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Ações do Nubank derretem após balanço: o que dizem os analistas

Banco teve resultado misto, com crescimento de receitas e aumento preocupante de despesas

Ações do Nubank derretem após balanço: o que dizem os analistas
Resultados mistos acenderam sinal amarelo em analistas. Foto: Divulgação/Nubank
  • Apesar do aumento das receitas, o crescimento dos gastos preocupa os analistas
  • Os resultados foram considerados mistos e os analistas recomendam cautela em relação aos papéis
  • A deterioração das expectativas de macro também devem afetar os resultados em 2022. Entre os pontos de preocupação, está o possível aumento da inadimplência

O Nubank publicou o balanço do 4º trimestre de 2021 na noite da última terça-feira (22), o primeiro resultado lançado após a abertura de capital na NYSE. Na manhã desta quarta (23), os papéis da fintech negociados no exterior e os BDRs (recibos de empresas listadas no exterior) negociados na B3 abriram em alta, mas logo reverteram para queda.

Até às 12h02, a NU caía 9,49%, aos US$ 7,96. No mercado doméstico, a NUBR33 caía 10%, aos R$ 6,75. Entre outubro e novembro do ano passado, o banco digital registrou um prejuízo líquido de US$ 66,2 milhões, menor do que os US$ 103,7 milhões negativos aferidos em 2020.

O resultado líquido, entretanto, não foi o que mais chamou a atenção entre os números apresentados. Segundo Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, a fintech apresentou uma performance bastante mista. O principal destaque positivo, por exemplo, foi o crescimento de 214% da receita líquida, que atingiu os US$ 635,9 milhões no final do ano passado.

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Deste montante, US$ 196,4 milhões são advindos de tarifas e comissões, isto é, dos serviços do banco digital. A maior fatia, de US$ 439,5 milhões, corresponde a juros e ganhos sobre instrumentos financeiros. “Portanto, ainda vemos um crescimento mais tímido de geração de receita através de serviços. De toda forma, o crescimento da receita total foi bem forte”, explica Crespi.

O aumento de 61,9% no número de clientes na base anual também foi bem recebido pelo mercado. A maior fintech do Brasil terminou o ano passado com 53,9 milhões de usuários, contra 33,3 milhões registrados no final de 2020. Aliada à expansão de popularidade, a receita média mensal por cliente ativo passou de US$ 3,3 para US$ 5,6, enquanto o custo médio mensal de atendimento por cliente caiu de US$ 1,1 para US$ 0,9.

Na visão de Danielle Lopes, sócia e analista da Nord Research, foi o crescimento da base de clientes o que mais surpreendeu. “Claro, ainda é uma receita muito pequena. Cerca de 5 dólares por cliente para uma base gigantesca como a do Nubank, ainda não é das melhores. Eles podem fazer muito mais”, afirma Lopes.

Gastos pesam contra a fintech

Por outro lado, a ampliação das despesas financeiras preocupou os analistas. No 4º trimestre de 2021, o custo dos serviços financeiros totalizou US$ 409 milhões, um aumento de 224,1% em comparação ao mesmo período de 2020. As despesas operacionais também cresceram 208,9% em relação aos 12 meses anteriores, atingindo os US$ 315,4 milhões.

O mesmo ocorreu com as despesas para provisões para perdas de crédito, que passaram de US$ 53,9 milhões para US$ 199,6 milhões. “As despesas financeiras devem continuar elevadas, principalmente com as perspectivas de alta da Selic até o fim do ano”, explica Crespi, da Guide Investimentos. “Como eu disse, um resultado bastante neutro.”

O fato de o banco ainda dar prejuízo acende um sinal amarelo para Lopes, da Nord. A especialista explica que é sempre preciso avaliar o motivo do prejuízo, que no caso do ‘roxinho’ está em grande parte relacionado aos gastos com pessoal.

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“A companhia tem gastos enormes com pessoas. Então precisam compensar isso, colocando para dentro pessoas de tecnologia e oferecendo produtos, formas de monetizar. Esse vai ser sempre o centro da minha preocupação com relação ao Nubank. Dá para crescer elevando receita dos clientes ativos, como eles estão fazendo hoje? Dá, mas não sabemos até quando, com as perspectivas macro se deteriorando”, ressalta a analista da Nord.

Essa também é a visão de Pedro Leduc, Mateus Raffaelli, Marco Calvi e William Barranjard, do Itaú BBA. Em relatório, os analistas destacaram os resultados mistos da companhia. “Do lado negativo, o crescimento recorrente da receita de serviços de 18% no trimestre ficou abaixo das expectativas”, explicaram, no documento.

E as ações?

Com o resultado mais ‘morno’, a Guide Investimentos continua com visão neutra para os papéis do Nubank. De acordo com Crespi, o mercado poderá observar um desafogamentos das despesas financeiras apenas quando a Selic encerrar o ciclo de alta, o que não deve ocorrer no curto prazo.

O Itaú BBA também reforçou a visão cautelosa para os papéis. “Esperava-se que as receitas melhorassem neste trimestre e acabaram um degrau abaixo das previsões. Os desafios cíclicos e estruturais que acreditamos justificar as avaliações das ações pareceram estar presentes durante o trimestre.”

Para Lopes, quem tem os papéis deve vender e, quem não tem, não deve comprar. “Eles ainda queimam caixa, ainda dão prejuízo, isso é preocupante. Eu ficaria de olho nessa linha de pessoas, porque eles têm aumento bastante salários e benefícios. Ficaria de olho também se a receita mensal do cliente ativo começa a crescer de verdade”, afirma.

Em relação às perspectivas para o Nubank, as condições macroeconômicas devem ditar a performance do banco digital daqui para frente. Com a elevação da inflação e dos juros, a inadimplência, que ainda não impactou a fintech, pode se tornar um problema sério no médio prazo.

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“Acho que o mercado tem muito medo, porque a inadimplência ainda não se mostrou o ‘bicho’ que ela pode vir a ser”, afirma Lopes. “A elevação da inadimplência pode impactar os recebíveis da empresa e a receita, então todos esses pontos positivos de hoje podem ruir. O mercado está projetando que o Nubank vai lucrar em 2022, mas precisamos ver se esse lucro vai se manter. E o que vai ditar isso é o ‘macro’.”

 

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