- Durante live do E-Investidor nesta quarta-feira (18), Maria Clara Negrão, analista de research da Ágora Investimentos, e João Beck, economista e sócio da BRA, debateram se o Ibov pode ficar abaixo dos 100 mil pontos até o final deste ano
Com o cenário de alta de juros no Brasil e maior atratividade na renda fixa, ainda vale a pena investir em ações na bolsa? A preocupação do mercado é que o Ibovespa engate uma trajetória de queda por causa da inflação, guerra no Leste europeu e piora da economia chinesa. Durante live do E-Investidor nesta quarta-feira (18), Maria Clara Negrão, analista de research da Ágora Investimentos, e João Beck, economista e sócio da BRA, debateram se o Ibov pode ficar abaixo dos 100 mil pontos até o final deste ano.
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Para Beck, o descolamento do Ibov em relação às bolsas mundiais se deve ao cenário pré-pandemia da covid-19, quando a bolsa atingiu os 100 mil pontos. “O pós foi marcado por uma recuperação muito rápida do Ibovespa, tanto aqui como no exterior. Na bolsa americana parece que nem teve crise, se olhar a trajetória de recuperação “, disse.
O economista comentou ainda o fato do Brasil ter agido rápido para controlar a inflação. “Como um país emergente, fomos a nação que subiu os juros de forma mais rápida. Coisa que os EUA não fez, muito pelo contrário, reduziu o juros e deu incentivo financeiro”, disse. “A bolsa andou de julho de 2020, quando recuperou, e voltou para os 100 mil pontos até o patamar atual de 125 mil pontos”, afirmou, citando ainda as mudanças climáticas como geadas e chuvas e os precatórios como fatores também determinantes para o descolamento da bolsa brasileira.
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Maria Clara Negrão destacou o desempenho do Ibovespa no primeiro quadrimestre do ano. “No primeiro tri, o Brasil foi bafejado pela sorte. Nós tínhamos aquilo que os investidores desejavam, que eram as commodities. O Ibovespa tem um peso relevante nas commodities, perto de 30%, e os juros muito elevados. Estávamos no lugar certo, na hora certa. Isso fez com que tivesse um fluxo de entrada de investidor estrangeiro para a bolsa muito forte”, afirmou.
No entanto, ela apontou que, mais recentemente, o Ibov tem sido fortemente impactado pelo cenário internacional, citando uma série de fatores que provocam essa situação, desde a correção de juros do Federal Reserve (Fed), nos EUA, o novo pico da pandemia na China, a guerra entre Rússia e Ucrânia e a inflação global. “Tudo isso fez com que o índice fosse impactado por essas questões do cenário internacional e tivesse essa performance, esse movimento de correção recentemente”, afirmou Negrão.
Com o aumento de risco, o mercado viu uma saída robusta de investimento estrangeiro, com cerca de 12 milhões saindo da bolsa em maio. Diante desse cenário, a analista da Ágora diz que riscos não faltam.
“Temos o múltiplo preço sobre lucro sendo negociado próximo de oito vezes, isso é muito abaixo da média histórica, que seria de 11 a 12 vezes. Apesar dos riscos serem grandes pela frente, muitos já estão precificados e vemos boas oportunidades em termos de renda variável”, destacou Negrão.
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Beck também se atentou ao preço sobre lucro, mas disse que muito vai depender do perfil do investidor. “Se você quer comprar bolsa para curto prazo, pode ficar mais barato. Na verdade, no meu entendimento, a bolsa foi largada pelos gringos, pelos clientes de pessoa física de plataforma e pelos fundos de pensões que, com a taxa de juros no patamar atual, para eles baterem as metas, eles compram os títulos públicos. Então sim, a bolsa foi largada, existe muitas oportunidades, quem comprar a bolsa hoje, e escolher boas ações e diversificar, não precisa ficar escolhendo muito não, para o investidor de longo prazo”, avaliou.
Ao aconselhar os investidores sobre quais seriam as melhores opções para investir em renda variável, a analista da Ágora apontou a Petrobras e a Vale como dois destaques; no setor de siderurgia, a Gerdau foi citada pela analista e também o setor de bancos: o Banco do Brasil foi citado como uma boa opção, dado os bons resultados apresentados no balanço do primeiro trimestre desse ano.
Sobre o tema de eleições, Beck apontou que os dois principais candidatos na corrida presidencial já foram presidentes e por isso não há nenhuma surpresa. “O investidor vai monitorar mais o discurso que eles vão adotar, principalmente na questão do teto de gastos. Falar de eleições ainda é cedo”, disse.
Já Negrão observou que, à medida que as convenções partidárias se aproximarem, e as políticas financeiras forem mais claras, haverá influência no mercado. “Os dois candidatos mais cotados (Lula e Bolsonaro) já são conhecidos e falta saber com será o comportamento fiscal, se terão compromisso com o teto de gastos e ajuste fiscal, mas por enquanto o assunto não tem muita importância no cenário”, finalizou.
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