- No dia 26 de fevereiro o montante médio diário negociado na Bolsa era de R$ 44,067 bilhões. Até o fechamento da última sexta-feira (9) esse número caiu 45,34%, para R$ 24,087 bilhões
- Para especialistas, esse cenário é reflexo da desconfiança dos investidores, principalmente os estrangeiros, em relação ao Brasil
- Recesso decretado no fim de março, embates políticos e ofertas públicas também contribuem para encolhimento
O volume financeiro da B3 teve uma queda brusca – e sucessiva – nas últimas seis semanas. Entre 22 e 26 de fevereiro, o montante médio diário negociado na Bolsa era de R$ 44,067 bilhões. Até o fechamento da última sexta-feira (9) esse número caiu 45,34%, para R$ 24,087 bilhões. O levantamento foi realizado pela Economatica Brasil, considerando o desempenho de todo o mercado.
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Olhando pelo recorte semanal, a baixa se torna ainda mais evidente. Foram negociados R$ 220,33 bilhões entre 22 (segunda-feira) e 26 de fevereiro (sexta-feira) – máxima histórica já registrada para uma semana.
Naquele período, os investidores estavam aguardando a reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), realizada em 17 de março, que aumentaria a Selic para 2,75%. Nos períodos seguintes, esse volume semanal foi caindo progressivamente até chegar a R$ 120,4 bilhões na semana passada (entre 5 e 9 de abril).
Volume Médio Diário semanal da B3 | ||
22/02 – 26/02 | R$ 44,067 bilhões | |
01/03 – 05/03 | R$ 40,340 bilhões | |
08/03 – 12/03 | R$ 34,813 bilhões | |
15/03 – 19/03 | R$ 30,177 bilhões | |
22/03 – 26/03 | R$ 25,930 bilhões | |
29/03 – 01/04 | R$ 25,226 bilhões | |
05/04 – 09/04 | R$ 24,087 bilhões | |
Fonte: Economatica Brasil |
Para Bruno Guimarães, head de renda variável da EWZ Capital, essa situação reflete a quebra de expectativas dos investidores em relação ao Brasil. “Muito provável que os investidores estrangeiros e institucionais estejam fazendo caixa e fugindo o patrimônio que eles têm em América Latina/Brasil para empresas muito fortes”, explica. “O Ibovespa está sendo puxado praticamente por commodities.”
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A visão de Guimarães é compartilhada por Guilherme Martins, assessor especialista em renda variável na EWZ Capital e instrutor do Guru Investidor. “O Brasil vem se distanciando do restante do mundo. Ano passado estávamos nessa crise, mas o mundo todo estava piorando, ninguém sabia nada de vacinação, lockdown para todo lado, a maioria dos países no mesmo barco. Agora, o mundo todo está melhorando, as principais economias na retomada e aqui ainda estamos nessa luta para conseguir vacinar.”
A falta de previsibilidade para o País coloca os investidores em posição defensiva. “As expectativas todas são montadas em cima de alguma previsibilidade. Se não conseguimos cumprir com as metas prometidas, vamos perdendo a confiança do investidor, não só interno, como externo. E no Brasil, dependemos muito do investidor estrangeiro”, completa Martins.
Segundo dados da B3, em março o volume financeiro vindo apenas dos investidores estrangeiros foi de R$ 912 bilhões, o equivalente a 52,03% do volume total. Além da pandemia, as brigas políticas entre a equipe econômica e o Congresso, o imbróglio do Orçamento de 2021 e as reformas que não saíram também desgastam os investidores.
“Vemos as perspectivas em relação ao PIB sendo renovadas para baixo. Por outro lado, as expectativas para inflação só sobem e os demais países têm resultados positivos. Os EUA mesmo está melhorando, o pacote de estímulos avançando, eles devem continuar com as taxas de juros. Tudo isso mostrando um favorecimento para o mercado, que não temos por aqui por conta desse descontrole”, afirma Martins.
Recesso, Bolsonaro e Lula
Além de um cenário econômico ainda nebuloso, o recesso de dias estipulado pelo governo de São Paulo e por outros estados do País para frear a disseminação da covid-19 também pode ter contribuído para as baixas nas negociações.
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“Embora a Bolsa não tenha fechado, os 10 dias [26 de março a 04 de abril] de feriado podem, sim, ter influenciado”, explica Einar Rivero, gerente de relacionamento da Economatica Brasil. “Mas é uma queda significativa, sem dúvidas, ainda mais por termos visto 5 semanas seguidas de baixas.”
João Beck, economista e sócio da BRA, também faz alguns apontamentos que ajudam a explicar as quedas. “Viemos de um volume muito forte a partir do segundo semestre de 2020 e que se estendeu para a virada de ano. Então temos baixas, mas o volume estava muito excessivo, não é à toa que a ação de B3 (B3SA3) foi uma das que mais subiu ano passado”, afirma.
Para o especialista, a saída de fluxos estrangeiros a partir das intervenções do governo na Petrobras e a volta de Luiz Inácio Lula da Silva ao jogo político também pesaram no cenário. Em fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro anunciou a demissão do então CEO da petroleira estatal, Roberto Castello Branco, por conta de insatisfações do líder do executivo com o aumento dos preços dos combustíveis.
Porém, fora as notícias envolvendo o Planalto, outro movimento influenciou o viés de queda no volume financeiro da B3. Beck lembra que em fevereiro houve muitos IPOs, o que movimentou o mercado. “Uma das coisas que mais volume dá em Bolsa são ofertas públicas. E quando a Bolsa cai, ocorre um stand by nessas ofertas”, conclui.
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