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O que Fortnite ensina sobre negócios? 6 lições para empreendedores

Gratuito e disponível até para dispositivos móveis, o game Fortnite Battle Royale traz importantes ensinamentos estratégicos

O que Fortnite ensina sobre negócios? 6 lições para empreendedores
Fortnite Battle Royale (Foto: Bloomberg/Andrew Harrer)
  • Mais de 350 milhões de pessoas jogam Fortnite Battle Royale
  • O objetivo do game é ser o último sobrevivente de uma ilha
  • Assim como no mundo dos negócios, estratégia, trabalho em equipe, prática, exposição à riscos, humildade e usar as armas corretas são alguns dos requisitos para se sobressair

(Murilo Basso, Especial para o E-Investidor) – 350 milhões. Esse é o número estimado de pessoas que jogam o game Fortnite, cuja versão mais popular é a Battle Royale, gratuita e disponível para consoles, PC e dispositivos móveis. No jogo, o personagem cai de um ônibus voador em uma ilha com outros gamers, onde o objetivo é ser o último sobrevivente. O jogador corre por florestas, campos, paisagens urbanas e coleta armas e poções para melhorar sua saúde. Ainda, com o poder da madeira, da pedra e do metal, constrói estruturas que vão lhe auxiliar em batalha.

A premissa é relativamente simples – e talvez por isso atraia tanta gente –, mas quando se analisa melhor, percebe-se que é preciso lançar mão de estratégias e parcerias se quiser chegar até o fim. No mundo dos negócios não é diferente.

Confira as lições que Fortnite Battle Royale tem a ensinar a empreendedores:

1. Estratégia e planejamento

Se o jogador quer ser o último sobrevivente da ilha fantástica de Fortnite Battle Royale, ele precisa traçar uma estratégia. No mundo corporativo, um bom planejamento é essencial. Economista e professora da Escola de Gestão e Negócios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Vanessa Batisti explica que a estratégia mostra aonde a empresa quer chegar e confere direcionamento, por meio do qual será possível usar os recursos – físicos, humanos, intelectuais, sociais, tecnológicos e financeiros – disponíveis de forma mais inteligente, a fim de criar oportunidades.

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Vanessa diz que o processo de planejamento parte da declaração da missão – razão da existência – e visão da empresa – e qual é a direção que deve ser seguida para se chegar no objetivo traçado.

Há, ainda, a análise dos ambientes externo, com o mapeamento das oportunidades e ameaças, e interno, com a identificação das forças e fraquezas, além da formulação dos objetivos e metas a serem atingidas. “Depois de realizado esse planejamento em nível estratégico, é importante desdobrá-lo para os níveis tático e operacional e partir para implementação, acompanhamento e controle das ações e feedbacks.

Destaco que a estratégia deve ser vista como exercício importante de diagnóstico e reflexão que aponta o Norte, a direção para o negócio, sendo que o planejamento deve estar alinhado a ela. Agora, sempre vale lembrar que planejar é importante, faz parte do comportamento empreendedor, mas realizar, colocar em prática, acabar o que se começou também é”, orienta a especialista.

2. Trabalho em equipe

Ainda que o objetivo do jogador de Fortnite Battle Royale consista em ser o último sobrevivente da ilha e todos os outros gamers sejam um inimigo em potencial, muitas vezes é preciso jogar em conjunto, a fim de aumentar as chances de sobrevivência. No jogo, há as opções solo, duo (em dupla) e squad (em grupo). Dentro de uma empresa, o trabalho em equipe também é crucial. Ainda que no
estágio inicial do empreendimento seja comum que o founder dê conta de inúmeras funções que são essenciais ao negócio, do desenvolvimento, produção e prestação de serviços até o marketing e as vendas, sem esquecer- se do administrativo e financeiro. Ao mesmo tempo, colocar as pessoas no
centro é fundamental. Clientes são pessoas, colaboradores são pessoas, fornecedores e parceiros são pessoas. Por isso, uma atividade fundamental a qualquer empreendedor iniciante ou já estabelecido refere-se a entender muito bem de pessoas.

“De forma alguma o empreendedor pode deixar de lado a relação com as pessoas, o respeito e a formação de novos líderes dentro da organização, em uma startup, num projeto pequeno de uma empresa menor… Porque é a forma com a qual você consegue crescer de maneira mais escalável, tendo um objetivo em comum. A questão de lidar com pessoas, portanto, que parece ser um pré-requisito sutil e até ‘fácil’, é a coisa mais importante num negócio”, comenta Guilherme Camargo, professor na pós-graduação em Gamificação Aplicada às Plataformas Digitais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), acrescentando que o trato com as pessoas é crucial, independentemente do cargo ou da empresa, e faz com que todos “remem” para o mesmo lado.

Sobre atuar com sócios, Vanessa diz que há pontos positivos e negativos. Quando se empreende sozinho, a tomada de decisão é, obviamente mais rápida. Ao mesmo tempo, o peso é maior. Outro ponto a ser avaliado na decisão de ter sócios no negócio tem a ver com o perfil e as competências
necessárias para se dar conta de todas as atividades e funções necessárias aos estágios do empreendimento.

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“Nunca somos bons em tudo! Por isso, ter sócios que se complementem nas competências para as atividades e os desafios que a trajetória empreendedora trará, e que tenham propósito, crenças, valores e visão de futuro convergentes, parece-me uma boa opção. Ainda, o apoio mútuo é muito importante e necessário numa relação de sociedade, pois empreender é bastante desafiador e uma tarefa árdua”, pontua a professora da Unisinos.

3. A prática leva à perfeição

Para se sair bem em jogos eletrônicos, é preciso treinar muito. Migrando para o cenário empresarial, o empreendedor precisa estar em constante atualização. Vanessa afirma que estar em constante evolução é imprescindível no mundo VUCA, acrônimo em inglês que significa volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade.

“A única certeza é a mudança, que a cada dia é mais acelerada. Quem para no tempo e resiste à mudança, tende a ficar para trás. Por isso, o empreendedor deve estar constantemente aprendendo e se desenvolvendo, tanto pessoal, quanto profissionalmente, por meio de livros, cursos de qualificação, eventos, mentorias e trocas com outros empreendedores e profissionais, sem se esquecer das atividades que possibilitem ampliar o seu autoconhecimento”, completa Vanessa.

4. Não se esconda

Quando se fala em sobrevivência, muitas vezes a primeira estratégia que vem à mente é se esconder. Em Fortnite Battle Royale, contudo, ficar escondido impede o jogador de interagir com outros gamers e, consequentemente, aprender mais sobre o jogo. Um empresário também precisa ser corajoso, não
ter medo de errar e inovar. Sair da zona de conforto é fundamental em um negócio hoje.

“Acredito que o empresário, especialmente no Brasil, tem que ser resiliente, estar atento a todas as mudanças. Não existe zona de conforto no mundo do empreendedorismo, seja por conta do próprio mercado concorrente ou do desafio da economia, sempre há um elemento novo despertando ou
oportunidades ou riscos”, pontua Camargo.

Errar e aprender rápido, com menos tempo, esforço e recursos, faz parte do mindset e do “jeito de ser” startup, que nada mais é do que um negócio de base tecnológica, no qual uma equipe está em busca de um modelo de negócio repetível e escalável, em condições de incerteza.

5. Não se deixe cegar pelo sucesso

Uma boa jogada em Fortnite Battle Royale pode deixar o gamer confiante demais e fazer com que ele se coloque numa situação de perigo logo em seguida. Nesse mesmo sentido, um empresário não deve nunca se acomodar, ainda que a empresa esteja indo bem, registrando bons resultados.

Vanessa Batisti fala que independência e autoconfiança são características importantes do comportamento empreendedor. Somadas a doses de coragem, elas empoderam o empresário a tomar decisões – e arcar com elas. Mas, como tudo em excesso, essa confiança pode “cegar” o empreendedor, fazendo, além de tudo, com que ele pareça arrogante e prepotente.

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“É a armadilha da competência! Por isso, mesmo que os resultados da empresa sejam positivos e expressivos, manter-se com os pés no chão e com uma atitude de melhorar continuamente pode diferenciar e consolidar os empreendedores no mercado. Até porque ninguém é tão bom que não possa ser ultrapassado. Isso vale para produto, o serviço, o atendimento, a experiência do cliente/beneficiário/usuário, o ambiente de trabalho para os colaboradores, o impacto gerado pelo negócio, etc”, alerta Vanessa.

6. Escolha as ferramentas certas

No game, o jogador tem a possibilidade de trocar suas armas por outras mais eficazes. É preciso, antes, conhecer cada artefato, seus benefícios e qual é o momento certo de usar cada um deles. Para gerir uma empresa, o profissional precisa conhecer as “ferramentas” indispensáveis para conduzir o negócio da melhor forma possível. “Eu acho que a melhor ferramenta para uma boa gestão são as pessoas.

Pessoas em primeiro lugar, processos em segundo. Essa é uma boa dupla de “Ps” que ajudam muito, que são boas armas para encarar ‘inimigos’ ou cenários competitivos de uma maneira um pouco mais de igual para igual. Muitas vezes, os próprios assets das empresas são as pessoas. Trabalhar em uma boa empresa, com uma gestão ruim, é péssimo. Às vezes, é melhor você trabalhar em uma empresa que não pareça ser tão boa, mas com um bom gestor. Defendo muito essa questão da formação de equipe e essa relação muito pessoal de respeito com as pessoas que vão formar o time”, diz Guilherme
Camargo, da ESPM.

Vanessa Batisti concorda. Para ela, as pessoas são a maior fonte de geração de valor e diferenciação que as empresas podem ter. Por isso, são indispensáveis para qualquer gestão e operação de negócios. Em tempos de avanços tecnológicos e com toda a polêmica envolvendo o futuro do trabalho,
não se pode deixar o humano, as emoções de lado. “São as pessoas competentes e motivadas que farão a diferença na sua empresa e para os seus clientes. Saber quem e por que contratar, para quais
desafios, além de como mantê-los motivados e competentes, é um ponto que diferencia um empreendedor do outro. Depois das pessoas, destaco, nesta ordem, o capital intelectual – conhecimento – e o tecnológico, os quais facilitam a gestão nos seus diferentes níveis – estratégico, tático e operacional”, finaliza.

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