- Apesar do aumento das incertezas no cenário econômico com o recente agravamento da pandemia no País, as expectativas são positivas para o pagamento de dividendos em 2021, sobretudo na segunda metade do ano
- Segundo levantamento da Economatica, o setor de energia elétrica figura no top 3 de maiores pagadores de proventos na última década
- Outro setor para ter no radar é o financeiro, que apresenta o melhor desempenho em volume de distribuição entre 2011 e 2020.
Os dividendos são uma importante estratégia para quem pensa no futuro. Para isso, é preciso investir em empresas com fama de boas pagadoras de proventos. Além de ganhar com a valorização das ações, o investidor pode embolsar um recurso extra, vindo da distribuição dos lucros dessas companhias ao longo do ano.
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Apesar do aumento das incertezas no cenário econômico com fatores como o recente agravamento da pandemia no País, as expectativas são positivas para o pagamento de dividendos em 2021, sobretudo na segunda metade do ano.
“Estamos vivendo o pior momento da crise. Mas vejo o segundo semestre melhor em termos de vacinação, porque lá fora estão acelerando muito esse processo”, avalia Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos. “Neste ano, a tendência é positiva, embora incerta, para uma melhora no pagamento de dividendos e Juros sobre Capital Próprio (JCP). Um cenário bem melhor do que 2020”, acredita.
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Entre as fontes consultadas pelo E-Investidor, o campeão de apostas para pagamento de dividendos neste ano deve ser o setor de energia elétrica. Segundo levantamento da Economatica, o segmento figura no top 3 de maiores pagadores de proventos na última década. “É um setor clássico na bolsa de valores e que deve se beneficiar com uma retomada da economia brasileira e com um aumento do consumo de energia elétrica ao longo de 2021”, afirma Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos.
A economista e colunista do E-Investidor, Louise Barsi, concorda e ressalta que o bom desempenho do setor deve ser puxado pelas transmissoras elétricas. “Essas empresas têm as receitas atreladas a uma correção monetária, IPCA ou IGP-M, e ambos estão com uma trajetória em ascendência para este ano, quiçá também para o ano que vem, quando olhamos as projeções mais de longo prazo”, explica Barsi.
Para a economista, Taesa (TAEE11) e ISA CTEEP (TRPL4) são dois exemplos de empresas neste segmento que podem render bons dividendos. A unit da Taesa possui o melhor Dividend Yield (DY) da década, com mediana de 12,43%, segundo o levantamento da Economatica. O DY indica a rentabilidade, em termos percentuais, dos dividendos e JCP em determinado período.
Outro setor para ter no radar é o financeiro, que apresenta o melhor desempenho em volume de distribuição entre 2011 e 2020. Para este ano, a avaliação é que o potencial para o repasse dos lucros depende da recuperação na rentabilidade sobre o patrimônio líquido que os bancos demonstrarem ao longo de 2021, observa Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos.
“É possível que no primeiro semestre, por conta dessa continuidade da crise, haja uma distribuição menor dos dividendos dos bancos que no segundo semestre”, diz Arbetman. “Mas se existe um setor no nosso País que está acostumado a lidar com crises e não demonstrar queda em sua rentabilidade por conta delas é o setor financeiro, que já passou por diversas e demonstrou resiliência na área de distribuir proventos”, acrescenta.
Impacto da crise em 2020
A distribuição de dividendos por empresas de capital aberto na B3 recuou quase 30% em 2020. Apesar do cenário difícil, oito companhias que ficaram no ranking das 20 maiores pagadoras de proventos no ano passado atingiram o maior valor distribuído na última década: Vale, Santander, B3, CPFL Energia, Tim, Taesa, Copasa e Cyrela.
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Em 2020, o volume de dividendos e JCP chegou à marca de R$ 91,3 bilhões. O valor é 29,3% inferior aos R$ 129,1 bilhões registrados em 2019, o maior volume da década, e interrompe o movimento de alta observado em 2017 (R$ 73,4 bilhões) e 2018 (R$ 75,7 bilhões), segundo a Economatica. A Vale (VALE3) foi deixada de fora devido ao volume superior à média nos últimos anos.
“A crise econômica afetou quase todos os setores internos da economia brasileira, o que naturalmente diminuiu o lucro dessas empresas e a distribuição dos proventos”, diz Madruga.
O primeiro choque da pandemia, em março de 2020, trouxe uma série de incertezas. Muitas empresas optaram por se preservar financeira e operacionalmente, o que também afetou o repasse dos lucros para os acionistas. “O primeiro baque exigiu dar um fortalecimento aos seus caixas e à cobertura do seu risco de liquidez para depois, com a casa aberta e os fluxos de caixa voltando a ficar mais estáveis, retomar a política de distribuição de proventos”, avalia Arbetman.
O analista da Ativa também pontua que, em alguns casos, como o setor de bancos, houve limitação regulatória. Em abril, uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) determinou que o repasse dos lucros deveria atender ao limite mínimo previsto nos estatutos das instituições, a fim de preservar as suas capacidades de crédito durante a crise.
As ações que mais pagaram dividendos em 2020
Uma das companhias que atingiram o maior valor distribuído em dividendos e JCP na última década, a Vale foi a que mais repassou valores aos acionistas em 2020. No total, foram R$ 18,709 bilhões. A enorme demanda da China por minério de ferro e a valorização do dólar frente ao real impulsionaram a empresa. “A maximização do retorno ao acionista foi posta em primeiro lugar. A Vale sabe que tem uma dívida não só com seus acionistas mas com a sociedade, que é longa e não se resolve de uma hora para outra – os eventos de Brumadinho e Mariana, que prejudicou muito o retorno do quadro de acionista nos últimos anos”, detalha o analista da Ativa.
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Para Arbetman, há chances de distribuição de proventos mais forte em 2021, uma vez que a mineradora acertou, em fevereiro deste ano, acordo com o Governo de Minas Gerais no valor de R$ 37,6 bi pelos danos causados em Brumadinho.
Além da Vale, completam o top 3 das companhias que mais pagam dividendos Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11), com volumes distribuídos de R$ 12,06 bilhões e R$ 10,21 bilhões, respectivamente. O setor bancário soma quatro empresas entre as 20 da lista com as maiores distribuidoras de proventos, incluindo Banco do Brasil (BBAS3) em 7º lugar (R$ 6,07 bilhões) e Bradesco (BBDC3) em 12º (R$ 1,43 bilhão).
O sócio da Monte Bravo explica que a forte distribuição de dividendos no início de 2020 ainda foi um reflexo dos seus números no ano anterior. “Depois que veio a pandemia, os bancos foram privados de distribuir ao longo do ano, assim como também não puderam fazer a recompra das suas ações. A forte distribuição de dividendos basicamente foi no mês de fevereiro de 2020, ainda refletindo os resultados de 2019”, diz Madruga.
No caso do Itaú, a grande capilaridade em termos de produtos e o público-alvo de mais alta renda ajudaram na lucratividade mais agressiva em relação aos seus concorrentes, segundo a avaliação de Madruga.
O setor elétrico também teve destaque, com quatro empresas no top 20, seguido pelos setores de alimentos e bebidas, com três, e petróleo e gás e telecomunicações, com duas. Os outros cinco setores participaram apenas com uma companhia cada.
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“É natural que companhias concessionárias do ramo de energia elétrica e do ramo financeiro sejam a maioria da lista, porque os business delas são mais voltados à distribuição de proventos. Mesmo em um ano atípico, se mostraram como as mais resilientes no tocante ao pagamento de proventos”, conclui Arbetman.
Estratégia
Quem busca se beneficiar dos lucros da companhias deve ter em mente que a estratégia de dividendo é interessante para se investir no longo prazo uma vez que se trata de uma “renda passiva”, explica Barsi.
“Enquanto você dorme, você tem a rentabilidade, o dinheiro trabalhando para você. Faz sentido também reinvestir esse dividendo, porque o juros composto no longo prazo é exponencial. Então você consegue alavancar tanto o crescimento do seu patrimônio, quanto o crescimento também da renda gerada por esse patrimônio no futuro”, aconselha a economista.