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- Nesta terça-feira (18), acionistas da Light (LIGT3) devem tomar uma decisão importante
- Em Assembleia Geral Extraordinária (AGE), marcada para às 11h, os investidores podem definir a nova composição do Conselho de Administração da companhia
- Para debenturistas, novo Conselho pode ser importante para negociações. Já a Light acusa representantes de debenturistas de conflito de interesse
Acionistas da Light (LIGT3) tomaram uma decisão importante nesta terça-feira (18). Em Assembleia Geral Extraordinária (AGE), os investidores aprovaram a nova composição do Conselho de Administração da companhia.
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A reunião foi convocada pela WNT, gestora que chegou recentemente à posição de maior acionista da empresa após uma aquisição agressiva de ações. Para efeito de comparação, a participação da WNT na Light era de 10,02% até maio deste ano. A fatia atual corresponde a 28,06%, acima dos percentuais de Ronaldo Cezar Coelho e Carlos Alberto Sicupira, antigos acionistas de referência na empresa.
Foi a WNT também que apresentou a relação de novos nomes para os cargos, agora aprovados. No mercado, é ventilado que a gestora tem uma possível ligação com o empresário Nelson Tanure, que também deve passar a ocupar uma cadeira no Conselho.
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Debenturistas no foco
A alteração no Conselho acende uma esperança em José Roberto Castro Neves, sócio do FCDG Advogados. O escritório assessora um grupo de gestoras de fundos de investimentos com cerca de R$ 5 bilhões em debêntures da Light que está insatisfeito com o direcionamento da atual diretoria.
“Haverá uma dança das cadeiras importante lá dentro e esperamos que isso traga novas luzes à discussão sobre a recuperação judicial”, afirma Castro Neves. A expectativa é de que os novos interlocutores estejam mais dispostos a negociar com o grupo. Desde o início do ano, debenturistas e a concessionária de energia vivem uma queda de braço.
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Em primeiro lugar, esses credores enxergam a recuperação judicial (RJ) da Light como ilegal, já que, pela lei, concessionárias de energia não poderiam utilizar o recurso. Entretanto, para ter acesso à RJ, a empresa fez a petição por meio de sua holding “Light”, estendendo os efeitos às subsidiárias.
Eles também não consideram razoáveis as propostas apresentadas pela Light na última sexta-feira (14), no âmbito do plano de recuperação judicial da companhia. O documento traz seis opções de pagamento aos credores – uma delas com desconto mínimo de 60% nos débitos para participantes de “leilão reverso”. O maior incômodo dos debenturistas, entretanto, foi a suposta não inclusão dos antigos acionistas de referência – Coelho e Sicupira – nessa conta.
“Não há nenhum sacrifício dos acionistas no plano. O conceito de recuperação judicial é de que todas as pessoas se sacrifiquem para a companhia sobreviver. E os acionistas, que são igualmente interessados na sobrevivência da companhia, não fazem nenhum esforço. Não tem nenhum aporte de capital ou diluição da sua participação societária”, questiona Neves.
Para ele, a solução para colocar fim às discussões entre debenturistas e a Light envolve um diálogo mais transparente – por isso, a troca do conselho soa como uma possível oportunidade. “A solução é um estudo comum, transparente, de viabilidade da companhia. É um caminho que haja um sacrifício de todos, no limite do razoável. Ou seja, não é o caminho proposto no atual plano”, diz Neves.
Light eleva o tom
Em posicionamento enviado ao E-Investidor, a Light elevou o tom em relação ao grupo de debenturistas. De acordo com Luiz Roberto Ayoub, sócio do Galdino & Coelho, Pimenta, Takemi, Ayoub Advogados, representante da empresa, afirma que o plano de recuperação judicial não é ilegal e que atende à pluralidade de credores da companhia. Ou seja, um pool de 40 mil investidores pessoa física, 250 fundos de investimento e 10 instituições financeiras.
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Ele acusa os representantes do comitê de debenturistas de conflito de interesse. “Um pequeno grupo de credores fala em irregularidades, mas foi um dos advogados deles que contratou uma assessoria da qual também é sócio”, afirma Ayoub. O escritório Lefosse, que também representa os debenturistas, subcontratou a BeeCap para a assessoria financeira do grupo. Entretanto, há um advogado da Lefosse, Bernardo Carneiro, que também seria sócio da BeeCap, por isso o questionamento da Light.
Entretanto, em nota, a Lefosse informou que a participação de Bernardo Carneiro na Bee Capital se encerrou em julho de 2022, muito antes da contratação da empresa pelos debenturistas. A ele restaria uma única cota do capital social da empresa para que receba "valores de períodos anteriores a 2022".
"Todas as contratações e subcontratações de serviços — inclusive da Bee Capital — foram feitas após pedido e aprovação dos debenturistas, por ampla maioria, como comprovam as atas das reuniões. O Lefosse não teve nenhuma participação nesta escolha, tampouco na indicação ou nos honorários, que foram negociados diretamente entre os principais gestores e a Bee Capital", afirma o escritório.
O representante da Light acusa ainda os advogados dos debenturistas de promoverem manobras nas AGEs, que “flagelaram pequenos investidores”. “O autointitulado representante dos credores devia ler melhor o plano de recuperação. Também devia aproveitar para explicar os honorários de R$ 35 milhões da BeeCap, contratada por um escritório de advocacia que tem entre seus sócios um sócio da própria BeeCap. Este tipo de conduta é que lesa de verdade os investidores”, diz Ayoub.
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De acordo com documento sobre a proposta da BeeCap aos debenturistas, ao qual o E-Investidor teve acesso, a remuneração do escritório seria de R$ 35 milhões em caso de recuperação integral dos créditos. No cenário de reestruturação de dívida, o mais provável, a BeeCap deve levar R$ 15 milhões em honorários.
Por último, a empresa não vê os acionistas como ilesos à recuperação judicial. Segundo o advogado, os principais investidores da Light injetaram R$ 3 bilhões na empresa nos últimos quatro anos em função das dificuldades financeiras enfrentadas. Neste período, os papéis cederam mais de 60%.
“A Light pagou aos credores R$ 4 bilhões em juros e amortizações entre outubro de 2021 e março de 2023. Se tudo isso não bastasse, o plano de recuperação contempla diluição de R$ 3 bilhões para os acionistas”, diz o advogado da concessionária de energia.
Queda de braço
No mercado, não há unanimidade sobre quem tem razão na queda de braço entre os debenturistas e a Light, nem sobre as propostas em torno da recuperação judicial. Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos e pós-graduado em análise financeira, não concorda com os apontamentos dos debenturistas. “Eles emprestaram o dinheiro à empresa porque quiseram. São os credores que aprovam o plano, pelo menos 50% deles, mais um, devem ser a favor. Se o credor está reclamando, é só não aprovar, e aí a Light ficará em uma situação um pouco complexa", diz.
Brasil reforça que uma das propostas da Light no plano de recuperação judicial inclui o pagamento em ações a credores, o que deve diluir os acionistas principais. “Em uma diluição, as ações costumam cair mais, então há um impacto sobre o acionista também”, afirma. “No geral, as propostas parecem ‘ok’, mas quem vai dar o voto final é o credor.”
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Já Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club, afirma que a Light conseguiu driblar o mecanismo da lei que proíbe concessionárias de energia de entrarem em RJ, o que pegou de surpresa os investidores e desagradou o mercado. “No plano de RJ, a empresa isentou os acionistas de referência e jogou no colo dos debenturistas a situação financeira da Light”, afirma Bassotto. “A crítica dos debenturistas faz total sentido e talvez essa situação possa começar a se reverter a partir de hoje, com a votação da nova composição do Conselho de Administração.”
O nome de Nelson Tanure para um cargo no Conselho é bem visto por Bassotto. “Seria importante na visão dos debenturistas e do mercado. Ele também pode tentar uma recapitalização para reorganizar as finanças da empresa e não prejudicar tanto os debenturistas”, diz o analista.
Heitor Martins, estrategista de investimentos da Nexgen Capital, tem uma visão positiva sobre a recuperação judicial da Light. “A apresentação desse plano inicial tende a ser positiva, apesar dos pontos adicionais que os debenturistas trazem. Até porque é fato que a maior parte do prejuízo ficaria com eles”, diz. “É natural que a Light vá apresentar um plano benéfico para a própria empresa.”