- O índice de referência da Bolsa de Valores brasileira terminou agosto com uma queda acumulada de 5,09% aos 115.741,81 pontos
- O saldo poderia ser ainda mais negativo, dado que nas primeiras semanas do mês o Ibov acumulou a pior sequência de sua história
- Para setembro, analistas esperam continuidade da volatilidade, mas veem espaço para altas pontuais na Bolsa
O Ibovespa encerrou o pregão desta quinta-feira (31) com uma baixa de 1,53%, aos 115.741,81 pontos. Com o desempenho, o índice de referência da Bolsa de Valores brasileira terminou agosto com uma queda acumulada de 5,09%, confirmando o pior mês de agosto desde 2015.
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Entre os dias 1º e 17, o Ibovespa acumulou a pior sequência da história. Sem um único dia positivo no período, o índice registrou 13 pregões consecutivos de queda, acumulando uma desvalorização de 5,21% aos 114.982,30 pontos. Como explicamos nesta reportagem, tratava-se do pior desempenho para um mês de agosto desde 2015.
Em termos de nível de fechamento, era como se o Ibov tivesse dado um “passo atrás” de quase dois meses, dado que a última vez que o índice foi negociado na casa dos 114 mil pontos foi no início de junho.
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O que se viu em agosto foi uma deterioração de todos aqueles fundamentos que, nos meses anteriores, vinham impulsionando altas na Bolsa.
O tão sonhado e debatido primeiro corte do ciclo de queda de juros, que causou boa parte da reprecificação positiva dos ativos de renda variável entre maio e julho, foi concretizado pelo Banco Central no dia 02. A Selic caiu 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano, depois de 12 meses estacionada. Mas, como boa parte desse movimento já havia sido antecipado no mercado, o corte de juros não foi suficiente para se sobrepor a outros fatores negativos, especialmente os que vinham do exterior.
“Os dados da economia americana continuam mostrando certa resiliência em um ano em que se esperava que a economia americana ia entrar em uma recessão. Ainda houve o downgrade do crédito soberano dos Estados Unidos pela agência Fitch”, destaca Jennie Li, estrategista de ações da XP Investimentos. “E ainda tem os dados da China, que continuam mostrando uma retomada econômica fraca, o que trouxe algumas questões em relação ao crescimento global.”
A somatória desses fatores levou a uma onda de aversão a risco pelos mercados globais, impulsionando inclusive uma abertura nas curvas de juros pelo mundo. Nos EUA, o retorno das treasuries, os títulos do Tesouro americano, bateu 4,36%, um patamar que não se via desde a crise de 2008.
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Com o investimento mais seguro do mundo pagando taxas altas e tantas incertezas no radar, sobrou pouco apetite para mercados emergentes.
Segundo dados da B3, investidores estrangeiros tiraram R$ 9,7 bilhões do mercado brasileiro até o dia 29. É o pior desempenho mensal em termos de fluxo em 2023. A saída desse capital impactou também o câmbio: o dólar saltou 4,87% no mês, passando de R$ 4,72 para R$ 4,95 em agosto.
Foi do cenário doméstico que vieram alguns poucos sinais de alívio, que permitiram que o Ibovespa revertesse parte das quedas e arrancasse alguns pregões positivos desde a última semana. Nas primeiras semanas de agosto, a demora para a aprovação final do arcabouço fiscal causou certa volatilidade no mercado; um sentimento que se reverteu no último dia 22, quando o texto foi aprovado pela última vez na Câmara de Deputados.
“Depois de algum desconforto, a aprovação do arcabouço fiscal ajudou nessa recomposição dos últimos dias”, destaca Ricardo França, analista da Ágora Investimentos.
O que esperar de setembro
Boa parte dos fatores que pressionaram o mercado brasileiro em agosto seguirão no radar para o mês que se inicia. As incertezas em relação à China continuam, enquanto a discussão de política monetária nos Estados Unidos ganhará novos capítulos. O Federal Open Market Committee (FOMC), do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) se reúne nos dias 19 e 20 de setembro para discutir se realiza ou não mais um ajuste na taxa de juros americana.
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“O cenário externo vai continuar retendo muito a atenção dos investidores, principalmente no que diz respeito à política monetária nos EUA”, destaca Ricardo França, da Ágora.
Ainda assim, o mercado brasileiro pode ter um contraponto importante, diz ele. Na mesma data do FOMC, o Copom também se reúne no Brasil para discutir a taxa de juros brasileira. A expectativa geral é por um novo corte de 0,50 ponto percentual, que levaria a Selic para 12,75% ao ano.
“Nesse cenário, é muito difícil apostar contra a renda variável. Ainda temos uma Bolsa atrativa, bastante barata em termos de múltiplos e que, com a Selic em queda, deve seguir recebendo fluxo”, explica França. “Por mais que ainda haja um cenário de cautela, tanto interna com a questão fiscal, quanto externa com os EUA, o plano de fundo ainda é de queda de juros.”
Nessa toada, depois das altas generalizadas vistas em maio e junho, analistas veem espaço para a volta do movimento de valorização. Dessa vez, em ativos e teses pontuais.
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“Até julho, era um movimento mais de Beta. Agora, parece ser um mercado mais de Alfa, escolhendo realmente os papéis e setores que tendem a se beneficiar”, diz Rodrigo Cabraitz, gestor de portfólio de alocação de ativos da Principal Claritas.