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Empresas levantam capital na Bolsa, mas mercado nem sempre vê com bons olhos

Segundo a B3, 19 operações de follow-on já foram realizadas em 2023

Empresas levantam capital na Bolsa, mas mercado nem sempre vê com bons olhos
(Foto: Envato Elements)
  • As operações foram responsáveis por movimentar mais de R$ 31 bilhões reais na Bolsa brasileira, de acordo com a B3
  • As ofertas de ações são estratégias das empresas conseguir se capitalizar por meio da Bolsa
  • O problema é que o mercado costuma avaliar de forma negativa as operações voltadas para resgatar o equilíbrio financeiro das empresas

As operações de follow-on ou as ofertas subsequentes, como também são conhecidas, fazem parte das estratégias que as companhias de capital aberto possuem para levantar recursos na bolsa de valores. O problema é que nem sempre a alternativa costuma ser bem vista pelo mercado. O caso do Grupo Casas Bahia (BAHI3) exemplifica bem esse risco. Ao comunicar a sua oferta para reduzir liquidez, a varejista esperava arrecadar cerca de R$ 1 bilhão com as novas ações, mas só conseguiu levantar R$ 622,9 milhões.

O volume decepcionou o mercado e as ações da companhia despencaram 18,92% no pregão seguinte ao follow on, passando a valer a R$ 0,90. No entanto, a situação das Casas Bahia não é a única. Segundo dados da B3, 18 operações de follow-on foram realizadas ao longo de 2023. Ao olhar para o desempenho das ações no dia da oferta dos novos papéis, metade encerrou o pregão com perdas. Já nas datas de precificação das ações, 10 apresentaram quedas de até 6,71%.

Veja as ações que tiveram perdas no dia da negociação do follow-on

Companhias Data de fixação dos preços Retorno no dia de fixação Data de negociação Retorno da ação no dia da negociação Total das negociações
CVC BRASIL 22/06/2023 -3,78% 26/06/23 -7,92% R$ 549 milhões
ORIZON 27/04/2023 -5,48% 02/05/23 -5,48% R$ 369.3 milhões
ONCOCLINICAS 20/06/2023 -5,50% 22/06/23 -4,62% R$ 896.8 milhões
CASAS BAHIA 13/09/2023 -5,13% 18/09/23 -3,95% R$ 622.9 milhões
DIRECIONAL 29/06/2023 4,96% 03/07/23 -3,31% R$ 428.8 milhões
BRF 14/07/2023 -6,71% 17/07/23 -2,70% R$ 5.4 bilhões
HAPVIDA 12/04/2023 1,13% 14/04/23 -1,52% R$ 1 bilhão
BR PARTNERS 26/09/2023 -1,78% 28/09/23 -1,52% R$ 214 milhões
LOCALIZA 26/06/2023 0% 28/06/23 -0,48% R$ 4.5 bilhões

A explicação para o pessimismo do mercado tem os seus porquês. Segundo Carlos André Marinho Vieira, analista-chefe do TC, a principal causa de uma reação negativa dos investidores costuma ser o motivo da operação. Em alguns casos, as empresas buscam se capitalizar exatamente para equilibrar a sua situação financeira. “Mesmo que a empresa se capitalize, o seu desempenho futuro pode continuar comprometido em razão de uma economia mais incerta”, acrescenta Vieira.

São os casos da CVC (CVCB3) e do Assaí (ASAI3). Ainda de acordo com a B3, as duas companhias realizaram duas operações de follow-on em menos de um ano. As ofertas da CVC aconteceram nos dias 27 de junho de 2022 e 26 de junho de 2023, enquanto as do Assaí nos dias 1 de dezembro de 2022 e 20 de março de 2023. Ao olhar para os seus últimos resultados trimestrais, as companhias apresentaram números negativos. O Assaí, por exemplo, entregou um lucro líquido 51% menor no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado.

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Já a CVC registrou um prejuízo líquido de R$ 167 milhões no seu último balanço. O volume é 76% em relação ao segundo trimestre de 2022. “As empresas que já mostravam resultados abaixo das expectativas em divulgações anteriores devem continuar mostrando algumas dificuldades até a estabilização do caixa”, diz Alex Carvalho, analista CNPI da CM Capital.

A queda das ações também pode refletir o descontentamento do investidor ao ver a sua participação acionária na companhia reduzir com a circulação de novos papéis, especialmente quando a empresa não tem dado um retorno interessante. “Os acionistas não querem aportar dinheiro em uma tese de investimento ruim e, mesmo assim, a sua participação está sendo diluída. Nesse caso, o melhor seria vender”, avalia Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

Quando o follow-on pode ser positivo?

As operações de follow-on nem sempre trazem pessimismo ao mercado. De acordo com os dados da B3, nove ações apresentaram ganhos de até 6% no dia da negociação das novas ofertas. Os motivos do bom humor, segundo analistas, têm relação direta com a finalidade da empresa em utilizar o capital aliado a um histórico positivo. “Se temos um horizonte de ganhos com a ação e há um histórico comprovado de ganho de capital, o follow-on pode ser bem recebido”, destaca Spiess.

Veja as ações que tiveram ganhos no dia da negociação do follow-on

Companhias Data de fixação dos preços Retorno no dia de fixação Data de negociação Retorno da ação no dia da negociação Total das negociações
SmartFit 29/05/2023 0,16% 31/05/23 6,07% R$ 591.7 milhões
MRV 13/07/2023 -1,22% 17/07/23 2,96% R$ 1 bilhão
HIDROVIAS 12/07/2023 2,67% 12/07/23 2,67% R$ 442 milhões
VIVEO 01/08/2023 2,22% 01/08/23 2,22% R$ 1.6 bilhão
DASA 18/04/2023 -2,43% 20/04/23 1,43% R$ 1.6 bilhão
COPEL 08/08/2023 0,11% 10/08/23 1,04% R$ 5.1 bilhão
TENDA 04/09/2023 -5,21% 06/09/23 0,96% R$ 234 milhões
VAMOS 29/06/2023 2,65% 30/06/23 0,92% R$ 1.3 bilhão
ASSAI 16/03/2023 -2,93% 20/03/23 0,80% R$ 4 bilhões

Por outro lado, esse comportamento não significa que o otimismo do mercado deve permanecer no longo prazo. O desempenho das ações vai depender da capacidade da companhia em aplicar os recursos de forma eficiente que possam aumentar ainda mais os seus lucros. Esse trabalho bem feito vai permitir que as futuras ofertas sejam interpretadas pelos investidores como uma boa oportunidade.

“É importante que esses projetos se tornem realidade para que o mercado continue recebendo bem novas ofertas no futuro. Ou seja, o mercado tem memória”, destaca Luís Moran, head da EQI Research. Segundo a B3, as operações de follow-on já movimentaram R$ 30,1 bilhões neste ano no mercado de ações. No ano passado, esse volume chegou a R$ 57,7 bilhões com 19 operações.

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