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Ibovespa sobe 20% em 2024 “se governo não atrapalhar”, diz Legacy Capital

Felipe Guerra, CIO da gestora, falou com exclusividade ao E-Investidor

Ibovespa sobe 20% em 2024 “se governo não atrapalhar”, diz Legacy Capital
Felipe Guerra, CIO da Legacy Capital (Foto: Legacy Capital/Divulgação)
  • Se o governo não atrapalhar, a Bolsa pode subir 20% até o fim de 2024
  • Gestor da Legacy estima volatilidade no curto prazo até a decisão final de quando o FED deve começar a cortar juros
  • Guerra diz ainda que setor petrolífero pode ser uma boa opção de investimentos

O Ibovespa (IBOV) pode subir 20% até o fim de 2024, estima Felipe Guerra, CIO da Legacy Capital, em entrevista exclusiva ao E-Investidor nos bastidores do Brazil Investment Forum, evento realizado pelo Bradesco BBI nesta primeira semana de abril. “Se o governo não atrapalhar nos setores principais, a Bolsa tem o potencial de subir cerca de 20%”, disse o executivo.

No entanto, ele se resguarda da expectativa: “Vale lembrar que esse crescimento de 20% serve apenas como uma estimativa. É difícil cravar um número concreto para a alta do Ibovespa em 2024.”

Segundo o gestor, as ações brasileiras encerraram 2023 com um valor de negociação e com múltiplos elevados. Todavia, após a queda de 4,5% do primeiro trimestre, a Bolsa brasileira passou a se mostrar descontada e hoje ela está sendo negociada a múltiplos atrativos.

Guerra usa os títulos indexados à inflação que pagam juros reais para fazer um comparativo com os preços das ações. Segundo ele, quando os títulos pagam a taxa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais prêmio entre 5% e 6% ao ano, o múltiplo preço sobre lucro (P/L) das ações brasileiras operam na casa de 18 vezes. “No entanto, quando o investidor olha para a Bolsa, as ações estão sendo negociadas em 10 vezes ou 11 vezes na métrica preço sobre lucro. Ou seja, só pelo efeito dos juros, os papéis domésticos já deveriam estar 50% mais altos”, diz Guerra.

Gatilhos de alta da Bolsa

Segundo ele, a Bolsa possui vários gatilhos de alta. O primeiro fica com a taxa básica de juros da economia, a Selic, em um patamar de um único dígito, por volta de 9% ao ano – o mesmo nível da maioria das previsões do mercado para o fim de 2024. O segundo está no início do corte de juros pelo banco central americano, o Federal Reserve (Fed). O terceiro possível gatilho diz respeito à alta das commodities, um dos setores de maior peso na Bolsa.

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“A gente tem dúvidas de qual gatilho deve impulsionar a Bolsa primeiro. No entanto, o cenário a médio e longo prazos é positivo. A Bolsa está em um preço barato e em uma dinâmica de fundamentos boa, porque o País está crescendo e os juros estão caindo com uma dinâmica de inflação positiva”, argumenta o CIO da Legacy Capital.

Por outro lado, Guerra não nega que o mercado vem passando por uma forte volatilidade nas últimas semanas após incertezas sobre o início do corte de juros nos EUA. Segundo o executivo, há uma precificação de juros no mercado internacional “bastante violenta”. “O mercado chegou a estimar quase sete cortes nos EUA. Na semana passada, a estimativa chegou a apenas dois cortes pelo Fed. Essa volatilidade nos juros gera uma pressão no mercado de ações. E o investidor deve encontrar essa volatilidade no curto prazo nos ativos de risco”, comenta.

O início do corte de juros pelo Federal Reserve tem sido a grande pauta do mercado financeiro. A própria queda acumulada do Ibovespa no primeiro trimestre de 2024  reflete essa discussão.

Quando os juros dos EUA vão cair?

Em dezembro de 2023, o mercado estimava um corte dos Fed Funds (nome dado à taxa básica de juros dos EUA) já em março de 2024. No entanto, essa estimativa não se confirmou e o mercado se frustrou, causando volatilidade e recuo do principal índice da Bolsa. Agora, com a possibilidade de uma nova postergação de corte de juros pela autoridade monetária americana, o mercado se viu violento novamente nas últimas semanas.

Segundo o CME FedWatch Tool, uma ferramenta que monitora a expectativa do mercado para o corte de juros nos EUA, o receio do Fed manter as atuais taxas – atualmente entre 5,25% e 5,5% ao ano – na reunião de junho chegou à marca de 45% dos analistas em 18 de março, contra 50% que estimavam o início da redução na reunião do colegiado em junho.

Todavia, o próprio presidente do Fed, Jerome Powell, veio a público na quarta-feira (3) para acalmar os ânimos do mercado. Ele disse que os dados recentes de emprego e inflação estão acima do esperado, mas que os números ainda não alteram “substancialmente o quadro geral”. “Os EUA continuam com um mercado de trabalho forte, mas em reequilíbrio, e a inflação se aproximando de 2% em um caminho às vezes acidentado”, afirma Powell.

Após as falas, o mercado ficou animado novamente e cerca de 61,8% dos analistas passaram a precificar o início do corte de juros pelo Fed na reunião de 12 de junho, segundo dados do CME FedWatch Tool.

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Porém, as apostas para os juros americanos num horizonte mais longo, ao fim de 2024, se mostram mais divididas. Segundo a plataforma, 34,7% estimam que as taxas devem encerrar o ano entre 4,5% e 4,75%. Já 27% dos analistas apontam para a faixa de 4,75% a 5%, enquanto 21,3% deles esperam entre 4,25% e 4,5% ao ano.

Fórmula mágica para a renda variável

Mesmo com essa indefinição do mercado de quanto será o corte na economia americana, Felipe Guerra diz acreditar que 2024 será o ano em que os países desenvolvidos vão reduzir juros, o que tende a impulsionar os ativos de risco no Brasil. “Isso vai permitir que o Banco Central brasileiro corte os juros ainda mais do que está precificado hoje no mercado. As curvas de juros futuros de hoje apontam para uma Selic de 9,75% ao ano no final de 2024. Acho que podem chegar a 9% ao ano tranquilamente”, argumenta o CIO da Legacy Capital.

Segundo ele, “não existe uma fórmula mágica” para a renda variável. Ele comenta que, à medida que a rentabilidade do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) – principal parâmetro de rendimento dos investimentos – cair, será natural que o investidor comece a adicionar riscos na carteira. “Após a taxa de juros recuar para um dígito, a Bolsa funcionará muito bem. Portanto, ào evoluímos no ciclo, as participações destes ativos aumentarão”, projeta Guerra.

Oportunidades de investimentos na Bolsa

Em meio a esse cenário global, Guerra comenta que as empresas do setor petrolífero podem funcionar como boas alternativas para o investidor, principalmente devido às tensões geopolíticas, como a guerra entre Israel e o Hamas e a disputa armada entre Rússia e Ucrânia. “Por causa desses conflitos, a gente acredita que o petróleo pode chegar entre US$ 90 e US$ 100 o barril, o que seria muito benéfico para as empresas desse setor”, diz.

Questionado sobre o minério de ferro e empresas como a Vale (VALE3), Guerra explica que a commodity teve queda expressiva no último ano e a ação da mineradora brasileira recuou junto. Assim, após este momento, “o papel da Vale negocia a um preço justo”.

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