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O que esperar das ações de Magazine Luiza e Via após tombo em 2021?

Após impulso durante início da pandemia, papéis voltaram ao patamar de dois anos atrás

O que esperar das ações de Magazine Luiza e Via após tombo em 2021?
Avanço da inflação e dos juros fez papéis devolverem toda a valorização acumulada no primeiro ano de pandemia. Foto: Pixabay
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  • Os papéis da Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) subiram 156,16% e 206,06% entre abril e dezembro de 2020, respectivamente. Entretanto, no ano seguinte, devolveram quase toda essa valorização
  • A deterioração das condições econômicas foi o motor para as baixas. Com a alta da inflação e dos juros, o resultado das duas gigantes do e-commerce foi severamente impactado
  • Ainda é esperado um cenário complicado para as empresas no médio prazo. A recuperação pode vir somente no fim do aperto monetário, esperado para 2023

Em março de 2020, os temores relacionados ao surgimento de um novo vírus abalaram o mundo e provocaram quedas generalizadas nas bolsas de valores. Após o baque inicial, o comportamento dos ativos tomou rumos diferentes. Enquanto os papéis de companhias aéreas e varejo físico continuavam a ser bastante castigados, duas gigantes do varejo eletrônico viram seus números decolarem.

Os papéis da Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) subiram 156,16% e 206,06% entre abril e dezembro de 2020, respectivamente. No fim daquele ano, MGLU3 era negociada a R$ 24,95, após começar o período em R$ 9,34, e VIIA3 fechava o exercício em R$ 16,16, ante os R$ 4,66 atingidos após o impacto do coronavírus na B3.

O movimento de alta ocorreu em função do ‘boom’ do e-commerce. Isto é, o isolamento social impulsionou o comércio eletrônico: uma parcela da população que demoraria anos para aderir às compras on-line passou a utilizar o recurso após a crise do coronavírus – afinal, as lojas estavam fechadas e boa parte das pessoas buscava evitar aglomerações em supermercados.

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No final de 2019, por exemplo, a participação do e-commerce nas vendas totais da Magalu era de 48%. Já no fim de 2020, o on-line correspondia a 63,8%. Na Via, as compras pela internet passaram de 28,7% para 46,6% do total comercializado pela companhia.

“A pandemia provocou um otimismo muito forte em relação à tendência de crescimento do e-commerce. As pessoas começaram a comprar mais pela internet e se sentirem mais seguras. A qualidade dos serviços também melhorou, houve uma mudança nos hábitos do consumidor”, afirma Pedro Serra, gerente de research da Ativa Investimentos.

Essa também é a opinião de Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos. “O auxílio emergencial fomentou o consumo, principalmente do varejo, e através do comércio eletrônico essas empresas se beneficiaram muito. Inclusive os resultados trimestrais do ano de 2020 foram espetaculares. As pessoas viram que o e-commerce funciona e tiveram tempo, porque estavam em casa, de fazerem essas compras”, afirma

Mas em 2021 as ações devolveram quase toda a valorização do ano anterior. Os papéis de Magazine Luiza acumularam uma baixa de 71,06% e os papéis da Via caíram 67,51%. Em 2022, as perdas continuaram: MGLU3 cai 16,62% desde o primeiro pregão de janeiro e VIIA3 cede 28,38%.

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Ou seja: ambas voltaram para o patamar em que estavam antes do impacto da pandemia. Hoje, MGLU3 e VIIA3 estão sendo negociadas a R$ 6,02 e R$ 3,76, respectivamente, após terem atingido as máximas históricas de R$ 28,24 e R$ 22,36 durante o primeiro ano de pandemia.

Erro no valuation?

Afinal, o mercado exagerou nas expectativas para o crescimento das companhias? Na visão de Madruga, não ocorreu erro no valuation e, sim, uma deterioração de condições econômicas a partir de 2021.

No ano passado, a inflação chegou aos 10,06%. Em reação, o Banco Central acelerou a alta dos juros e tirou a Selic da mínima histórica, em 2%, para os atuais 10,75%. Essa combinação de aumento generalizado dos preços e ciclo de alta dos juros impacta diretamente o consumo e, por consequência, o varejo.

Bruna explica que a elevação da Selic impacta principalmente as varejistas de ‘linha branca’, segmento em que Magazine Luiza e Via estão inclusas. Ou seja, são empresas que vendem produtos de longa duração como geladeira, micro-ondas e fogão. Com os juros mais altos, a população tende a adiar a troca desses eletrodomésticos.

“Esse tipo de produto tende a perder estímulo e, naturalmente, as companhias tiveram um recuo. E não só daqui, mas varejistas de outros países tiveram quedas expressivas pela subida dos juros e aceleração da inflação”, explica Madruga.

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Serra, da Ativa, reforça essa visão. “Tivemos, durante a pandemia, um cenário muito propício ao endividamento com os juros mais baixos. Hoje, tivemos a consequência, com o endividamento das famílias no maior patamar da série histórica”, afirma.

A desaceleração do consumo ficou clara nos resultados do 3º trimestre de 2021, os mais recentes divulgados. No caso da Magalu, o EBITDA (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) recuou 75,3% em comparação ao mesmo período de 2020, passando de 546,1 milhões para R$ 134,8 milhões. O lucro líquido também caiu 30,3%, para R$ 143,5 milhões.

A Via também registrou recuo nos resultados. A receita líquida recuou 5,9% no 3º trimestre de 2021 em relação ao mesmo período de 2020, para R$ 7,3 milhões. A empresa também registrou prejuízo líquido de R$ 638 milhões, na esteira do impacto do aumento explosivo de provisões trabalhistas.

No 4º trimestre de 2021, os resultados devem também vir abaixo do esperado. “As vendas de lojas físicas pressionadas e desaceleração do crescimento que as companhias vinham apresentando até então. A expectativa é de que, pelo menos no 1º semestre de 2022, a situação permaneça complicada”, ressalta Serra.

Recomendação

A Ativa possui recomendação neutra para os papéis da Via e recomendação de compra para Magazine Luiza. No caso da primeira, o que pesa contra os papéis é a posição de caixa menos reforçada e o aumento de provisões para processos trabalhistas. Principalmente em um ano de alta volatilidade, é um risco importante a ser levado em conta. Já a Magalu tem um histórico mais sólido, de crescimento com rentabilidade e geração de caixa.

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“Esse ano temos ainda pouca visibilidade sobre o que vai ocorrer nas eleições, além de termos também outros competidores estrangeiros entrando no mercado brasileiro e isso acaba pressionando a rentabilidade das varejistas. Por conta disso, o mercado já precificou o pior cenário”, explica Serra.

Entretanto, olhando para a frente, existe a expectativa que a inflação arrefeça e os juros voltem para um patamar mais confortável no médio prazo. “Enxergamos algumas alavancas para a recuperação do resultado dessas empresas”, explica Serra.

Madruga, da Monte Bravo, vê o cenário ficando mais claro para as varejistas a partir de 2023. “Nesse momento, o segmento de e-commerce não é o mais atrativo para os investidores, e sim o de commodities. Contudo, provavelmente no ano que vem a taxa Selic irá diminuir e isso pode trazer um benefício para o varejo e para esses ativos que caíram bastante”, afirma.

 

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