- A desenvolvedora alega que a Apple age de maneira anticompetitiva ao permitir que apenas aplicativos autorizados pela companhia alcancem os mais de um bilhão de iPhones
- Tudo começou em 2020, quando a Epic Games acusou a Apple de abusar de um monopólio em sua loja de aplicativos. A desenvolvedora chegou inclusive a processar a empresa de Tim Cook por supostamente usar de seu domínio para obter lucros maiores
- Para especialista, é difícil mensurar o impacto nas ações das empresas, pois as vendas dentro de suas plataformas não são o carro-chefe de Apple e Google
As desenvolvedoras de aplicativos Epic Games (mundialmente conhecida pelo jogo Fortnite),o Spotify, e a Match Group, dona do Tinder, estão em uma disputa contra a Apple (APPL34) e o Google (GOGL34). O primeiro capítulo dessa ‘guerra’ começou apenas entre a Epic e a Apple, mas ela foi crescendo à medida que mais empresas ficaram interessadas no caso.
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De acordo com Felipe Arrais, especialista em investimentos globais da Spiti, a Epic Games passou a levar o cliente/usuário a fazer a compra de produtos fora do ecossistema da Apple para não ter que pagar os 30% que a companhia cobra de todas as vendas feita dentro da plataforma. “Vemos aqui no Brasil várias empresas buscando formas de levar o usuário para fora do aplicativo, para que ele faça compras em um ambiente isento e a empresa tenha condições de ter uma fatia maior do bolo”, diz Arrais.
Entenda a disputa
Em 2020, a Epic Games acusou a Apple de monopólio em sua loja de aplicativos. A desenvolvedora chegou a processar a empresa de Tim Cook por supostamente usar de seu domínio para obter lucros maiores.
A desenvolvedora alega que a Apple age de maneira anticompetitiva ao permitir que apenas aplicativos autorizados pela companhia alcancem os mais de um bilhão de iPhones. Ela também acusa a empresa de forçar os desenvolvedores a usarem o sistema de pagamentos nativos da Apple, que cobra comissões de até 30% sobre as vendas.
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Em resposta, a Epic passou a incentivar os jogadores de Fortnite a realizar as compras diretamente pelo jogo, em vez de utilizar as lojas proprietárias da Apple e do Google, oferecendo um caminho para os usuários burlarem as regras. Horas depois, a Apple removeu o jogo da sua App Store.
Em um comunicado, a empresa de Tim Cook afirmou que a Epic habilitou um recurso em seu aplicativo que não foi aprovado ou revisado pela companhia. Foi aí que a dona do Fornite começou uma batalha judicial que se estende há meses.
No processo, com mais de 62 páginas, a Epic alega que a remoção do Fortnite pela Apple é mais um exemplo de como a companhia flexiona seu enorme poder para impor restrições irracionais e manter ilegalmente seu monopólio de 100% sobre o mercado de pagamentos no aplicativo em iPhones.
A Epic inclusive chegou a lançar uma campanha contra a Apple, imitando um icônico anúncio do passado da companhia.
Epic Games has defied the App Store Monopoly. In retaliation, Apple is blocking Fortnite from a billion devices.
Visit https://t.co/K3S07w5uEk and join the fight to stop 2020 from becoming "1984" https://t.co/tpsiCW4gqK
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— Fortnite (@FortniteGame) August 13, 2020
Pouco tempo depois, foi a vez do Google remover o Fortnite da sua loja de aplicativo, a Play Store, alegando que o app violava as políticas da empresa. Entretanto, o jogo ainda pode ser baixado no site da Epic para dispositivos Android.
Ao remover o Fortnite das lojas, as empresas impedem que novos usuários baixem o jogo, mas permite que aqueles que já têm o aplicativo instalado se mantenham funcionando nos dispositivos. A Epic, porém, não pode mais atualizar a aplicação, e isso significa que ela pode se tornar obsoleta em breve.
Para combater as gigantes de tecnologia Apple e Google, avaliadas em US$ 2,36 trilhões e US$ 1,70 trilhão, respectivamente, as “pequenas” companhias se juntaram para formar a “coalizão pela justiça dos aplicativos”. O grupo, que não tem fins lucrativos, conta com 54 membros, entre grandes empresas como Spotify, Epic Games, Deezer e a Match Group, dona do Tinder.
No dia 24 de maio, a juíza responsável pelo processo da Epic contra a Apple, Yvonne Gonzalez Rogers, disse que os lucros da App Store com os fabricantes de jogos pareciam desproporcionais. Mas em seguida, questionou a dona do Fortnite se haveria uma maneira de resolver o imbróglio sem forçar a Apple a abrir o iPhone para lojas de aplicativos rivais.
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Além disso, Rogers disse que as intenções da Epic não são tão boas assim. “Vamos ser claros. A Epic está aqui porque, se o alívio for concedido, passará de uma empresa de vários bilhões de dólares para uma companhia de vários trilhões de dólares. Mas não está fazendo isso pela bondade de seu coração”, disse.
Para tomar sua decisão, a juíza terá que ler 4,5 mil páginas de depoimentos, um processo que pode levar meses para terminar.
De acordo com Anderson Meneses, CEO da Alkin Research, o grande questionamento de todos os desenvolvedores de aplicativos e jogos é que existe quase que um abuso de monopólio das duas empresas. “Apple e Google aproveitam o fato de serem as donas das maiores lojas de aplicativos para celular para fazerem o que quiserem na hora de cobrar”, diz.
Para o CEO, é difícil mensurar o impacto nas ações, pois essa fonte de receita não é o carro-chefe de nenhuma das duas companhias.
Quem leva a melhor?
Apesar de as lojas de aplicativos gerarem receitas para as companhias, Richard Camargo, analista e especialista em ações techs da Empiricus, diz que essas frentes representam pouco para as companhias. “No Google, por exemplo, 90% das receitas são provenientes de advertising (anúncios). Da Apple, 80% é com a venda de hardware, ou seja, as lojas de aplicativo representam parcelas muito pequenas do negócio. Minha visão hoje é que é, de certa forma, uma batalha perdida para as grandes companhias”, diz Camargo.
Para o especialista, a batalha é benéfica para todo o ecossistema em volta das lojas de aplicativos, não só para os desenvolvedores de jogos, mas também para todos que estão usando esse canal para escalar. Camargo não enxerga oportunidades gritantes nem contra e nem a favor dessas duas gigantes.
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“Google e Apple são casos clássicos de geração de valor para o acionista. A julgar pelo histórico das duas companhias, não me surpreenderia se eles capitalizassem em cima disso, quando perceberem que a guerra está perdida, e saíssem como vencedores”, diz Camargo.
Segundo Meneses, o bloqueio pode até ter sido positivo para a Epic Games, por conta do status de escassez que foi atribuído ao Fortnite. “No marketing, essa prática já torna algo mais desejável. A desenvolvedora já sabia do potencial que tinha atingido e também que os gamers estariam do lado deles”, diz o CEO.
Por fim, Meneses pondera que, se por um lado não é bom para a Epic não estar com o jogo dentro das lojas, por outro lado também não é positivo para a Apple e o Google não contar mais com essa receita de milhões de usuários.
Camargo gosta de pensar que um dos possíveis vencedores dessa disputa é a empresa brasileira Bemobi (BMOB3), que fez IPO em fevereiro de 2021. A companhia trabalha no nicho de distribuição de games mobile, e apesar de não ser uma desenvolvedora se conecta a diferentes empresas de telecom e oferece uma plataforma de games white label, quando uma marca coloca seu nome por cima de um produto ou serviço criado por outro grupo. Há, por exemplo, Tim Games, Vivo Games e Claro Games.
A companhia se junta a alguns sistemas de desenvolvedoras de games mobile ao redor do mundo, como a Rovio, responsável pelo clássico Angry Birds, Square Enix e Ubisoft. Normalmente, o cliente pré-pago paga uma taxa mensal de cerca de R$ 1,60 para acessar a plataforma de jogos da Bemobi. Entretanto, isso só funciona para os clientes Android, tendo em vista que a Apple restringe aplicações de fora do seu ecossistema.
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*Com informações da Reuters