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Nubank x Itaú: por que o roxinho vale mais?

Saiba qual a opinião de analistas sobre o valuation do banco digital, hoje o mais valioso da América Latina

Nubank x Itaú: por que o roxinho vale mais?
Para fazer jus ao valuation, Nubank precisará alcançar um forte crescimento nos próximos anos. Foto: Caue Diniz
  • Thiago Lobão, fundador e CEO da Catarina Capital, explica que comparar Nubank com o Itaú não é razoável, já que apesar de serem do segmento financeiro, os modelos de negócios são bem diferentes
  • Disruptivo, o Nubank nasceu com a proposta de desburocratizar processos e entregar uma experiência impecável ao cliente. A proposta atraiu 40 milhões de usuários em pouco mais de oito anos
  • Ainda assim, a fintech deu lucro pela primeira vez no 1º semestre de 2021. Poucos meses depois, entrou na Bolsa de Nova York avaliada em US$ 41,5 bilhões, mais que o Itaú Unibanco e todos os demais bancos da América Latina

Em maio de 2013, o Nubank foi fundado com uma proposta ousada. A ideia era tornar processos que até então eram burocratizados nos bancos tradicionais em procedimentos ao alcance de um clique. Sem porta giratória, filas, extratos complexos e tentando entregar uma experiência totalmente digital e satisfatória ao usuário, o que foi o diferencial para a empresa.

O primeiro produto, um cartão de crédito sem anuidade e 100% controlado pelo aplicativo, já representou um grande salto em praticidade. De lá para cá, a cesta de possibilidades da fintech aumentou substancialmente a medida que participava de novas rodadas de investimentos.

Agora, os clientes Nu têm a conta totalmente gratuita e que rende 100% do CDI, cartão de crédito e débito, pagamento de boletos, avaliação de empréstimos feito automaticamente, além de a possibilidade de realizar investimentos após a compra da corretora Easynvest. É importante ressaltar que o banco digital expandiu suas operações para o México, em 2019, e Colômbia, em 2020.

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Fora as facilidades, o marketing do ‘roxinho’ segue conquistando especialmente os mais jovens. A companhia, que tem a cantora Anitta entre os conselheiros, atingiu 40 milhões de usuários em junho de 2021.

A mais valiosa, sem lucro?

Mesmo com os pontos fortes, o Nubank Brasil reportou lucro líquido pela primeira vez no 1º semestre deste ano, quando conseguiu um resultado positivo de R$ 76 milhões (último resultado divulgado). Fintechs que não lucram não são exatamente incomuns, já que várias delas possuem estratégias agressivas de crescimento e reinvestimento de capital.

Ainda assim, a situação levanta certa desconfiança, principalmente quando este lucro vem pouco tempo antes do IPO (oferta inicial de ações). Uma das conhecidas desvantagens de se investir em IPOs é de que muitas empresas se ‘enfeitam’ antes de irem à Bolsa.

Na semana passada, o banco digital abriu capital na NYSE (Bolsa de Nova York) e estreou no mercado valendo US$ 41,5 bilhões, mais que o centenário Itau Unibanco, que lucrou R$ 6,8 bilhões no 3º trimestre de 2021, e todas as demais instituições financeiras da América Latina.

“A empresa ainda não lucra. Embora eles tenham dito que isso é de forma estratégica, é difícil saber até que ponto a não lucratividade é de fato uma estratégia. E até que ponto é prolongar os resultados, ou seja, jogar para frente, para começar a monetizar essa base gigante de clientes”, explica Danielle Lopes, analista da Nord Research.

Aliás, com esse valuation, a ‘ex-startup’, criada há apenas oito anos se tornou a terceira empresa mais valiosa do Brasil, atrás apenas de Petrobras e Vale, segundo dados da Economatica. Na oferta inicial, as ações do Nubank nos EUA (NU) foram precificadas a US$ 9. Paralelamente, BDRs das ações foram listados na B3 (NUBR33).

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Ter uma avaliação de mercado tão alta significa que os investidores esperam um forte crescimento da empresa nos próximos anos. Na visão de Lopes, da Nord, é arriscado pagar tão antecipadamente por uma expansão que ainda é incerta.

“Eles teriam que crescer pelo menos 208 vezes para fazer jus à média de lucros do Ibovespa que temos hoje. Dado o desafio que eles têm à frente, para mim ainda não faz tanto sentido. O valuation deveria ter ido um pouco mais devagar”, explica.

Essa também é a visão de João Daronco, analista da Suno Research. Para o especialista, se faz sentido o Nubank valer mais que o Itaú ou não é a pergunta de ‘um milhão de dólares’. O Nubank, de fato, é uma empresa inovadora e com grande potencial. A dúvida entra no nível de preço em que o banco foi lançado ao mercado e se as altas expectativas em torno deste preço serão cumpridas.

“Eu vou não ter a prepotência de dizer que sim ou que não. Porém, vejo que aos preços atuais o investimento em Itaú é mais “fácil” de se pagar dada a sua execução do que o do Nubank”, afirma Daronco. “Acho que a diretoria do Nubank terá grandes desafios pela frente para esse preço fazer sentido. É possível que consigam? Sim. É provável que consigam? Não tenho tanta certeza.”

A seu favor, os ‘bancões’, como o Itau, possuem uma carteira de crédito robusta (que é o grande business dos bancos tradicionais), solidez e alta lucratividade. Mas perdem quando o assunto é adaptar-se rapidamente a mudanças e novas tecnologias, além de terem processos muito burocratizados.

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Entre pontos fortes e fracos, o fato é que as instituições tradicionais continuam entregando fortes resultados e estariam negociando a um PL (preço/lucro) atrativo, de menos de 10 vezes. De acordo com Mario Goulart, analista da O2Research, é ‘surrealista’ aceitar um valuation tão esticado em relação ao Nubank.

“Fora da realidade. O Itaú Unibanco é centenário, com uma carteira consolidada de clientes. O Nubank é um banco barato para quem está fora do sistema bancário, são clientes com tíquetes baixos. Talvez os bancos digitais forcem um pouco as receitas de pessoas físicas dos bancões, que são receitas minoritárias dentro dessas instituições”, afirma Goulart.

De acordo com o analista da O2, o risco está em ocorrer uma grande correção no valor de mercado do Nubank, caso o forte crescimento esperado não se materialize. “Aí acontece essas tragédias, como ocorreu com Magazine Luiza, que estava com preço/lucro de 130 vezes e as ações caíram 77,23% no ano. Dá um ânimo inicial, mas nos últimos pregões as ações do Nubank tiveram queda pesada.”

De fato, até o fechamento da última terça-feira (14), os papéis do Nubank (NU) estavam cotados a US$ 9,92, após caírem 8,23% ao longo do dia. No pregão de segunda-feira (13), a queda foi de 8,78%.  A sequência de desvalorizações vem após uma estreia muito positiva, em que as ações, precificadas em US$ 9 no IPO, chegaram a subir 30% no primeiro pregão de negociação.

Nem tudo é lucro líquido

Por outro lado, nem tudo é lucro líquido ou resultado financeiro. Hoje, considerado o maior banco digital do mundo, o Nubank pode ser um case disruptivo no segmento financeiro. Por isso, a forma de avaliar a empresa deve ser diferente.

“Por mais que não esteja entregando lucro agora, isso não significa que não trarão lucro lá na frente e que não deveriam valer o que valem hoje. Os bancos digitais vem com uma proposta diferente dos tradicionais, então não cobram taxas. Enquanto não têm um market share muito grande, não conseguem entregar um grande lucro”, afirma Leo Monteiro, analista de Research da Ativa Investimentos.

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A tese de investimentos dos bancos digitais é diferente e se baseia na capacidade de ganhar clientes, no crescimento. E foi a confiança nesse quesito que fez a Catarina Capital entrar no IPO do ‘roxinho’. A casa espera que a empresa tenha uma rentabilidade agressiva, acima das principais companhias da Nasdaq no longo prazo, de pelo menos 30% a 35% ao ano.

Thiago Lobão, fundador e CEO da Catarina Capital, explica que comparar Nubank com o Itaú não é razoável, já que apesar de serem do segmento financeiro, os modelos de negócios são bem diferentes.

“Nubank está em uma classe de empresas chamada ‘neobank’, os novos bancos nativos digitais. Na prática, você está falando de um banco que tem o mínimo de interface pessoal ao longo de todo o ciclo de consumo de produtos financeiros. Você contrata, acessa, utiliza, rentabiliza, sem nenhum tipo de contato humano. E isso não é só um app que permite, tem todo um desenvolvimento de TI para que isso seja possível”, afirma Lobão.

A arquitetura de dados e tecnologia do Nubank é um grande diferencial, que no futuro pode permitir que o crescimento continue expandindo. Diferente dos ‘bancões’, que ainda possuem gargalos tecnológicos. Além disso, o banco digital visa ter escala global.

“Os neobanks já estão super preparados para lidar com o digital desde o início”, explica Lobão. “O grande investidor estrangeiro de tecnologia não está interessado em comparar Nubank com Itaú, que é um grande banco, mas local. Ele está interessado em comparar o Nubank com os grandes bancos digitais globais que estão crescendo muito. E nessa comparação o banco de Cristina Junqueira é o maior, incontestavelmente.”

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Frente aos bancos nativos digitais chineses, americanos e europeus, o banco digital brasileiro estaria bem precificado. “No Brasil, estamos preocupados em fazer comparações com que a gente conhece. Nos bancos tradicionais, a lucratividade pesa demais nas ações, mas os crescimentos (entre bancões e neobanks) são bem diferentes. A ação do Itaú, por exemplo, andou menos de 3% nos últimos cinco anos. Se você pega as rodadas de investimento do Nubank, elas foram cada vez maiores”, explica Lobão.

Essa também é a visão de Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos. “O mercado financeiro trabalha em cima das expectativas, e muito mais que gerar lucro, o Nubank conseguiu atingir uma quantidade de CPFs muito grande em pouco tempo. Além disso, o CEO da empresa quer transformar o Nubank em um banco global, o que trouxe atratividade dos investidores na abertura de capital”, afirma. “Aliás, ninguém sai espalhando que tem conta no Itaú ou no Banco do Brasil, mas isso acontece com quem tem conta no Nubank.”

Na data de publicação da reportagem, o Nubank estava em período de silêncio.

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