 em queda acumulada de 16%, aos R$ 15,65. Um dos fatores que pesou sobre a companhia, além do impacto inicial da crise, foi a disparada de 30% do dólar. “A maioria dos produtos usados ​​para produzir cerveja tem preço em dólar ou pode ser afetado indiretamente pelo câmbio”, afirmou a XP, em relatório produzido em outubro do ano passado.

Com recomendação de compra, a XP já ressaltava o potencial da produtora de bebidas com a reabertura da economia já no final do ano passado. “Enxergamos melhora nos volumes de vendas da AmBev no curto prazo, aliados a uma potencial recuperação macroeconômica no Brasil, mesmo com o término do auxílio emergencial”, explicou a casa, em relatório de 2020.

Inovação e salto nas vendas de cerveja

Passadas as piores fases da crise sanitária, e com o avanço da vacinação, o mercado começa a vislumbrar uma possível volta das atividades presenciais até o fim de 2021. E esse gradual retorno ao ‘velho normal’ pode trazer também números fortes para a Ambev. Somente entre maio e junho deste ano, o Credit Suisse já espera um aumento de 25% nas vendas de cervejas feitas pela empresa.

No ano, as ações acumulam alta de 12,60% na bolsa de valores, aos R$ 17,40. E não para por aí. Somente no 1º trimestre, o aplicativo ZéDelivery recebeu 14 milhões de pedidos. “Permanecemos otimistas com a capacidade da AmBev de capturar ainda mais valor por meio de inovação tecnológica e mix de portfólio”, afirmou a XP, em relatório publicado em maio deste ano. A casa reiterou a recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 20.

Para Leonardo Alencar, analista de Agro, Alimentos e Bebidas da corretora, a eficiência operacional e a capilaridade em todo o território nacional fizeram com que a produtora de bebidas conseguisse apresentar inovação, mesmo em situações adversas, como o isolamento social. Por outro lado, a abertura de bares e restaurantes impulsiona as margens de lucro.

“Mesmo com aumento do consumo de produtos em supermercados, não é possível suprir os volumes de compra dos estabelecimentos. Especialmente quando avaliamos os custos com embalagens. Em casa, há descarte direto, enquanto bares reutilizam até 20 vezes”, afirma.

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Apesar do otimismo com a reabertura, as incertezas quanto ao impacto das variantes do vírus e a lentidão da imunização completa dos brasileiros ainda impedem o salto da empresa. Além disso, as pressões nos preços de commodities e a estabilização do dólar acima de R$ 5 também fazem parte dos desafios de rentabilidade.

O aumento da inflação, que atinge o poder de compra dos brasileiros, também pode ser um entrave ao ‘retorno aos barzinhos’. Por conta desses obstáculos, instituições financeiras estão com posicionamentos díspares sobre o papel. A Ágora Investimentos, por exemplo, reconhece que possivelmente haverá um ambiente mais amistoso para a Ambev nos próximos meses. Entretanto, já vê esses benefícios precificados na ação.

“A expectativa é que tenhamos um processo de volta à vida normal ou algo próximo a isso no 2º semestre, com a reabertura de bares e restaurantes, Como consequência, podemos esperar o aumento do volume de vendas de bebidas”, afirma Ricardo França, analista da Ágora. “Mas hoje o valuation da empresa parece refletir já essas boas expectativas. Temos visão neutra.”

A dona das marcas Skol e Brahma também estaria vivenciando um aumento de competição no segmento, um dos motivos que fizeram o BTG manter a recomendação também neutra para os papéis. “A competição é outro risco para a Ambev à medida que as restrições da cadeia de suprimentos se normalizam”, explica o banco, em relatório.

Posicionamento sustentável pode impulsionar

O MSCI ESG Rating avalia a empresa com uma classificação AA, colocando a companhia no conjunto de 23% das empresas de bebidas com melhores indicadores ambientais, sociais e de governança do mundo. Segundo o analista da XP, a Ambev poderia ter resultados ainda mais positivos no que diz respeito ao ESG.  “Do mesmo modo que o mercado cobra resultados financeiros, está começando a cobrar avanços dos projetos sustentáveis. É importante direcionar sistemas de tecnologia para medir os avanços da agenda ESG. Percebemos que falta isso na empresa.”

Na sétima edição do Ranking Merco de Responsabilidade e Governança Corporativa, divulgada no fim de junho, a empresa ocupou, pela primeira vez, a segunda colocação entre as 100 empresas brasileiras com melhor governança corporativa. O ranking é feito a partir de entrevistas com 2.500 amostras e 13 diferentes fontes de informação, como ONGs, sindicatos, órgãos públicos e analistas financeiros.

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Empresas em destaque de governança, entre outros benefícios, podem atrair investimentos robustos de grandes players, facilitar o acesso à crédito e ampliar o valor agregado.

A empresa segue um planejamento de metas sustentáveis até 2025, que inclui a meta de 25% na redução da emissão de carbono com utilização de 100% da eletricidade advinda de fontes renováveis. Além disso, almeja que até lá, todas as embalagens devem ser retornáveis ou sejam de conteúdo reciclado.

No âmbito social, a empresa almeja oferecer ferramentas de empreendedorismo para os pequenos negócios que compram os produtos, além de planejar que todos os agricultores parceiros tenham a base necessária para desenvolver plantio sustentável.

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