O que este conteúdo fez por você?
- A oferta de ações no valor de R$ 33,7 bilhões tinha os melhores prognósticos no mercado
- Um ano depois, parte dessa expectativa parece ter sido frustrada
- Um desempenho em grande parte é pressionado pelos ruídos políticos que questionam a operação de venda da companhia
A privatização da Eletrobras (ELET6) está completando um ano neste início de junho. A venda da companhia na Bolsa em uma oferta de R$ 33,7 bilhões foi a maior operação de desestatização de uma empresa em mais de 20 anos e tinha os melhores prognósticos no mercado. Destravar valor, aumentar a eficiência, valorizar as ações da empresa.
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Um ano depois, parte dessa expectativa parece ter sido frustrada. As ações ordinárias, ELET3, que estrearam cotados a R$ 42, encerraram esta segunda-feira (12) a R$ 39,11%, com uma desvalorização de 6,88% frente ao preço da privatização.
O desempenho acumulado pelos papéis só não foi pior por causa do recente rally na Bolsa brasileira causado pela expectativa de corte na taxa de juros, que vem impulsionando altas generalizadas em diversas ações. Antes desse movimento começar, as ações da Eletrobras estavam em queda. Como mostramos aqui, até o início de abril a ELET3 e a ELET6 tinham uma desvalorização de 16% e 8% desde a privatização, respectivamente.
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À época da privatização, existia no mercado um grande otimismo para com a desestatização. Predominava entre as análises um entendimento de que, deixando de ser estatal, a Eletrobras conseguiria destravar valor, cortar custos e melhorar a sua eficiência – um turnaround importante e que fazia muitos analistas acreditarem nos papéis da companhia.
As quedas que se sucederam após a conclusão da operação não indicam uma reversão dessas expectativas. Pelo contrário. Como contamos aqui, analistas continuam vendo boas perspectivas para as ações da Eletrobras e recomendando que investidores mantenham as posições em ELET3 e ELET6.
Para especialistas, o que explica as quedas após privatização são os ruídos políticos que envolvem a operação desde que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito novamente presidente da República.
Em diferentes ocasiões, Lula criticou a venda da companhia, classificou sua privatização como “irresponsabilidade” e disse que, se tivesse condições, o governo “voltaria a ser dono” da Eletrobras. A possibilidade de interferências políticas na companhia assusta o mercado, que entende que a reversão de uma operação legítima traria consequências negativas não só para a empresa, mas abriria um precedente perigoso para outros casos.
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“A desconfiança do mercado em relação ao controle estatal da empresa vem do histórico recente, especialmente sob os últimos governos petistas”, explica Bruno Monsanto, assessor de investimentos e sócio da RJ+ Investimentos. “Desde novembro, os papéis vêm oscilando bastante com os movimentos do governo para retomar a influência e o controle na Eletrobras.”
Atualmente, a reestatização da Eletrobras é tida como improvável. O próprio Congresso já se mostrou contrário à pauta ao, no início deste mês, acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) e solicitar que a Corte rejeitasse a ação do governo contrária à privatização da empresa. Um posicionamento que ajudou na recuperação recente das ações.
“Tem havido resistência e isso dá uma acalmada no risco da empresa ser reestatizada”, destaca Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores.
O risco concreto: preço baixo da energia
Além da volatilidade causada pelo risco político, um outro fator – esse, concreto – tem pesado sobre os papéis: o preço mais baixo da energia elétrica.
Desde a privatização da empresa, as condições hidrológicas brasileiras melhoraram muito. Depois de um período de seca e falta de chuvas, que levou o País a uma crise hídrica entre 2021 e 2022, os níveis dos reservatórios hidrelétricos se recuperaram em 2023. Como consequência, os preços da energia caíram.
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Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, explica que a queda dos preços aconteceu justamente no momento em que a companhia poderia começar a vender energia das usinas que foram descotizadas no processo de privatização, a preços de mercado. “O mercado estava esperando que a companhia pudesse vender energia a preços bem mais interessantes do que as condições de hoje indicam”, pontua.
Com uma quantidade de energia disponível grande para vender nos próximos anos e preços mais baixos no mercado, a possibilidade de uma redução na rentabilidade da Eletrobras também impactou as ações. “Isso pode resultar em um lucro menor e um pagamento de dividendos menor”, destaca Leonardo Piovesan, da Quantzed.
Por ser um fator incontrolável, o regime de chuvas pode trazer muita volatilidade para a ELET3 e a ELET6 – e por isso precisa ficar no radar do investidor. “É um tópico que vem aparecendo ao longo do ano e acaba colocando em risco o retorno e a rentabilidade no longo prazo. Mas não dá para dizer que uma crise não vai voltar a acontecer, o preço da energia volte a subir e os resultados da empresa melhorem”, diz Piovesan.